segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O mágico de Oz de L. Frank Baum


Eu lembro das circunstancias nas quais "O mágico de Oz" me foi apresentado. Foi em uma apresentação de trabalho na escola durante o 2º ano do Ensino Médio. Uma das minha colegas de turma leu e apresentou a sala a leitura em uma tarde assim como essa, em pé no lado direito da sala. A apresentação foi legal, eu fiquei com vontade de ler o livro, li, o tempo passou e de repente senti vontade de  caminhar novamente pela estrada de tijolos amarelos com Dorothy, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Foi como se Oz estivesse me chamando de volta e eu voltei!


Foi maravilhoso encontrar novamente a Dorothy e o seu cachorrinho Totó e viver com ela sua jornada mágica na Terra de Oz onde espantalhos ganham vida, leões falam e homens feitos de carne e sangue podem se transformar em homens de lata... Uma terra na qual não existem fadas, apenas bruxas que podem ser boas ou más, mas sempre são poderosas e o único mago é um farsante, não por escolha própria, mas por imposição cultural, afinal as pessoas pedem a Oz o impossível e como conseguir o impossível sem um pouco de imaginação e muito de farsa?!?!

Toda a história de Dorothy e do seu cachorro Totó começa quando um tufão arranca a casa na qual ela vive com tia sua amada tia Em e seu tio Henry no meio do Texas e a leva para a Terra de Oz onde ela aterriza em cima de uma bruxa má da qual só sobra um par de sapatos prateados que passa a pertencer a menina. Depois disso começa sua jornada, ninguém sabe como ela pode voltar para casa, então dizem a ela para procurar o "Grande e Terrível Mágico Oz" na maravilhosa "Cidade das Esmeraldas" na qual ela vai chegar se caminha pela estrada de tijolos amarelos.


Sem muita demora a menina se arruma e se lança em sua aventura e vai ao longo do caminho encontrando os seus lendários companheiros de caminhada:

O Espantalho que deseja desesperadamente um cérebro com o qual possa pensar!


O Homem de Lata, que deseja desesperadamente um coração com o qual possa amar!


E um Leão medroso que deseja desesperadamente uma dose de coragem com a qual possa enfrentar a vida na selva com os outros animais sem está continuamente os espantando.


Juntos eles vão caminhando pela estrada e enfrentando os desafios oferecidos por ela como: buracos, rios, precipícios, plantas venenosas. Fica claro que sozinho nenhum dos cinco conseguiria ir muito longe, mas juntos eles conseguem vencer os desafios impostos pela natureza e por incrível que pareça o Espantalho demonstra ser bem inteligente, o Homem de Lata ter um coração imenso e o Leão uma incrível capacidade de enfrentar seus medos quando precisa ajudar seus amigos.


Quem não prometia nada e subestimava suas habilidades mostra-se capaz de enfrentar e vencer desafios, já quem prometia muito como o Poderoso Mágico Oz... Bem, não vou dar spoilers, vai que alguém ainda não leu.

Sobre o autor, preciso dizer que L. Frank Baum em um segunda leitura se mostrou ainda melhor que na primeira. O seu texto é claro, descritivo e mágico, ele nos leva para esse outro mundo mágico e nos prende. Também é encantador perceber o quanto o texto não é pedagogizante. Tudo em "O mágico de Oz" é lúdico e se a história de Dorothy, Totó, Espantalho, Homem de Lata e Leão Covarde tem uma lição para os leitores isso quem ler vai descobrir sozinho, através de sua capacidade de interpretar o texto.

Talvez um dos motivos pelos quais esse livro se tornou um clássico infantil seja o fato de que o autor não comete o crime literário de duvidar da capacidade infantil de compreender as entrelinhas. E como há entrelinhas no texto de Frank Baum! 

"O magico de Oz" me convidou a pensar como costumamos duvidar da nossa capacidade, como muitas vezes esperamos encontrar em alguém ou algo uma resposta que já existe em nós... Também me lembrou que amizade é algo que se constrói enquanto caminhamos e algumas permanecem apenas por alguns instantes e outras pela jornada inteira. Me fez pensar que de vez em quando é normal sair da estrada, adormecer no caminho, se perder, mas nesses momentos, caso a gente queira voltar para casa, é preciso voltar a estrada e seguir até a Cidade das Esmeraldas e além dela. Não por acaso existe adaptações e mais adaptações desses clássico.


Adoro o musical de de 1939, Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Jack Haley, Bert Lahr, Billie Burke e Margaret Hamilton. Não canso de rever e me encantar com as músicas e de me sentir arrebatada pela interpretação dos atores. A hq publicada pela Editora Farol também é bem fofa, uma adaptação bem fiel a obra original.

Ah, antes que esqueça, preciso dizer que amei ler edição de bolso da Zahar, ela é pequena, cabe na minha mão direitinho e tem as ilustrações originais... me deu uma sensação de ter voltado no tempo... 

sábado, 14 de janeiro de 2017

5 Listas de 5 Livros


A Menina das Ideias, Aleska, inventou recentemente um desafio em sua page no facebook, o primeiro desafio foi escolher 5 livros favoritos, mas quem disse que eu conseguia fazer a lista? 


Para me ajudar a cumprir o desafio a Aleska me sugeriu fazer várias listas de 5 livros e dentre elas tirar os livros escolhidos para meu top 5. Eu fiz o exercício e gostei do resultado, assim resolvi registrar aqui as ditas listas.

5 Livros Favoritos


"Stardust" (Rafael nunca vou agradecer o suficiente por essa edição ilustrada) é um conto de fadas para adultos, no qual a arte de Charles Vess e a escrita de Neil Gaiman se uniram para compor uma obra prima. "Quando as bruxas viajam" do Terry Pratchett e um livro no qual humor, critica social e filosofia conseguem se juntar de um jeito... Putz, não canso desse livro. "Desejo a Meia-Noite" foi o primeiro romance histórico que me encantou, depois dele me encantei pelo gênero e Lisa Kleypas virou uma de minhas autoras favoritas. "Orgulho e Preconceito" dispensa comentários, Jane Austen criou personagens incríveis, encanta gerações, é genial. Na verdade meu livro favorito de Fernando Pessoa é "O eu profundo e os outros eus", mas ele está com a V então coloque a "Antologia Poética" publicada pela L&PM, é simples e linda para servir como representante!

5 Romances de Época


"O último dos canalhas" é um dos melhores romances do multiverso, a Loretta Chase consegue é uma autora divertida e emocional, eu morro de ri com os textos dela e também consigo chorar. Já falei de "Desejo a meia-noite", mas não me satisfaço até dizer que o cigano Can com sua pele de ébano é o meu favorito entre os favoritos. "Nove regras a se ignorar antes de se apaixonar" é tão perfeito que dois meses depois de ter terminado de ler me peguei relendo. "A rosa do Inverno" é um livro tão bom que mesmo tendo me dado uma bela crise alérgica (minha edição é velha e oxidada) eu li até o fim e ri e chorei. "Ligeiramente Casados" é o vol. 1 da Série Os Bedwyns e é o meu favorito pois abre uma série na qual os mocinhos são tão conscienciosos que eu sempre digo que eles leram "O contrato social" do Jean-Jacques Rousseau.

5 Histórias em Quadrinhos


"Ms. Marvel: Nada Normal" foi a HQ responsável por me levar para o mundo das heroínas, comprei por ter achado interessante a ideia de uma  heroína não branca, imigrante paquistanesa e muçulmana, não me arrependi. "Sinal e Ruido" foi a primeira HQ na qual vi em ação a dupla Neil Gaiman e Dave Mckean, é um livro perturbado, daqueles que a gente leva mil vidas para digerir e na milesima primeira vida ainda vai se surpreende com alguma coisa. "O apanhador de nuvens" é uma coisa linda da vida, uma história na qual magia e vida real se misturam e levam o leitor a um estado de encantamento Beka e Marko brilharam nesse trabalho. "Eu mato gigantes" é simplesmente perfeito! Barbara é uma Dom Quixote adolescente cheia de imaginação que foge a todo padrão, ela é enternecedora. "O jardim das palavras" fala sobre amizades improváveis e o quanto um pouco de empatia e compreensão podem nos ajudar a sair do buraco.

5 HQs de de Heroínas 


2016 foi o ano no qual descobri as heroínas Marvel e DC, elas invadiram a minha estante começando por Kamala Khan a Nova Ms. Marvel por isso ela reapareceu nessa lista com "Ms Marvel: Nada Normal". "A sensacional Mulher-Hulk" tem lugarzinho especial no meu coração, gosto muito do jeito que ela se aceita nessa história e é toda empoderada. "Mulher-Maravilha Sangue" é uma das melhores coisas do Novos 52 da DC foi minha primeira experiencia com ela e eu me apaixonei. A "Elektra" da Nova Marvel não tem um roteiro primoroso, mas a arte de Michael Del Mundo é algo para se ter na estante, pois enche os olhos. "Viúva-Negra" é uma heroína densa, com uma história cheia de mistérios, confesso que os conflitos emocionais de Natasha Romanov me emocionaram, ela tem um lugar no meu coração e estante.

5 Clássicos


Essa foi uma lista difícil de ser feita! Eu gosto muito de ler livros centenários, gosto de viajar no tempo, não escolhi História para ser a ciência da minha vida aleatoriamente. Comecei por "Os três mosqueteiros" porque Dumas-Pai é um autor com um senso de humor irônico MARAVILHOSO. Adoro como ele debocha das monarquias francesa e inglesa, como explora a vida cotidiana e tem Milady, a melhor vilã de toda literatura. "Razão e Sensibilidade" é aquele romance de Jane Austen que as pessoas costumam conhecer depois de "Orgulho e Preconceito" e se apaixonar mais ainda pela inglesa, gosto mais de Elinor Dashwood que de Elizabeth Bennet. Já odeie "O morro dos ventos uivantes", mas o tempo passa e nos tira os excessos e faz com que compreendamos a beleza do mundo austero, duro e nu de Emily Bronte. O "Livro das Mil e Uma Noites" dispensa apresentações, mas preciso dizer que é a melhor aula de Idade Média que você respeita, com cada história escabrosa. Nenhum manual de história chega aos pés! "Poetas e Escritores Românticos do Brasil" é o livro cujo texto releio há mais de 10, tenho textos decorados, cito as vezes e não canso da intensidade emocional desses homens maravilhosos, apaixonados e as vezes tão ingênuos.

Enfim, é isso. 5 listas com 5 livros.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

No Dia 8 de Dezembro, TODOS os caminho levavam ao Morro da Conceição

Durante a primeira semana do mês de dezembro, qualquer observador da vida cotidiana do Recife tem a nítida sensação de que todos os caminhos levam ao Morro de Nossa Senhora da Conceição. Eu, ao menos, tenho!


A Festa religiosa que ocorre em torno a devoção a imagem de Nossa Senhora da Conceição localizada no alto do Morro da Conceição é algo muito central para qualquer pessoa que more na Zona Norte da cidade, é impossível não ser notada de um jeito ou de outro. Pessoas de todos os lados da cidade e região metropolitana se deslocam em debandada de todas as formas possíveis para se encontrar com uma imagem gigante da Virgem localizada no topo do morro levando a Ela pedidos e agradecimentos.

Consequentemente, aos pés do morro se concentra uma infinidade de comerciantes ambulantes vendendo todos os tipos possíveis e imagináveis de coisas, assim como uma infinidade de brinquedos meio caindo aos pedaços mais suficientemente consistentes para não causar grandes acidentes.


Durante toda minha infância eu desejei ir ao menos uma vez a "Festa do Morro". Não pela devoção, pois desde que me lembro congrego em uma vertente neopentencostal do cristianismo e me foi incutida uma solida descrença na capacidade dos santos de obter graças diante de Deus, mas sim pela festa em si, pela diversão, pelos doces, pelos brinquedos. Muitas crianças de mina denominação religiosa com pais mais liberais iam, todas as crianças não evangélicas iam, por trinta anos eu não fui. Mas, quando vi todos os ônibus adornados com a placa "FESTA DO MORRO", não resistir!

Me vesti com meu espirito de Sindbad e na companhia da minha amiga Mercia resolvi desbravar um espaço estrangeiro para mim em minha própria terra. Foi maravilhoso!!!!


Subir o Morro da Conceição em dias de Festa do Morro não foi só uma experiencia de satisfazer um desejo infantil de me empanturrar de doces, espetinhos, rapadinhas, pasteis, refrigerante e sorrisos infantis. Depois de passar uma vida me dedicando ao estudo da História foi também uma experiencia antropológica e cultural, foi interessante vê a diversidade de gênero dos visitantes que Nossa Senhora recebe com seu rosto congelado em uma expressão de longanimidade eterna, gente com pé no chão, ajoelhada, com tijolos na cabeça, com velas e mais velas, muitas crianças pequenas vestidas de azul. Os filhos postiços da Virgem do Morro parecem ser pessoas de desejos simples como acolhimento, moradia e saúde para seus filhos.


Interessante também foi perceber como muita gente faz da festa simplesmente um momento de diversão ou de arrecadação de fundos para ajudar nas inúmeras providências necessárias para o romper do ano como pintar a casa, restaurar moveis, comprar novos lençóis, toalhas de mesa e de banho, sapatos, roupas para as crianças. As providências de fim de ano não são apenas caprichos, elas precisam ser funcionais, afinal o ano é longo e cheio de horrores, para alguns a crise é perpetua.


Há quem pense que a multidão pensa com uma mente só, um tipo de manada rumo a uma fonte d'água incerta, mariposas em torno de uma luz. Enquanto eu me juntava a multidão que sobe o Morro da Conceição me ocorreu estarem essas pessoas erradas sobre a multidão. A multidão não pensa coletivamente, ela congrega pessoas com anseios, desejos e motivações diferentes, na Festa do Morro vi pessoas interessadas em sua devoção, pessoas interessadas em agradecer e pedir graças a Ela, pessoas que estavam ali só para vender qualquer coisa - brinquedos/comida/sonhos, pessoas interessadas em se divertir sozinha ou com amigos, pessoas prontas para consumir o máximo possível de bebida alcoólica.


Foi uma experiencia interessante, me sentir vivendo algo meio fora do tempo e do espaço. Algo que se repete ano após ano há mais de cem anos. Algo me diz, meu conhecimento histórico talvez, que festas realizadas próximas aos solstícios e equinócios existem desde o surgimentos dos primeiros humanos nesse planeta girante, mas eu nunca havia participado de nenhuma, então teve ares da magia para mim. Posso ser que eu seja apenas essa pessoa estranha que sou com minhas impressões estranhas da vida, mas havia qualquer coisa de diferente no ar, no entardecer, nas várias  pessoas misturadas com suas várias expectativas.


Outra coisa a se dizer é que essa foi a 106ª Festa do Morro de Nossa Senhora da Conceição e foi a primeira ocorrida depois da Arquidiocese de Olinda e Recife terem reconhecido essa Igreja localizada nos recôncavos da Zona Norte do Recife como um Santuário. Ou seja, essa devoção, essa festa, é algo construído pelas pessoas, as autoridades tiveram que engolir e aceitar.


Uma amiga católica me disse, ciente de que eu ia essa ano e um pouco receosa do meu olhar critico, que a Igreja Católica Apostólica Romana não aprovava muitas das situações protagonizadas pelos fieis. Mas, enquanto eu observava a situação toda com meus próprios olhos me ocorreu que Nossa Senhora é mãe e as mães entendem muita coisa.


Todo esse texto foi escrito enquanto eu ouvia Barbara Bonney cantando a Ave Maria de Schubert, uma canção especial para mim não por questões de devoção, mas sim de memória. Eu cursei a maior parte de meu Ensino Fundamental e Médio no período da tarde, quando largava ouvia o auto-falante de alguém, sempre as seis da tarde tocando essa música. Essa música embalou meu entardecer por anos e o entardecer segue sendo minha hora favorita do dia.

E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
(Apocalipse 12:1)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Era uma vez uma turma que dava muita dor de cabeça...


Era uma vez uma turma que dava muita dor de cabeça, cheia de energia costumava tirar a professora do sério quase todos os dias.

Era um tal de "fulando vai para a direção agora!", "sicrano para com isso!", "meu filho o que é isso?" e muitas coisas do gênero...

Mas, o tempo foi passando... passandooo... Um ano e depois o outro e mais outro... e as dificuldades foram dando lugar aos sorrisos, as muitas discussões acaloradas, aos debates constantes, ao aprendizado... revisões... provas só por formalidade, afinal aprendizado a gente vê no cotidiano e não em uma folha de papel.

Construímos aos trancos e barrancos muitos momentos de felicidade enquanto falávamos de história, animes, filmes, absurdos, como egípcios brancos, imperialismo, evolucionismo cientifico, e coisas do gênero.

Foi uma linda experiencia... As vezes eu morria de amor, as vezes tinha vontade de sair correndo... As vezes conseguia ir longe, as vezes não saia do canto por longos dias... Faltou China e Oceania no nosso cronograma, sobrou bons papos, diálogos incríveis... crescimento conjunto.

Reencontrei o prazer de exercer meu oficio com o 6º B de 2014, que virou 7º B em 2015 e 8º B em 2016! Nem preciso dizer o quanto amo esses peraltas maravilhosos!


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ainda há coração

É engraçada essa coisa chamada vida adulta. Ao longo dela deixamos coisas e mais coisas para trás e chegamos a ter certeza, jurar de pé junto, o quanto tudo que ficou para trás por nossa livre e espontânea vontade não tem mais a minima importância...

Porém, em um susto, quando menos esperamos, em um movimento inesperado do vento, do rosto, da página, do clique descobrimos absurdados de espanto o quanto nos enganamos. Como canta o Alceu Valença, "a gente se ilude dizendo já não há mais coração".

Atualmente a música Coração Bobo tem embalado vários momentos da minha vida. A constatação do obvio contida em sua letra misturada com os sons da orquestra e da voz do Alceu me dão uma sensação de alivio e ainda me fazer mexer a cabeça hahaha \o/