Existem formas e formas de se relaxar quando se está vivendo um momento de grande pressão, tensão ou que quer que seja... Hoje minha forma de relaxar foi organizar meus livros eternamente bagunçados!
É sempre tão melancólico organizar livros... parece que as histórias brotam deles.... tantos as histórias contidas neles quanto as histórias que a gente viveu enquanto lia cada um deles... as pessoas que se ligaram a nós através deles.
A minha edição velha de guerra de "Os novos trajes do Imperador" de Hans Christian Andersen testemunha de um tempo em que eu lia livros infantis na biblioteca com minhas amigas durante as aulas vagas... era ótimo. Esse hábito que marcou nossa vida escolar começou no dia em que elas perguntaram para onde eu ia quando eu sumia, respondi que estava na Biblioteca, um dia todas elas apareceram lá, gostaram e ficaram, vcs entendem se eu disser que no começo eu gostava e não gostava ao mesmo tempo?!?!?
Outro reencontro memorável foi com Danielle Steel, "O anel de noivado", esse livro foi presente de Vanessa... já faz um tempinho... quase dez anos, eu sinto falta de Vanessa, sinto falta dessa leitura... Meu Deus... como minhas amigas eram barulhentas... como era bom ser adolescente quando eu estava com elas! Mesmo com todos os "mas e menos mas" era bom estar com elas e ler Danielle Steel e comentar com elas...
"Doze Reis e a moça no labirinto do vento" foi outro presente, foi presente de Natally... Marina Colasanti, escreveu e ilustrou um livro de contos infantis lindo, lírico, doce... com um gosto de sonho!!!
Muitos dos meus livros estão cheios de histórias entranhadas neles, não só as que os autores contam... eles tem vida própria e deles saem borboletas, girassois, passarinhos, corvos, sons, lágrimas, sorrisos, dores e alegrias que foram vividas enquanto as histórias eram lidas. Ao menos eu sinto boa parte dos meus livros dessa forma, através do que vivi durante a leitura e como a leitura afetou ou não a experiência que vivi!!!
E, para além do tchim... tchim... que cerca o mexer nos livros, sempre surgem novas histórias... novas lembranças para os próximos momentos em que eu for mexer neles. Cada titulo de um livro é na verdade uma senha para um mundo de lembranças, como no titulo do livro de poesias de Drummond que eu ofereci para a apreciação de Júlia hoje.
Júlia é uma criança doce, das muitas crianças doces que enchem minha casa, de todas ela é mais silenciosa, ri baixinho, fala baixinho, tem aquela delicadeza que todas as mulheres sonham ter e só algumas realmente tem naturalmente; quando ela me viu mexendo nos livros logo se juntou a mim, quando eu a vi mexendo nos livros logo ofereci "A senha do mundo" de Carlos Drummond de Andrade, pq se é para encontrar com a literatura tem que encontrar direito néh?!?!
A senha do mundo é um livro de poesias que remetem a infância, mas não essa infância do século XXI e sim a infância que se vivia no inicio do século XX... Drummond fala, eu acho, sobre coisas que marcaram a infância dele... o lago tão grande quanto o mar, as mãos que faziam um doce que, mesmo que ele use os mesmíssimos ingredientes, hoje não consegue alcançar o mesmo sabor, o primeiro automóvel que chegou na cidade dele... tantas outras coisas típicas de uma infância de outros tempos... Um livro lindo demais... é claro que minha a escolha foi consciente.
E é claro que o livro que ela escolheu livremente e conscientemente foi uma edição de "Para Gosta de Ler Poesias", presente de uma amiga pedagoga, ela foi direto ás poesias de Vinicius de Morais néh?!?! As poesias de "A Arca de Noé" continuam encantando gerações. Não tem erro, as crianças amam a sonoridade de "era uma casa muito engraçada... não tinha teto não tinha nada" e de um Relógio "tic tac... tic tac... dia e noite... noite e dia...".