sábado, 20 de setembro de 2025

"Rita Lee: outra biografia" de Rita Lee

Recentemente fui surpreendida positivamente quando um dos meus estudantes chegou para mim uma edição de "Rita Lee: outra biografia" em mãos. Ele trouxe o livro para me emprestar. Gostou muito da leitura e achou que eu também iria gostar, então trouxe para me emprestar. Não consigo nem mesmo expressar o quanto essa atitude me emocionou em camadas, senti o doce, muito doce, sabor da vitória. Eu perco muitas batalhas como professora, mas, vejam só, não perco todas. Meus estudantes leem e me emprestam livros. Isso foi tão legal!


Rita Lee foi uma mulher icônica, uma inspiração para todas as mulheres brasileiras em luta pela liberdade de ser e estar no mundo. Cresci ouvindo suas músicas e admirando a postura dela diante do mundo. Lamentei sua partida, chorei vendo seu marido no Fantástico e sou do time das pessoas que gostariam que ela ainda estivesse entre nós, desde que com saúde para continuar sendo quem ela sempre foi. Sendo assim foi uma experiência muito gostosa ler suas palavras.
"Entendo perfeitamente o que o Nelson Rodrigues dizia com 'jovens envelheçam!'. Trocamos a pele de cobra em vez de rejuvenescer por fora, renascemos por dentro, ficamos mais atentos, mais próximos da morte, e isso nos faz questionar e buscar informações que só agora parece fazer mais sentido." (pág. 27)
Em "Rita Lee: outra biografia" encontrei uma narrativa sincera e sem floreios de uma mulher que passa pelo processo de descoberta de um câncer já com seus 70 anos e, entre ansiedades e medos, decide enfrentar o tratamento contando com o apoio de seu marido, filhos e uns tantos bichinhos com os quais divide a vida.
"Todo aquele cuidado inédito da minha família para comigo me fez aos poucos concluir que eu realmente era querida por ela e que por isso faria de tudo para que fosse curada." (67)
Trata-se de uma leitura muito gostosa, a Rita Lee escrevia de um jeito muito fluido, a leitura é muito fácil e gostosa. Me peguei rindo e chorando também. Parecia que eu estava ouvindo a própria Rita Lee bem perto de mim contando os episódios de sua história, sua percepção do mundo, suas aventuras na vida. Ela era uma pessoa muito franca, sem máscaras, sincera em seus afetos e desafetos. Acompanhar as memórias, impressões sobre a vida, desejos, sonhos malucos e tudo mais dela foi uma experiência sensacional, tocante até.
"Tenho a benção de morar em uma casinha legal no meio do mato onde a net é a base de querosene e volta e meia cai. Em compensação, convivo com macaquinhos e saruês, tucanos e corujas, maritacas, jacus e sabiás, todos soltos, da mata aqui do lado, e que vira e mexe vêm me visitar.
Outro dia, estava na cozinha preparando uma xícara de café e eis que, quando abri o açucareiro, avistei uma única 'micraformiga' passeando por lá e pensei na trip de paraíso inédito que ela estaria vivenciando.
Imagine você, sozinho, andando numa imensidão lisérgica de nuvens com gosto de algodão-doce. Pensando nisso, não quis cortar o barato dela e deixei o açucareiro aberto, caso quisesse sair e cair na real." (112)
Peguei o livro para ler em um início de noite, já na minha cama, pronta para ler um pouquinho e dormi. Só consegui dormir depois de ler a última linha do livro. Não lembro nem quando foi a última vez que algum livro conseguiu prender minha atenção de forma a me fazer só largar dele depois da última página virada. Foi uma leitura maravilhosa, fui dormir com alegria e saudades de quando no mundo, fisicamente, existia essa mulher chamada Rita Lee e também grata por ela ter deixado um legado tão sincero, verdadeiro, colorido, sem hipocrisia e artisticamente infinito.

Um comentário:

  1. sim, empolgar os alunos para leituras sempre emociona!! parabéns!! eu sempre me sinto estimulada por vc. eu não li nenhuma das biografias da rita lee. um dia vou preencher essa lacuna. ela foi tão transgressora, tem que inspirar mesmo. vc tb. beijos, pedrita

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