Continuo lendo "Todas as Crônicas" de Clarice Lispector nas minhas manhãs de folga, virou um tipo de ritual. Acordo, faço minha higiene matinal, preparo o café da manhã, boto ele na mesa e entre um gole de café e outro vou lendo algumas crônicas dela.
Ler Clarice é uma experiência muito lúdica, ela encontrava-se em pleno domínio de sua escrita no momento em que começou a escrever essas crônicas e isso torna tudo tão bom, mas também é uma experiência didática. Aprendo muito com ela, escuto com atenção as coisas que ela escolhe dizer, procuro entender a sabedoria proverbial de Clarice quando ela se propõe a falar sobre os processos que ela enfrentou e fazem parte da vida humana.
Tentando trazer para mim essas falas onde ela se expressa sobre as coisas que aprendeu vivendo, deixo aqui duas crônicas que se complementam. Uma traz a fatalidade e a outra a felicidade, as duas foram publicadas no sábado, em 22 de Maio de 1971 no Jornal do Brasil.
DESCULPEM, MAS SE MORREMorreu o grande Guimarães Rosa, morreu meu belo Carlito, filho de meus amigos Lucinda e Justino Martins, morreu meu querido cunhado, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Mozart Gurgel Valente, morreu o filho do Dr. Neves Manta, morreu uma menina de 13 anos do meu edifício deixando a mãe tonta, morreu o meu tonitruante amigo Marino Besouchet. Desculpem, mas se morre.MAS, HÁ A VIDAMas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.
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