quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Janelas do meu quarto, 15 anos de blog e uma lista de livros de 2001

"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."

Lembro quando comecei esse blog quinze anos atrás. Estava um pouco triste com um malfadado fim de namoro, um pouco ansiosa com o curso de História em seus últimos arcos, muito cansada de trabalhar na Educação Infantil enquanto estudava loucamente e ainda me dedicava às atividades na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Nova Descoberta II. Era tão jovem, mas já me sentia tão cansada.

O blog foi criado de uma forma muito juvenil, como quase tudo que pessoas com vinte poucos anos fazem. Eu escrevi de um quarto na casa 65-A da Rua Maraú, que na verdade é uma escadaria. Abri o blog foi como abri uma janela, me entendendo como um quarto, de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (e se soubessem que é, o que saberiam?). Ele seria uma janela através da qual eu poderia ver outros quartos e ser vista também. E, apesar de todo esse conceito, no começou essa coisa de escrever na internet me intimidava muito, meus primeiros posts foram bem tímidos, eram mais textos que eu amava e queria guardar em algum lugar.

Fui me soltando aos poucos e trazendo para cá a experiência da escrita de meus diários infantis e juvenis. Comecei a escrever diários com sete anos e nunca parei, no máximo deixei de escrever diariamente e de ter um caderno específico para isso. Escrevo em cadernos novos e velhos, agendas e blocos, escrevo em pápeis que jogo fora em seguida e escrevo aqui. Uma vez, há quase dez anos atrás, um amigo me disse ter tido a impressão de está lendo um diário ao ler minhas postagens. Me pergunto se as pessoas ainda sentem isso. Me pergunto se elas se sentem íntimas, próximas, livres para se expressar na caixa de comentários, caso queiram, lendo meus textos. Se sim, fico muito feliz. Apesar de não escrever diariamente, escrevo com sinceridade. Parafraseando Natalia Ginzburg no  maravilhoso "Léxico Familiar", nesse blog "lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada [...]".

Houveram anos nos quais escrevi muito sobre tudo e qualquer coisa, tem posts muito bobos por aqui. Acompanhei e participei, dentro da minha nula relevância, de muitos debates ao longo desses quinze anos. Escrever me ajudou a racionalizar sobre muitos dos acontecimentos que mexeram com o Brasil, o mundo e comigo. Eu inventei esse blog com vinte poucos anos, aos trinta e tantos sinto que sou, entre muitas coisas, invenção desse blog. Ele me colocou em contato com pessoas muito centrais em minha vida, trouxe dinâmica e amadurecimento para minha trajetória de vida. Leio muito atentamente os comentários e muitos deles me trouxeram norte em momentos nos quais eu estava perdida conscientemente ou inconscientemente. Muito obrigada a todos e todas e todes que deixaram sua colaboração aqui ao longo dos anos.

Como uma janela faz parte do quarto, esse espaço faz parte de mim. Já escrevi aqui com menor ou maior frequência, mas não pensei e nem penso em deixar de escrever, fechar esse espaço. Sinto que se fizer isso hoje, amanhã reabro novamente.

Sendo esse um post celebração de aniversário. Fiquei pensando em trazer para cá alguma coisa dos meus cadernos/diários de quando eu tinha 15 anos. Revirei meus escritos na intenção de encontrar um texto lindo que escrevi dialogando com "O Diário de Anne Frank", antes de terminar a leitura e ficar bem desamparada. Não encontrei esse texto, vou continuar procurando, quando encontrar publico. Os fatos da minha vida cotidiana são pesados demais para serem transcritos, mas encontrei a lista dos livros lidos em 2001 com uma opinião escrita ao lado. Fiquei encantada, vou publicar.

A escola na qual eu estudei a vida toda, era muito frágil em relação aos professores, a minha grade horária era cheia de buracos, tinha muita aula vaga, nunca tive um professor de Química ou Física. Porém, havia uma imensa biblioteca com todo tipo de livros e algumas amigas com dinheiro suficiente para comprar livros e disposição para emprestar. Eu lia bastante e fazia listinha dos livros, anotava a opinião, nessa lista não anotei nomes de autores e autoras.

Livros Lidos em 2001

  1.  O Tempo e o Vento (Ótimo)
  2. Brooke (Ótimo)
  3. Borboleta (Ótimo)
  4. Rio Subterrâneo (Ótimo)
  5. Crystal (Ótimo)
  6. Um só vez na vida (Ótimo) Emocionante
  7. Uma vontade louca (hilário)
  8. 15 Histórias de Natal (Tocante)
  9. O Príncipe Fantasma (leve + ou -)
  10. Risíveis Amores (Ótimo)
  11. Estrelas Tortas (Tocante, valeu a pena)
  12. Do outro lado do espelho (bom)
  13. O mestre-de-cerimônias (Regu Bom, mas não gostei)
  14. Hotel de Luxo (Folhetim)
  15. Dom Casmurro (Excelente, amei)
  16. Força de Vontade (Tocante)
  17. Perto do coração selvagem (Emocionante)
  18. Bufo e Spallanzani (+ ou -)
  19. Fora de Série (Bom, mas não gostei muito)
  20. A Pérola (Excelente)
  21. O Espião que saiu do frio (Ótimo)
  22. Contos de Perrault (Ótimo, doce)
  23. Vida de Droga (Ótimo, tocante)
  24. Bisa Bia, Bisa Bel (Ótimo)
  25. O Diário de Anne Frank  (Tocante)
  26. Memórias Póstumas de Brás Cubas (Excelente)
  27. Raven (Ótimo)
  28. Fugitivas (Tocante)
  29. O Quinze (Tocante em certas partes, ótimo)
  30. Os Cavalinhos de Platiplanto (Tocante)
  31. Contos de Grimm (Muito Bom)
  32. Um marido sexy (Folhetim)
  33. O passado esteve aqui (Lindo e muito bom)
  34. Segredo do Destino (Folhetim)
  35. Longa Caminhada de Volta (1 Lição)
  36. Cenas Brasileiras (Ótimo, Tocante)
  37. Foi Ela Que Começou. Foi Ele Que Começou (Hilário)
  38. A Cor da Pele (Bom, + ou -)
  39. Louco Verão nas Bahamas (Folhetim)
  40. O dia em que nasci de novo (nada expressivo)
  41. Confissões de um presidiário (nada expressivo)
  42. Uma Rosa no Ano 2224 (Banal + ou -)
Enquanto digitava essa lista fiquei com muitaaaaaa vontade de falar sobre as coisas que lembro e não lembro desses livros. Foi uma viagem digitar esses 42 títulos. Nossa! Quem diria que em algum momento da minha vida eu tive poder de síntese! Hoje, cada resenha em um pergaminho. Em outro caderno consta mais coisas sobre esses livros, pelo menos até "Dom Casmurro", pois nele as folhas acabaram. Nessa lista tem livros sobre os quais lembro muita coisa, outros lembro só algumas sensações, alguns títulos são seminais em minha vida, outros não lembro nadica de nada. Alguns pretendo ler novamente, inclusive já comprei a edição. E talvez, poucas coisas falam tão bem sobre mim de uma forma feliz quanto essa lista. Fui muitíssimo feliz com um livro na mão. Ainda sou muitíssimo feliz com um livro na mão. É muito bom usar superlativos para expressar satisfação.

Obrigada a todos e todas que estão aqui comigo, lendo, comentando... passando. Espero ocupar esse espaço por muito tempo mais. Ah, ainda escrevo próxima a uma janela, só que dessa vez é a da sala que também dá para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente.


Ah, em 2001, já amava Fernando Pessoa, tem muito dele em meus cadernos... mas só vim ter em mãos "O Eu Profundo e os Outros Eus" em 2002, quando o professor de Português me emprestou a edição dele.

5 comentários:

  1. Muitíssimos parabéns a esse blog aniversariante!
    Será que consigo expressar a minha satisfação em te ler? Em me sentir próxima de você?
    Eu queria ter tido um caderninho onde marcasse como encontrei cada pessoa da blogosfera, ou elas mesmas me encontraram. Nem vou me esforçar porque minha memória de antemão já mandou o aviso de não perca tempo. Então importa que nos conhecemos nessas janelas e fico tão feliz em saber que nas suas também têm os horrorosos fios suspensos que vejo da minha.
    Jaci, um blog é também uma generosidade de quem o escreve e nos oferece esses momentos que são agradáveis, tristes, que nos marcam e também nos ensinam.
    Tenha certeza, aprendo muito aqui.
    Vida longa ao blog e que a dona dele possa abrir muitas e muitas janelas!
    ( um dia sem fios, eu sonho )
    Beijo!

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  2. amo vistas de janelas, mas aqui onde mora anda só destruição, derrubada de árvores, prédios em construição e patéticos qd prontos. muito desolador. eu comecei o meu blog pra dividir o q via culturalmente já q o meu entorno tava cansado de ouvir falar no tema. agora cada um comenta o assunto de interesse. mas tem sempre alguém pra dividir. tb gostei muito de léxico familiar q comentei aqui https://mataharie007.blogspot.com/2017/10/lexico-familiar.html o tempo e o vento é muito bom mesmo. bom acompanhar as suas memórias do blog q venham muitos anos. beijos, pedrita

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  3. Parabéns pelos 15 anos de blog, que venham outros ainda mais satisfatórios! De vez em quando me vem uma vontade de deixar de lado as receitas de culinária, e passar a falar mais das coisas que me vão na alma, no meu blog. Já tive um blog em que só falava de livros, mas ainda não tive coragem de expor o meu íntimo, rsrs.

    Beijo e bom fim de semana

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  4. UAU! Parabéns!!!!!! É um marco de um tempo recheado de conquistas!
    Desejo tudo de melhor sempre!!!!!!
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  5. Parabéns pelos 15 anos de blog!!! E que você continue escrevendo aqui ou em seus cadernos e papéis soltos por muitos e muitos anos!!!
    Também tenho essa sensação de que estamos abrindo a janela e encontrando janelas abertas neste mundo dos blogs. É uma maneira de se conectar com novos mundos e novas experiências e com nós mesmos também.
    Olha, estou impressionada com a quantidade de livros que você leu. Impressionada! Ainda não consigo ler metade dessa lista no período de 1 ano. Fiquei imaginando a sensação gostosa que você teve de se reencontrar com o seu eu de 15 anos ao achar esta lista.
    Ah! Na parte em que você escreveu "todos e todas e todes" me lembrou uma professora minha muito querida.
    Abração!

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