A parte isso, outro dia, estava passando no Centro do Recife e me deparei com a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. No meio de uma rua comercial, som alto anunciando promoções, sol queimando do corpo a alma... Não perdi a oportunidade e entrei para desfrutar de sua sombra e proteção.
Uma das muitas características do centro do Recife que amo é o fato de parecer ter em cada esquina uma diferente Igreja Barroca. Me pergunto se em algum outro centro urbano litorâneo do Brasil tem tantas igrejas barrocas tão próximas uma das outras. Além da capacidade humana de produzir muita beleza, essa proliferação de igrejas tão juntinhas documenta a característica atroz do processo colonizador de criar uma sociedade hierarquicamente tão desigual que nem diante de Deus as pessoas eram consideradas iguais.
As belíssimas igrejas do Recife, tão amadas por mim, preservam a memória de uma sociedade na qual todos eram obrigados a ter a mesma religião, o Cristianismo Católico Romano, mas não eram ensinados a se perceberem como iguais diante do Jesus Crucificado. Para cada grupo de pessoas, a depender de sua origem e lugar social, há na cidade uma Igreja cujo esplendor ou ausência dele nos ensina sobre a condição financeira e social das pessoas responsáveis por angariar fundos para a construção do templo.
A violência na qual o Centro do Recife arde, para mim, inclusive, é uma herança desse tempos de desigualdade, exploração, escravidão. A forma como a poucos se dava muito e a muitos se dava tão pouco influencia e muito na forma como o presente se apresenta diante de nossos olhos, corpos e sentimentos.
A parte isso, no site do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), se informa que a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares começou a ser construída por volta de 1710, as obras foram terminadas em 1771, mas seu acabamento luxuoso em estilo Rococo só foi finalizado em 1870. O tempo correu, houve momentos nos quais seu esplendor diminuiu, mas recentemente ela passou por uma restauração que lhe devolveu o brilho de seu estilo barroco/rococo setecentista. Ela é lindíssima! Um esplendor! No tumulto do centro, quando passo pela Rua Nova, acho um pecado não desfrutar de tamanha beleza.
Amo encontrar no teto da igreja Nossa Senhora retratando uma interpretação do capitulo 12 de Apocalipse. Desfruto da visão da "Mulher Vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés, coroada de 12 estrelas, pisando uma serpente". Aqui no Nordeste, todas elas são invariavelmente brancas, variando apenas em idade e na forma como seu estado de gravidez é mostrado ou ocultado. Sempre acho muito curioso como os europeus durante a Idade Média conseguiram produzir a imagem de uma família Palestina tão visualmente distante do que era uma família Palestina no século I da Era Comum. Os europeus construíram a imagem dos personagens bíblicos a sua imagem e semelhança e trouxeram para cá essa imagem sem dó nem piedade. E sim, amo como, no Brasil, Nossa Senhora se revelou como uma mulher negra resgatada do fundo de um Rio. E sim [2], apesar de ter sido educada dentro de uma igreja evangélica, um lado meu é sim bastante Mariano.
"E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz."(Apocalipse 12:1,2)
A construção exalar riqueza, é em si uma exposição de poder, sua preservação, na minha opinião, também tem um que de exaltação do pretenso poder do Exercito Nacional. Inclusive, na entrada há um ex voto da Batalha dos Guararapes. Para quem não lembra, houve um tempo no qual a Companhia de Comercio das Índias Orientais pertencente aos Países Baixos invadiu e conquistou o Nordeste do Brasil, em determinado momento a população local saturou-se da presença dos holandeses e inviabilizou sua presença aqui vencendo-os nas duas Batalhas nos Montes dos Guararapes em Jaboatão. A memória dessas batalhas foram usadas durante a História do Brasil Pós-Independência como momento de fundação do Exercito Brasileiro.
Faz pouco mais de um ano que moro em Vitória de Santo Antão e já começo a sentir falta do calor causticante de Recife, de suas ruas repletas de gente, de seu patrimônio histórico religioso lindo e terrível. Me faz falta descer do ônibus afobada ou cruzar uma rua com pressa mortal e me deparar com esses templos gigantes no meio do furor de uma cidade onde é "Sempre Verão".
Coloquei essas imagens aqui no blog em Agosto do ano passado. Queria falar como a Igreja de Nossa Senhora dos Militares ficou lindíssima depois de seu restauro. Celebrar o fato dela integrar o Circuito Recife Sagrado, contar com guias para informar a história dela direitinho para quem visita quando não está ocorrendo missa. A visita guiada é paga, mas a taxinha não é muito cara, se não me engano, é coisa de R$ 5,00. Em Recife, vale a pena conhecer esses templos e ficar por dentro de sua história.
Oi, Jaci,
ResponderExcluirInteressante é que quando estou no nordeste no verão (e o meu marido é nordestino), eu sempre me refugio do calor entrando em igrejas, rsrs. Mas não o faço só por isso, gosto da atmosfera calma e de testemunhar a fé simples das pessoas.Esta igreja é linda (ou ficou mais linda depois do restauro). E o seu relato me deu saudades do nordeste.
Beijo
não conheço recife, muito bonita. tb gosto de entrar em igrejas às vezes pra buscar silêncio e frescor. e as religiões cristãs continuam achando que são as líderes. se há uma missa de sétimo dia todos, mesmo de outras religiões ou sem, acham que por respeito devem ir. sempre pergunto se fosse em um terreiro de umbanda a pessoa iria por respeito. sai em geral um rápido claro que não indignado. ou se vai por respeito a todos os cultos, ou desobrigue quem não é daquela religião a ir. por respeito como adoram dizer.
ResponderExcluirbeijos, pedrita
Tanto há de lindo pra ver no Nordeste todo!Adorei ver essa igreja, tuas explicações pertinentes e realmente essa diferença provocou desde sempre a criminalidade.Recife pra mim, muito perigosa. Fomos roubados por lá há muitos anos atrás. Imagino que infelizmente, esteja pior. Tomara esteja enganada!
ResponderExcluirbeijos, tudo de bom,chica
É tudo tão belo, o que você escreveu, a beleza da igreja em si, mas quero ficar com esta reflexão:
ResponderExcluir"Mas,não eram ensinados a se perceberem como iguais diante do Jesus Cruxificado".
Que coisa incrível, um país que é tão religioso, agora não somente no catolicismo, mas nas outras expressões cristãs e seguir professando em muitas vezes ódio, no lugar que deveria se ter amor.
Beijo!
Olá! Chegando aqui por agora e já estou gostando do clima! Tenho uma vontade imensa de viajar mais pelo Brasil para conhecer lugares incríveis como este que você presentou. Quem sabe me 2023 não eu consiga! Mas, enquanto isso, sigo apreciando sua postagem.
ResponderExcluirMuito grata pela partilha das imagens e da história também foi importante saber um pouco mais.
La mia curiosità è stata esaudita Grazie delle foto e della descrizione storico di questa chiesa veramente molto bella e quella parte inerentoretto in cui parla della Regina dei Cieli e della terra è bello avere la Protezione della madre Celeste anche in Brasile Brasile noi festeggiamo allora l'epifania il 6 di gennaio Quindi auguri
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