segunda-feira, 1 de março de 2021

A satisfação de transferir livros da pilha dos não lidos para as dos lidos

Passei um tempo entre 2014 e 2018 me sentindo muito vazia. Lidei com esse sentimento comprando e lendo livros. A velocidade com a qual comprei superou e muito a velocidade com a qual li, consequentemente faz parte da minha vida atual pilhas e pilhas de livro não lidos, centenas de livros não lidos. Tenho tentado lidar com essa pilha da única forma possível: lendo um livro por vez. Ainda falta muito para diminuir essa pilha, mas fevereiro chegou ao fim e nesse primeiro dia de março olho para minha mesa, vejo espaço vazio e constato que estou lendo os livros comprados, emprestados, presenteados durante esse longo tempo de vazio. 

Me sinto tão SATISFEITA! Passei de pessoa tão ansiosa por preencher espaços vazios com letras e histórias, ferrenha construtora de barricadas de tijolos feitos de papel pintados com tinta, a alguém satisfeita com a visão do espaço vazio na mesa. É muito satisfatório transferir livros da pilha dos não lidos para a pilha do lidos, conferir as lobadas, relembrar as histórias, conferir as prateleiras da parte interna do coração e sentir nela novos moradores.

Além de me sentir satisfeita com as leituras finalizadas também tenho sido invadida por uma vontade imensa de voltar a escrever mais sobre livros no blog. De uns anos para cá sigo escrevendo sobre livros no instagram, mas o blog tem outro tipo de intimidade e confere a narrativa outro tipo de liberdade e dinâmica. Não tenho condições de acompanhar o ritmo da blogosfera literária, mas ultimamente tenho tido bastante desejo de falar sobre minhas leituras antigas e recentes aqui. Sobre os livros que foram embora (ainda pratico o desapego) e os que chegaram (compro menos, mas continuo comprando).

Me sinto recomeçando como blogueira, quero abrir um novo arco narrativo na minha vida, oro a Deus pedindo esse milagre, e tenho ímpeto de registrar os episódios desse arco sem excluir os livros, autoras e autores e editoras que estão me fazendo companhia nesse caminho novo. Para começar vou deixar registrada aqui a pilha de livros que em fevereiro de 2021 deixaram a pilha dos não lidos para integrar a dos livros.

Comecei o mês pela série "As mulheres têm sua própria forma de magia" da Amanda Lovelace. São livros nos quais através da poesia a autora conta sua história de abusos domésticos, perdas, relações românticas abusivas, afetos, amores, ternuras, rancores, reencontro, vitórias, lutas e superação. Estava lendo essa série através do Kindle em formato e-book, mas uma amiga resolveu me presentear com os três livros, fiquei emocionada com o presente e encantada com a leitura. Assim como essa amiga, "A voz da sereia volta nesse livro" tem sido mão, abraço e apoio nesse meu momento de tomada de folego.

Outro livro marcante dessa pilha foi o "Medo Imortal", coletânea de contos de terror do século XIX e inicio do século XX lançanda pela DarkSide Books na qual os autores são os Imortais da Academia Brasileira de Letras + Julia de Almeida (barrada da galeria dos Imortais por ser mulher). O livro é lindíssimo e os contos abordam desde o terror doméstico passando pelo clássico inspirado no gótico até o terror baseado nos mitos e tradições dos povos indígenas do Norte do Brasil. Foi uma viagem ao nosso passado regada a violência contra mulheres, feminicídios , tradições indígenas mal compreendia e escrita maravilhosa. Terminei o livro com vontade de ler mais Machado de Assis e João do Rio.

Entre as HQs li o vol. 1 de "X-Mens 2099", uma daquelas histórias que começam depois do fim de todas as coisas, assim como "Ogiva" roteirizada pelo Bruno Zago. Li também o vol. 4 de "Fábulas" de Bill Willingham e "Crise nas Infinitas Terras", a leituras mais tensas do mês. Apesar de ser uma HQ "Crise nas Infinitas Terras" foi uma leitura de difícil fruição, ela é um marco na história dos gibis de heróis americanos pois reuniu todos, ou pelo menos a maioria, dos personagens do Universo da DC Comics em um conto sobre o fim de vários mundo e a sobrevivência de uns poucos. Ela é a clássica história do homem branco salvando não só o dia, mas todos os dias e talvez por isso seja tão chata e pouco empolgante, apesar de ser um clássico cuja leitura relevante para quem ama Histórias em Quadrinhos, meu caso


Para compensar esse travadeira "Ao Sul da Fronteira, a Oeste do Sol", o vol. 7 da coleção 2020 da TagLivros foi uma leitura deliciosa responsável por me deixar ainda mais apaixonada pelo Haruki Murakami. É um livro narrado em primeira pessoa pelo Hajime, um homem cheio de conversa mole que nos conta com graus variados de franqueza sobre sua vida amorosa desde a infância até mais ou menos seus 37 anos. A escrita do Murakami é muito elegante, poética, introspectiva e reflexiva, ela coloca em alto relevo a sutileza da vida cotidiana de uma forma muito lúdica. Eu odiei o protagonista, no entanto amei como esse livro foi escrito, editado, ilustrado. Considero uma das minhas preciosidades.


Ainda teve o tragicamente atual e real "Meu Melhor Amigo é Gay" do Dieson Villela; romântico "As crônicas de Morrighan: a origem do amor" e o lindíssimo "Apaguei a playlist e comecei a dançar" onde a homoafetividade é abordada de forma lindíssima através da poesia do Fernando de Albuquerque e dos desenhos do Márcio Junqueira.

Foram essas as leituras de fevereiro. Agora começa março e vamos ver como será! As aulas não começaram, pois a pandemia avança desgovernada por Pernambuco. Atualmente tenho participado de reuniões e palestras virtuais sem fim na esperança de ficar pronta para receber os estudantes em breve de forma segura. Tenho ainda várias cadernetas para preencher e um coração cheio de saudades dos meus/minhas estudantes.

Se você chegou até o fim desse post enorme e quiser me contar de suas experiências com livros, leituras ou outras coisas sinta-se convidado, convidada, convidade.

5 comentários:

  1. Pandora,
    Estou louca para ler esse livro do Murakami. Não tenho Tag mas logo logo será lançado pela Companhia das Letras. Adoro também ver a lista de livros lidos aumentando na minha estante. Boa leitura e que venham mais e mais livros.
    Beijos
    Adriana

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  2. como fiquei sem trabalho não adquiri livros. mas eu tinha comprado vários na feira do livro de 2019, exagerado até, 10 títulos, q preencheram bem 2020. e tinha outros na espera. na retrospectiva de 2020 percebi q eu continuei lendo a mesma quantidade q antes. uma média de um livro por mês. beijos, pedrita
    http://mataharie007.blogspot.com/

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  3. A sensação de ter concluído a leitura de um livro - especialmente de um livro desejado e escolhido - é realmente muito boa. E nem é preciso que se diga que a leitura sempre acrescenta algo à visão de vida da gente, sempre nos enriquece um pouco, não é verdade?
    Eu não fazia ideia de que o livro As mulheres têm sua própria forma de magia abordasse os assuntos que você mencionou, fiquei com vontade de o ler.

    Beijo

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  4. Olá, Pandora.
    Eu fui a louca dos sorteios por um bom tempo. Tinha mês que chegava mais de dez livros que ganhava em sorteio aqui em casa, mais os que eu comprava. Resultado 4 estantes abarrotadas de livros que hoje nem tenho mais interesse em ler. Por isso comecei a praticar o desapego. E depois ainda comprei um kindle, conheci o kU e fico lendo e-books em vez de ler os físicos parados na estante. Dos que você leu eu tenho muita vontade de ler Medo Imortal que a edição está um arraso.

    Prefácio

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  5. Que bacana, jaci, o importante é estar se sentindo feliz com seu ritmo, sem cobranças, apenas feliz, esta é a melhor medida, única!
    Por diversos motivos leio muito pouco hoje em dia, já li muito, acho até que se comparar com meu tempo de vida, passei muito tempo lendo. A leitura traz reflexão é necessária para nos construir, mas temos que ter tempo para a realidade, colocar em prática o aproveitamento dos livros.
    Que tempos para sua juventude, de seus alunos...que essa meleca passe logo.
    Abraço!

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