"Pops: a vida de Louis Armstrong" escrito pelo Terry Teachout chegou a minha estante em maio de 2018 como presente de aniversário da Ana Seerig. Sim, esse, assim como o "Joana D'arc: médium" do Léon Denis, foi mais um presente dela. Sim, a Ana Seerig é apaixonada por biografias, fora essa ainda tem mais uma biografia na pilha dos livros com os quais ela me presenteou ao longo dos últimos dez anos e em breve, se Deus quiser, estarei lendo e resenhando. E com essa paro de falar de nossa amizade pontuada por livros e vou começar a falar do livro, do Louis Armstrong e das escolhas do Terry Teachout na feitura dessa biografia.
Antes da leitura de "Pops" só conheci o Armstrong pela famosíssima canção "What A Wonderful World", seu sorriso cativante e a vaga sensação de sua importância para a música negra americana. Me escapava o conhecimento sobre a vida desse homem, sua trajetória e lugar no tempo. A leitura dessa biografia se revelou não só uma viagem pela história de um homem, mas uma viagem pelo mercado fonográfico negro americano do inicio do século XX, a história da música negra e de como os artistas, nas palavras do Louis, "bastardos desde o inicio" conseguiram ascender numa sociedade na qual o racismo não só era estrutural como legalizado.
Criança negra nascida em Nova Orleans, filho de mulher que ganhava a vida com serviços sexuais e de um pai inexistente, nos primeiros anos do violento pós-abolição americano a escolha de Louis para lidar com o racismo da orgânico, estrutural e legalizado dos Estados Unidos não foi o conflito e sim a negociação. Ele jogava com os racistas com as regras deles e assim ocupou vários espaços na TV, no Teatro e no Cinema; gravou seus discos; cantou suas canções; escapou da Máfia de Chicago; fez sua fortuna; e segue sendo, mesmo depois de sua morte um artista ouvido por milhões de pessoas.
Infelizmente a personalidade midiática do Louis, seu dialogo com a mídia branca, marcado muitas vezes pela aceitação de relações racistas/subalterna, seu silêncio em boa parte dos episódios que marcaram a luta por direitos das pessoas negras nos Estados Unidos fez dele persona non grata para algumas pessoas e, me parece, obscureceu seu papel na história da música negra.
Terry Teachout como músico profissional, além de jornalista, tomou para si o papel de biografar o Louis Armstrong tendo como fio condutor seu trabalho musical desde os primórdios em Nova Orleans até sua morte. Ele revirou documentos, registros oficiais, fotos, discos e mais discos, apresentações e mais apresentações para compor um panorama da história musical fenomenal do Armstrong. O próprio Louis ajudou bastante pois era dado a escrever longas cartas; fazer registros sobre si e sobre os seus; livros autobiográficos além de gravar várias fitas nas quais registrou sua vida privada e pública
Durante a maior parte do livro fiquei me perguntando para onde o Teachout queria me levar ao se deter longamente falando sobre os discos de Armstrong, suas parcerias, determinadas músicas em especial, descrevendo minunciosamente determinados arranjos, a entonação da voz do cantor, o som saído do trompete, as bandas de apoio e derivativos. Eu louca para saber detalhes sórdidos e não tão sórdidos do momento histórico no qual o Louis viveu e como dialogou com esses momentos e o Terry Teachout comentando um álbum tão detidamente que eu ia no aplicativo de música ouvir. Nunca ouvi tanto blues, jazz, hot jazz na vida.
Em meio ao silêncio imposto pela debilidade na qual a covid jogou todo meu núcleo familiar o jazz e blues encheram os espaços dos meus ouvido e do meu coração... Essa foi uma leitura lenta e margeada por muitas pausas para ouvir e ouvir mais um pouco. Dormir e acordar ouvindo uma voz rouca vinda de longe e sabendo se colocar tão perto. As vezes mergulhar com o Teachout nas minucias da canção era muito cansativo, mas quando a canção tocava era refrescante. Me dava esperança e folego.
Só no fim do texto percebi com clareza a intencionalidade do autor, a saber: reforçar não a personalidade midiática e sim a genialidade do músico. Resgatar a memória do responsável por abrir caminhos onde só havia mato e racismo. Colocar luz sobre uma mente criadora de inovações musicais fundamentais para a música como um todo. Essa biografia deseja ressaltar o valor do talento musical de um homem que poderia ter se perdido desde menino em uma vida de violência, mas não se perdeu e caminhou pelo mundo como trompetista/cornetista/saxofonista, compondo, sofrendo, cantando, tocando e encantando multidões.
Apesar de sua intencionalidade, "POPs: a vida de Louis Armstrong" não é um texto apologético. Esse é um texto sóbrio, muito descritivo, dotado de uma vastíssima bibliografia, tem até índice remissivo. As vezes se torna uma leitura cansativa e então nos pega de novo quando encerra um arco da do Louis e começa outro. Foi uma viagem e por incrível que pareça, apesar de não ser um livro com arcos dramáticos, terminei a leitura chorando, sei lá... Um homem como Armstrong bem poderia ser imortal.
De nada.
ResponderExcluirSempre a melhor pessoa, hahahahaa
ExcluirBela resenha e Louis Armmstrong ,figura marcante ... Gostei de ler! beijos, tudo de bom,chica
ResponderExcluirGostei muito de ler e saber um pouco sobre a biografia e o reflexo do artista nestes dias de combate à covid, música alimenta e conforta.
ResponderExcluirAbraço e melhoras!
ah, fiquei com vontade de ler. beijos, pedrita
ResponderExcluirhttp://mataharie007.blogspot.com/
Eu gosto de algumas músicas do Louis mas nunca fui muito atrás de sua história. Quem sabe me arrisco nessa biografia..
ResponderExcluirBeijos
Balaio de Babados
Este livro deve ser muito interessante. Lembro-me do dia em que ouvi a What a wonderful world!, pela primeira vez, muitas décadas atrás. Eu então estava numa fase de querer muito entender inglês, e por isso fiz logo a minha própria tradução, rsrs. Eu acho que qualquer pessoa - por mais avançada que seja a alma dela - é ... digamos, cativa do seu tempo, e o tempo do Louis Armstrong foi de muita brutalidade e violência com relação aos negros. Sendo assim, eu relativizaria este negócio de 'personalidade midiática'.
ResponderExcluirBeijo e bom dia
Eu acho que você está certíssima sobre relativizar essa "personalidade midiática".
ExcluirOlá, Pandora.
ResponderExcluirEu não sou tão fã de biografias, li poucas na minha vida e de pessoas que eu realmente gosto muito. A ultima acho que foi o livro da Fernanda Montenegro. Mas achei esse bem interessante. Não conhecia ele ainda e achei o pouco que você falou aqui sobre ele fascinante.
Prefácio
Oi Pandora,
ResponderExcluirQue pena que as vezes se torna uma leitura cansativa... Eu não gosto muito de biografias, confesso que não é um gênero fluído para mim.
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/