quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Rei Lear" de William Shakespeare


"Rei Lear" de William Shakespeare é uma peça teatral, uma tragédia escrita em 1606. Nela se conta a história do que aconteceu a família do Rei Lear quando ele, já idoso, decide dividir seus bens entre suas três filhas (Goneril, Regana e Cordélia) e viver sob a tutela delas o resto de seus dias.

O plano de Lear era brilhante, conferindo independência as filhas ele desejava poder gozar de seus últimos anos de vida com tranquilidade e sem o peso das responsabilidades, no entanto, os resultados de sua ação são catastróficos para todos e infinitamente mais para ele.

Fiquei aturdida com a atualidade do texto de Shakespeare em relação ao diálogo do Ocidente com pessoas envelhecidas. Enquanto Lear é dono de suas propriedades e tudo que lhe confere poder e honra, suas filhas o tratam com dignidade, uma vez despido de sua fortuna o tratamento muda completamente. Regana e Goneril "brincam" de jogar seu velho pai de um canto a outro, tirar dele coisas que lhe são preciosas, desqualificando seu julgamento, tirando dele sua dignidade. Pouco a pouco a lucidez do velho homem se fragiliza, ele se vê jogado na rua, louco e exposto ao furor da tempestade.

O quadro de dor no qual Lear se vê no momento que se coloca a mercê da generosidade e senso de dever de suas filhas não é nada estranho. Quem de nós não conhece uma história de alguém idoso que foi abandonado e maltratado pelos filhos? A fragilidade social da pessoa idosa no Brasil é latente ao ponto de existir o "Estatuto do Idoso" para garantir os direitos dessas pessoas. Foi doloroso perceber o quanto, guardada as devidas proporções, a história do "Rei Lear" se repetiu pelos séculos e continua se repetindo. É assustadora a forma como quatrocentos e doze anos depois de ser escrita, a critica de Shakespeare a forma como algumas famílias tratam seus idosos continua atual.

Sobre a edição da L&PM Pocket, apesar da antiguidade da história narrada, a tradução de Millôr Fernandes é muito fluida, acessível, de fácil compreensão. Millôr meio traduz meio adapta o texto de Shakespeare para a linguagem de hoje. Da para ri das piadas, se emocionar com os monólogos eloquentes, amar os mocinhos e mocinhas, odiar as vilãs e os vilões e ficar desnorteada com o fim trágico.

11 comentários:

  1. Oi Pandora!
    Ainda há pouco eu estava numa conversa virtual em volta do tema fraldas geriátricas, ou seja, velhice.
    Seu texto trouxe muita lucidez ao tema. Olhando profundamente, não deveríamos nos orgulhar de ter um estatuto do idoso... Não deveria ser necessário.
    Como em outras culturas, países, deveríamos admirar nossos velhos, beber da sabedoria ( tudo bem, nem todos a tem... ) mas são descartáveis feito as fraldas geriátricas.
    Beijo.

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  2. eu vi esse texto no cinema, naqueles filmes maravilhosos. nunca li o texto. só trechos. lembro de ter ficado impressionada tb com o texto e sua força. beijos, pedrita

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  3. Eu quero muito ler esse livro <3
    Estou até hoje procurando uma edição realmente bonita (para combinar com os outros livros), mas até agora não encontrei a ideal.
    Amei a resenha, está cada vez mais difícil achar resenhas de clássicos pela blogosfera, é sempre bom me deparar com uma :)

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  4. Oi! Infelizmente ainda não li nada do autor e sem dúvida esse livro é bem atual. Se entramos em redes sociais e lemos um jornal encontramos casos de maus tratos a idosos, vindo de seus próprios filhos, o que é horrível. Bjos ❤

    Click Literário

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  5. Oi, Jaci!
    Menina, só li uma obra do Shakespeare até hoje e foi super resumida hahhahahah
    Eu até tenho vontade de ler esse livro porque, boatos que, inspirou O Rei Leão hahaha
    Beijos
    Balaio de Babados

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  6. Adorei a resenha, não conhecia a história, conheço apenas o nome da peça por ser de Shakespeare, como eu lhe disse no Instagram, é uma das poucas peças dele que não li... Ano passado inclusive fiz uma maratona de peças de Shakespeare e esse ano pretendo continuar, tendo Rei Lear como o primeiro da lista.
    Adorei essa ediçãozinha da L&PM XD

    Beijão
    http://atocadalebre.blogspot.com.br

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  7. Olá, Pandora.
    É triste de saber que precisa de uma lei para garantir algo que deveria ser natural. Eu li esse livro e quase todos do autor quando trabalhava em uma escola. Eu almoçava em 5 minutos e usava o resto para ficar na biblioteca hehe.

    Prefácio

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  8. Oi Pandora!
    Na escola em que estudei a gente tinha aula de teatro até o 1º colegial (na minha época chamava colegial...), e lembro que tivemos uma aula em que lemos alguns trechos desse livro. Eu nem me lembrava mais da história dele!
    Adorei relembrar o livro e gostei da sua análise!

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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  9. Ainda não conhecia o livro e, na verdade, nunca li nada do Shakespeare, mas essa história me pareceu bem interessante! É como você disse, ela dialoga bastante (infelizmente) com a atualidade, o tanto de histórias tristes assim com idosos que a gente vê por aí é incontável. Adorei a resenha!
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

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  10. Eu tenho 4 livros do autor e amei todos eles. Esse eu ainda não li, mas pelo visto já sei que vou gostar tb, hehe!

    =)

    Suelen Mattos
    ______________
    ROMANTIC GIRL

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  11. Oi, Pandora!
    Uma ótima resenha e realmente, é espantoso pensar que um texto escrito há séculos atrás ainda seja tão atual quando paramos para pensar em como tantas famílias e a sociedade em geral lida com os seus idosos. Belíssima reflexão!
    Abraços
    Marina

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