domingo, 16 de março de 2014

O oceano no fim do caminho [Desafio Calendário Literário]

Eu estou aqui tentando lembrar em qual mares de literatura li pela primeira vez a frase: "O menino é pai do homem.". Estou tentando resistir a tenção de consultar ao google e força a memória... Mas Deus sabe que quando tudo está a um clique de distancia tudo é mais difícil. Acho que foi Machado de Assis, desconfio que foi em "Memórias Póstumas", quase tenho certeza que no capitulo ele fez desfilar diante de meus olhos absurdados os moldes terríveis da educação das crianças da elite imperial. Mas a certeza mesmo é, independente de quem [onde e com qual propósito] tenha cunhado a expressão, ela me parece ser muito verdadeira agora.

Eu li o livro "O oceano no fim do caminho" graças ao "Desafio Calendário Literário" proposto pela Lu Tazinazo. O tema de Março é "um livro que de destaque a água" e bem, basta da uma olhada na capa do livro para vim a ideia néh?!?


No entanto, a leitura de "O oceano no fim do caminho" nos leva muito menos em um passeio em uma praia ou rio e muito mais pelas nossas lembranças de infância, tantos as maravilhosas quantos as aterrorizantes. Não a toa a epigrafe já na epigrafe somos abraçados pela expressão de Maurice Sendak:
"Eu me lembro perfeitamente da minha infância.... Eu sabia de coisas terríveis. Mas tinha consciência de que não deveria deixar que os adultos descobrissem que eu sabia. Eles ficariam horrorizados".
Há quem diga que esse livro é uma fábula, o Rafael Castro da Silva Sauro garante que é um conto de terror, alguém pode dizer que é uma história fantástica, mas eu digo que o livro é um fio, uma ponte. Ao contar a história de como um garoto viveu uma experiencia fantástica conhecendo os limites da vida e da morte Gaiman teceu um fio através do qual qualquer pessoa de boa vontade pode ser levado até as suas memórias de infância. Não foi sem choque que percebi o quanto me identifico com o garoto da história.

O menino é filho mais velho de um casal jovem que vive em uma localidade perdida em algum interior do mundo, ele é apaixonado por leitura, é um tanto curioso e intelectualmente inquieto, não tem amigos de verdade ou de mentira. A vida dele seria carente de aventuras misticas caso ele não tivesse conhecido uma garota misteriosa, Littie Hempstock, que vive em uma fazenda no fim do caminho com sua mãe e sua avó. Nessa fazenda no fim do caminho repousa um lago que a garota chama de Oceano ou um oceano que nos vemos com um formato de lago.

Como sempre, ler Neil Gaiman é um prazer difícil de explicar, me resta repetir o que já disse mil vezes. Para mim ele é como um amigo com o qual eu posso sentar no meu canto favorito do sofá agarrada com café, chá ou chimarrão para conversar longamente sobre o tudo e sobre o nada. Sinto como se ele tivesse passado parte da vida vivendo coisas semelhante as vivida por minha pessoa... Coisas como ouvir a "Canção da Criação" em Nárnia; viajar com Simbad; entrar na caverna com Ali Babá; conhecer a Idade Média pelos olhos de Walter Scoot; chorar pelo Soldadinho de Chumbo e pela Pequena Sereia. Lembro de abrir o guarda-chuva do meu pai em cima da minha cama, cobrir com uma colcha, levar pequenas tralhas para dentro e ler ali... Ler Gaiman me faz sentir como se estivesse novamente nesse tipo de toca na qual não caibo mais. É maravilhoso!

Não sei se a Lu Tazinazzo escolheu a propósito, mas existe uma canção cantada pela Elis Regina chamada "Águas de Março... Nos últimos dias tem chovido em Recife e nesses dias nos quais eu venho escrevendo esse texto no meu ritmo moroso também chove... Eu só desejo que as águas de Março levem a dor da infância e preparem o chão para o outono... Deixo a música fechando o post porque de certa forma, ela combina com a misteriosa família Hempstock, da qual eu não estanharia se a própria Elis tivesse uma gota de sangue.

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Esse post faz parte do "Desafio Calendário Literário",
proposto por Lu Tazinazzo do blog "Aceita um Leite?".


A propósito, gente, me desculpem se eu tenho falado mais que demais de livros ultimamente... e o blog ta ficando com cara de blog exclusivamente de livros... é que ultimamente eu só tenho animo de escrever sobre livros... Enfim.... Vou tentar diversificar os temas! O problema vai ser consegui kkkk

10 comentários:

  1. Oi, Pandora.
    Eu acabei escolhendo outro livro para o desafio, mas ainda quero muito ler este livro. Adorei o que você escreveu sobre ele. Acredito que a escolha do item tenha sido mesmo a música do Tom Jobim, Águas de Março. Aliás, eu achei todos os itens muito interessantes por que têm relação com os meses. :)
    Beijos.

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  2. Jaci, agora é que eu tenho que ler "O Oceano"! Tenhjo ele aqui já há um bom tempo e não me animo a ler - pelos mesmos motivos que não consigo ler o "Licor de Dente de Leão", do Bradbury, é que eu tenho medo da intimidade com que o autor pode vir a falar comigo, e isso tem me assustado com frequência - mas talvez seja hora de enfrentá-lo.

    Eu gosto de rememorar a infância mas isso sempre me causa algum impacto negativo que leva dias até sumir. Eu me achava triste quando criança. Olhando em retrospecto, fui burro o suficiente para não perceber o quanto era feliz! Daí me dá medo de me encontrar com um autor que fale comigo e me desperte em alguns sentidos. Sendo fábula, terror ou fantasia, acho que, de um jeito ou de outro, vou ter que encarar Gaiman mais uma vez.

    Excelente resenha ;) Dois abraços

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  3. Com certeza o tema do desfio de março foi de caso pensado. Sempre lembro dessa música e não quis deixar passar a oportunidade. Eu ia reler O Oceano para o desafio, mas acabei de pegando ao Stephen King, então vou postergar, mas sua resenha foi maravilhosa!!! Me senti mais ou menos como você

    Beijão!

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  4. Essa frase do menino me lembrou uma música q meu pai gosta. Nãos ei bem como canta-la, mas dizia mais ou menos assim: "o menino vive dentro do homem, e qdo o homem vacila e não sabe o que fazer, é o menino que o leva pela mão". eu ia falar mais coisas, mas ao terminar de ler, esqueci metade delas kkk minha memória para coisas do presente é meio ruim.

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  5. Olha, agora que eu comecei a ler o Gaiman acho que não vou parar mias! Quem sabe no próximo correio vc me empresta?

    Bjs

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  6. Escutei meu nome?
    E é, isso é típico conto de terror do Gaiman. Só faltou uma introdução, e cerca de vinte contos espalhados ao redor dele...
    Por falar nisso, onde eu consigo uma Lettie?

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    Respostas
    1. Rafael, eu te amo, mas quando você quer encher a paciência você consegue ein?!?! Você não teria chance com a Lettie e nem com nenhuma das Hempstock :p hasuahsuas... [Não resisti a tentação da resposta atravessada!]

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  7. Fabrício Carpinejar já falou que "Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai". É um texto muito lindo sobre o cuidado com os idosos e vale a pena conhecer. E continue a falar sobre livros porque sempre temos boas indicações de leitura.

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  8. Jaci, mais um livro e mais um autor que conheço através de você. Vou procurar pelo livro.
    Sobre a frase, escrevi pra você no Facebook, in box.
    Beijo.

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  9. Olá!!

    Sou daquelas pessoas que leu Neil Gaiman uma vez e não gostou. Estou com o livro aqui em casa (emprestado) e espero que essa segunda experiência com sua leitura seja prazerosa.

    Já li diversas resenhas do livro. Alguns amam a história, outros não a entendem e outros a odeiam. Geralmente um livro vindo de um autor como este costuma despertam mais simpatia do que antipatia....

    Gostei da sua resenha e gostaria de poder sentir o mesmo quando estiver lendo o livro (embora isso seja impossível).

    Até uma próxima!

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