Dando continuação ao texto da semana passada no "Sobre o desafeto a literatura nos tempos do Império" preciso reafirma a sorte que me considero com sorte por ter começado a aventura pelo passado através das mãos sonhadoras de José de Alencar. Depois dele a época do Império parecia para mim um lugar de sonho, melhor para se viver, quase substituindo a Idade Média de Walter Scott que o cinismo do meu professor de história transformou em um lugar de frio, opressão e cabanas de chão batido.
Maaaasss... no melhor da festa com seus finais felizes e homens capazes de se converter de seus maus caminhos me apareceu Machado de Assis e seu brilhante e inquietante "Dom Casmurro". Acho que Machado fez sucesso com a adolescente que fui porque já conhecia um pouco da sociedade imperial, do vocabulário do período, era muito fã de uma pessoa cínica (meu professor de História que nem mesmo aprova minha escolha por essa profissão #MagoaEterna) e claro, Machado dialoga com o leitor.
Em Dom Casmurro, nós conhecemos a história de Bentinho, membro de um família abastada do Império acompanhamos a história de amor dele com a Capitu. Como quem conta a história é o Bentinho ele conduz nosso olhar para onde quer e confesso: em minha primeira leitura fui meio seduzida por ele e até acreditei nas doces daquele velho rabugento, solitário e muito hipócrita. Algo que foi mudando ao longo das sucessivas leituras que fiz do livro ao longo dos últimos 10 anos e hoje sou do fã clube da Capitu correndo o serio risco de colocar o nome "Capitulina" em uma filha minha.
Depois de Dom Casmurro li o "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e, apesar de Brás ser uma verdadeira cocada de sal com pimenta tão hipocrita quando o Bentinho, confesso que nunca consigo odiar esse personagem. Me apaixonei irremediavelmente pela sinceridade pós-vida dele; pela forma como ele coloca diante de nossos olhos as sacanagens daquela sociedade; e pelo capitulo sexy mais bem pensado da história de toda literatura, nunca deixei de ler o capitulo "O velho dialogo de Adão e Eva" sem dar risinhos e imaginar a cara das recatadas senhoras lendo isso! O Rafael Cortez musicou esse dialogo, deixo o link.
Depois desses dois livros comecei uma Odisseia alucinada com Machado: li todos os romances dele, os vários contos - ainda não sei se li todos os contos - e derivativos. De todos os seus romances o meu preferido é o "Memórias Póstumas...", a fina ironia toca o meu coração e me faz ri sozinha... O que mais me da ternura é Helena. Nunca existirá heroína tão incrível quanto ela. Doce, suave, gentil, inteligente, sagas, acima de tudo digna. Eu me precipito no caos cada vez que o Manuel Carlos coloca no ar uma protagonista com o nome de Helena em suas novelas. Aliás, eu detesto as novelas de Manoel Carlos e minha alma chora e se contorce cada vez que identifica uma referencia a obra do meu amado autor em sua obra. Provavelmente Machado se revira no tumulo.
Mas, voltando a minha louvação alucinada ao meu primeiro amor literário, nunca me canso do olhar atento dele, de sua capacidade de se comunicar com seu leitor, de enxergar de uma forma tão profunda as pessoas ao seu redor, a forma como elas pensavam, planejava e executavam suas vidas. Como a Jussara disse a respeito da sociedade imperial: "... como saberíamos quais sentimentos passavam pela mesma sociedade sem Machado de Assis?". Não é a toa que os historiadores do Império usam os livros dele como documento.
Além dos historiadores, quem se interessou por Machado foi o Eduardo de Assis, um professor do curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais responsável por vasculhar toda a obra dele, junto aos seus orientandos, em busca de referencias a pessoas negras livres, libertas ou escravas. Com todo o anacronismo do multiverso ele foi em busca das referencias a afro-descendência dele.
Embora hoje eu tenha minhas criticas ao Eduardo de Assis, confesso que o trabalho dele foi criterioso e a seleção de textos dele inclui crônicas, criticas de teatro, contos e trechos de livros foi uma boa aquisição para minha estante. Assim como a edição da correspondência de Machado e Joaquim Nabuco publicada pela editora de Monteiro Lobato. Confesso que quase tenho menos birra com Lobato só pelo fato dele ter feito publicar essa coleção de cartas.
Enfim, esse texto ficou gigante e você chegou até aqui e resolveu dar mais uma chance a Machado ou mesmo uma primeira chance ficaria feliz de emprestar meus livros... mas como não posso resolvi praticar um pouco da lição da Luma e bem entre os que se interessarem vou está sorteando aqui no próximo domingo minha edição de Helena junto com um dos textos biográficos da minha coleção.
Há quem diga que para começar a ler Machado é melhor recorrer aos contos, mas atualmente não tenho nenhum em minha estante - por culpa da Luma me desapeguei deles - então decidi por Helena, que é o romance de Machado em melhor estado físico dele em minha estante. Para concorrer basta dizer no comentário que quer e domingo que vem faço o sorteio e envio pelo correio.