A Shirley Jackson é uma autora com uma narrativa sensacional recheada com um senso de humor macabro maravilhoso. Esse é um livro no qual o medo e tensão são construídos dentro de uma narrativa em primeira pessoa conduzida por uma personagem emocionalmente praticamente inabalável. A narradora, Marricat Jackson, é uma pessoa que trabalha seus sentimentos e os descreve de um jeito absurdamente frio, ela faz as piores coisas e as descreve com muita frieza, ela vive coisas terríveis, se desorganiza e organiza novamente tudo em narrativa sem muita vacilação, assustadoramente fleumática. Sinceramente? AMEI! Esse livro é aterrorizante, divertido, deixa a pessoa leitora em estado de absurdamento. É genial!
Não sou habituada a ler livros de suspense ou terror, mas vem lá vem cá chega a minha vida uma indicação de respeito e me pego lendo. "Sempre Vivemos No Castelo" da Shirley Jackson chegou vida através da Luci em 2018, ela escreveu uma resenha dele em um blog, os dados da história me cativaram, comprei o livro e agora em 2022 finalmente conclui a leitura dentro do projeto "40 Livros Antes dos 40" em firme estado de contentamento.
Aqui encontramos a história das irmãs Mari Katherine e Constance Blackwood que vivem sozinhas na companhia do Tio Julian em uma mansão campestre. O motivos das irmãs Blackwood viverem sozinhas é o fato de toda o resto da família (pai, mãe, irmãos... tia) ter morrido envenenada por arsênico misturado ao açúcar do chá. Inicialmente, por ser a cozinheira/faz tudo da família, Constance foi acusada de ter cometido o crime, passou por todo um julgamento social e judicial do qual foi inocentada. A possibilidade da culpa de Mari Katherine não foi considerada pela justiça, pois na noite em questão ela não participou da refeição macabra, estava de castigo em seu quarto. Após o julgamento, as irmãs voltaram a viver em sua casa ancestral junto ao Tio Julian, que sobreviveu ao incidente perdendo apenas a saúde física e mental.
Quem narra toda a história é Marykath. É o olhar delas que nos conduz ao cotidiano dessa estranha célula familiar sobrevivente de um episódio de envenenamento. Fleumaticamente ela nos conduz pelos caminhos de um cotidiano familiar absolutamente regrado abalado apenas pela forma passivo agressiva com a qual a comunidade lida com as irmãs. Tudo caminha até bem, com manhãs ensolaradas, visitas indesejadas e diálogos tão assombrosos que se tornam divertidos até a chegada do Primo Charles.
O primo Charles bagunça o cotidiano das irmãs e aborrece sobretudo a nossa narradora, MaryKath. É engraçado como, apesar da absoluta franqueza fleumática de nossa narradora, criatura incapaz de esconder de nós seus atos, tiques e manias, a principio duvidamos de sua percepção do caráter desse forasteiro. E se nós desconfiamos, imagina os moradores da região? É muito interessante como pessoas com atitudes passivo-agressivas precisam de pouquíssimo estimulo e nenhum motivo concreto para se tornarem agressivas-agressivas.
Apesar de ter comportamentos e pensamentos assustadoramente macabros e odiar a tudo e todos de forma bastante igualitária, Marykath em nenhum momento faz mal as pessoas da comunidade. Ela apenas deseja existir do escolheu junto com sua família. Entre as personagens narradoras com as quais cruzei ela vai para a lista das mais autoconscientes e sinceras na forma de descrever seus sentimentos, percepções da realidade e atos. Achei ela totalmente impactante!
"Voltei para Constance e peguei o prato de bolinhos de rum e o levei à sra Wright; também não era uma gentileza, e ela comeria primeiro os sanduiches, mas que queria que ela ficasse infeliz, vestida de preto na sala de visitas da nossa mãe. "Minha irmã fez de manhã", declarei." (pág. 42).
A Constance também é assombrosa em seu estilo metódico, paciente e difícil de se assustar. Após o julgamento, e escrutínio público devido ao envenenamento da família, ela contraiu uma agorafobia severa, mas deixada em paz dentro de sua rotina consegue viver em um estado de paz com, usando uma expressão do mundo virtual, "a irmã que ela gosta".
No final, apesar de todo comportamento não convencional da MaryKath e a capacidade dela para criar situações violentamente irreversível quando sente necessidade, se a gente para e pensar horror mesmo é a existência de pessoas capazes de se deslocar por longas distâncias para mexer com a vida estável dos outros com o único objetivo de adquirir bens e riqueza.
Esse foi um dos livros mais lúdicos com os quais cruzei nos último tempos. Fácil de ler, contando uma história redonda cujas verdades vão se revelando pouco a pouco dentro de diálogos tão absurdamente francos e macabros que entram dentro do limite do risível. Lendo a Shirley Jackson o que mais fiz foi da risada, as vezes sorria de nervoso, mas sorria. Ao longo de toda leitura dizia o tempo todo: "Marykath e Constance do céu! Vocês são loucas!??!?" e o tempo todo elas me diziam em suas atitudes e formas de narrar: "Não! Podemos ser diferentes, inclusive, como vocês dizem agora, neurodivergentes, podemos aparentar até ter hábitos e atitudes infantis, mas somos apenas uma pessoas adultas desejosas de sempre viver em nosso castelo.".
não conhecia. obrigada por me apresentar. beijos, pedrita
ResponderExcluirOlá, Jaci,
ResponderExcluirMenina, eu desconhecia esta autora, mas, por conta da tua resenha já fiquei curiosa, com relação a este livro. E olha que eu não sou a maior fã desse gênero, pelo contrário, rsrs.
Beijo e bom fim de semana
Oi, Pandora!
ResponderExcluirAssisti a 1ª temporada A Maldição da Residência Hill, uma adaptação do livro de mesmo nome da Shirley Jackson, para não dizer que a desconhecia. E só fui atrás dessa série por causa de um tweet do Stephen King :D
Valeu a indicação de leitura!!
Beijus,