sábado, 7 de agosto de 2021

A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou da vulva vs. o patriarcado de Liv Strömquist [40 Livros Antes dos 40/2]


Mesmo uma pessoa desatenta consegue perceber o quanto as relações entre os gêneros feminino e masculino são desequilibradas de maneira a deixar os homens em situação de vantagem em relação as mulheres. Existe uma estrutura social milimetricamente construída para favorecer uns e colocar outras em situação de submissão. Até da para negar isso, mas não da para negar isso e ser considerado uma pessoa honesta.

Se as relações entre os gêneros foram estruturalmente CONSTRUIDAS para serem desiguais é possível SIM desconstruir essas desigualdades. No entanto, como desconstruir uma estrutura sem conhecer as formas como ela foi feita, suas engrenagens, métodos e formas? Até para dinamitar um prédio com sucesso é preciso conhecer o mínimo das estruturas de desse prédio. É dentro dessa perspectiva de necessidade de conhecer que o trabalho da Liv Strömquist em "A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou da vulva vs. o patriarcado" ganha importância, é fundamental ter acesso ao conhecimento de nós mesmas não só como sujeitos históricos no mundo, mas também como um corpo no mundo.


Sendo mulher, acredito na necessidade de desconstruir a estrutura responsável por manter essas relações desiguais. Sendo professora acredito no conhecimento como arma capaz de auxiliar todas as pessoas nas lutas contra as desigualdades, por isso trouxe "A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou vulva vs. o patriarcado" para a minha coleção e posteriormente para a minha lista de 40 LIVROS ANTES DOS 40. Nessa Graphic Novel, a sueca Liv Strömquist Liv nos conta através de uma narrativa humorada, cheia de sarcasmo e ironia, como o Ocidente cristão foi construindo ao longo dos últimos dois milênios uma relação problemática cercada de de desconhecimento com a vagina ou vulva feminina e as implicações negativas dessa relação para a forma como nós mulheres existimos e nos relacionamos com nosso corpo.


Para contar a história social da vagina e a forma como o patriarcado lidou com ela nos últimos séculos a Liv Strömquist dividiu sua graphic novel em cinco partes, a saber:
  1. "Homens que se interessaram um pouco demais por aquilo que se costuma chamar de genitália feminina";
  2. "Crista de Galo de ponta-cabeça";
  3. "Ahh Haa",
  4. "Se sentindo Eva ou: Procurando o Jardim da Nossa Mãe"; e
  5. "Blood Mountain".
Em "Homens que se interessaram um pouco demais por aquilo que se costuma chamar de genitália feminina" somos apresentados a alguns homens de importância e influencia no Ocidente que usaram sua influencia para despejar sobre a vagina feminina um grau elevado de desconhecimento e ódio. Somos apresentada sujeitos que vão de ícones religiosos como Santo Agostinho, que considerava o sexo algo nojento e errado, a mulher especialmente pecaminosa e a vagina a ANTÍTESE do divino; passando pelos responsáveis pela Caça as Bruxas até homens como Harvey Kellogg, medico que além de ser o criador dos sucrilhos se dedicou a impedir mulheres de tocar seu próprio corpo chegando a sugerir que colocássemos acido carbólico puro no nosso clitóris para remediar a excitação sexual.

Em "Crista de Galo de ponta-cabeça" ela explica uma série de informações biológicas sobre "O QUE É AQUILO QUE COSTUMA SER CHAMADO DE GENITALIA FEMININA". Tem informações sobre a minha vulva que eu desconhecia. É assustador o quanto a nós mulheres foi e é sonegado informações sobre nosso próprio corpo, seu funcionamento biológico e sua aparência real desde a infância, passando pela vida adulta e durante o processo normal de envelhecimento. É assustador como não somos educadas para nos conhecer e cuidar do nosso corpo para nossa autossatisfação, pelo contrario, somos educadas para atender as expectativas de uma estrutura social que não se preocupa nem um pouco com nossa saúde ou fisiologia.


"Ahh Haa"fala sobre a história dele mesmo, aquele que, como diz uma amiga minha, "faz revirar os olhinhos": o ORGASMO FEMININO, ou melhor como as certas narrativas sobre o orgasmo feminino foram construídas ao longo do tempo no sentido de torna o sexo entre casais heterossexuais o parque de diversões do homem excluindo a mulher do direito ao prazer sexual.

Entre todos os seguimentos o meu favorito foi o penúltimo, "Se sentindo Eva ou: Procurando o Jardim da Nossa Mãe", no qual a Liv reuniu depoimentos de várias mulheres sobre sua relação com a vulva, vagina, menstruação, sexualidade. São falas intimas e por isso tocantes. É fácil se identificar com as meninas, da vontade de sentar na relva desse Jardim de Eva e contar minhas histórias.

O último seguimento da Graphic, "Blood Mountain", a Liv fala sobre a menstruação e a história de como nos relacionamos com ela, de como foi construída uma cultura de nojo contra algo natural do corpo feminino fechando um trabalho brilhante, revelador, humorado sobre as "partes intimas" do corpo feminino.


Achei "A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou da vulva vs. o patriarcado" um livro sensacional. Simples, objetivo, limpo, didático e divertido. Ele me fez pensar sobre meu corpo, me ajudou a organizar várias informações históricas, culturais, sociais e religiosas que eu já tinha; elucidou duvidas que existiam na minha cabeça e eu não sabia ter e as que eu sabia ter, mas nunca tinha encontrado oportunidade de perguntar a alguém ou lugar no qual me informar.

5 comentários:

  1. Olá, Pandora.
    Esse é um assunto que parece tabu. Todo mundo tem perguntas que não são feitas e o não conhecimento continua seguindo em frente. Eu li Viva a vagina e descobri tanta coisa, igual você disse, que eu nem sabia que queria saber hehe. Se der vou ler ele sim, porque e pareceu acima de tudo, educativo.

    Prefácio

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  2. Eu já tinha visto este livro em sites de leitura (que apresentam eventualmente livros em minha timeline) e imaginado que teria um conteúdo interessante, rsrs. Não há dúvida de que o sistema patriarcal planejou os mínimos detalhes do processo que impôs às mulheres, com o objetivo de beneficiar os homens.O resultado é o que temos visto: abusos, exploração, desigualdades, violências contra as mulheres e o escambau!
    Mas nós chegamos ao ponto em que percebemos a coisa toda, e por isso os 'mandantes' do mundo estão tratando de nos impor um novo retrocesso, para que não haja possibilidade de eles perderem qualquer das vantagens que obtiveram com o patriarcado.
    Porém, eu não acredito que eles obterão sucesso nessa nova empreitada. Simplesmente porque, uma vez que a gente chega à compreensão das coisas... não pode mais descompreendê-las! Então só posso imaginar que novas lutas nos esperam, pois eles já provaram que não estão para brincadeiras!

    Beijo e boa semana

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  3. Olá...
    Ainda não tive a oportunidade de ler esse livro, mas, é claro, tenho muito interesse em conhecer. Tenho certeza que deve ser um livro incrível e os fatos que compoe o enredo deve tornar a leitura sublime!
    Sem dúvida, é um livro com grandes ensinamentos e que toca direto em assuntos tabus.
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  4. Primeira resenha que parou para ler sobre esta graphic e amei ♥
    Ainda não li! Lembro que quando lançou, adicionei na lista de desejados, mas não cheguei comprar. Já quero ler!

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  5. Gsotei bastante das paginas que você apresentou, não conhecia essa obra mas preciso de algo sobre feminismo. Não possuo vários no tema, esse aprece claro e rápido para uma primeira leitura.

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