domingo, 3 de janeiro de 2021

E, no entanto...

Aos meus olhos parece incrível um ano ter se passado assim e, no entanto 2020 se foi e já estamos em 2021. Um genocida no poder, incertezas e descobrindo como se vive uma pandemia. A Peste Negra parecia tão longe e, no entanto, cá estamos nós com nossos muitos lutos, covas rasas, vivendo um dia de cada vez.

Para quem, como eu, saiu da vida de estudante para a vida de professora, passar um ano sem as quatro unidades, cadernetas empilhadas, avaliações por todos os lados, cansaço incrível, Pascoa, São João é uma coisa tão despropositada.

Eu acreditaria mais facilmente no fim do mundo causado pelo impacto do um cometa errado do que numa vida sem o cotidiano escolar e, no entanto, desde  março não piso numa sala de aula concreta. Minha vida pelo avesso, a falência momentânea do eixo no qual minha vida se organiza. Não sei nem como sobrevivi a esses meses.

Kpop & Ódio, lendo sobre a Idade Moderna e como o Capitalismo foi forjado na exploração dos corpos negros e indígenas. RAP Br & Esperança, lendo sobre as estratégias de sobrevivência, resistência e vivência das populações africanas, indígenas e seus descendentes.

Seja como for ainda estou aqui, escrevendo, no trigésimo quarto ano de minha vida e, no entanto, para minha surpresa tenho planos para o futuro. Eu Tenho Planos Para O Futuro. Eu nem acredito tanto assim no Futuro E, no entanto, Tenho Planos Para o Futuro. Uma piada pronta.

Nada mirabolante, junto ao grupo de mulheres leitoras do qual faço parte, por influencia de Luci, estou planejando ler quarenta livros antes dos quarenta anos. Quem de nós sabe se vai acordar amanhã?  E, no entanto, estou aqui planejando chegar aos quarenta com esses quarenta calhamaços lidos.

Escrevo sobre esses planos aqui, pois AQUI ainda tem algo de místico na minha vida. Bem ou mal, pouco ou muito, esse ainda é um reflexo do meu mundo particular. Registro de minha trajetória, de como me inventei como pessoa no mundo. Minha mitologia pessoal está registrada aqui e esse é mais um episódio dessa mitologia.

Comecei a escrever esse blog com vinte dois anos, parece mentira e, no entanto, se passaram doze anos e parece ainda existi algo intimo, como uma lista de livros, a ser escrito nesse blog em um mês de janeiro e Fernando pessoa segue sendo meu poeta favorito.

Não garanto conseguir e, no entanto, desejo chegar em 2026 e descobri: quais são os eventos marcantes dos quarenta, quais forças se adquire, quais fragilidades, quais medos, quais coragens. Quero ser mulher dos quarentar!

Vivo um dia por vez, evito criar expectativas, não forjo objetivos mirabolantes, e no entanto, tenho pequenos desejos: melhorar minha didática, levar meus estudantes aos museus, voltar a academia, adquirir músculos, ver meus estudantes chegarem a universidade, conhecer novas cidades, abraçar pessoas queridas, dormir um bom sono, acordar as vezes bem cedo e as vezes após o meio-dia, dormir cedo e tarde, ouvir rap br ao entardecer e kpop nas madrugadas.

Diante de nosso quadro é uma temeridade forjar desejos e, no entanto ainda olho para o azul do céu entre os galhos da roseira do Jardim do Meu Irmão e desejo a cada uma das pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida e a todas que ainda vão fazer: Feliz Ano Novo!

No próximo post vou contar quais são os 40 livros.

Um comentário:

  1. Oi Jaci, gostei de ler sua reflexão da pandemia/vida, é muito jovem e é gratificante (do alto dos meus 58) ver jovens que se questionam, questionam o mundo, evoluem além dos anos biológicos.
    Linda foto, a natureza nos ensina quando a observamos, cuidamos.
    Abraço e vamos lá continuar a encarar essa meleca com o pior e mais bizarro governante do planeta.

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