sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Houve um tempo...


Houve um tempo no qual bastava qualquer coisa acontecer para desaguar aqui. Avalanches de sentimentos, momentos, viagens, livros, sonhos, inquietações, desejos, pesares escritos dessa forma meio desajuizada, intima, mal pontuada e cheia de erros de grafia tão típicos de mim. Eu poderia culpar os corretores por meus erros, equívocos e esquecimentos, mas seria desonesto, os erros são quase característicos de meu estilo.

Não sei se esse tempo passou, se houve apenas uma pausa, se o instagram com a sua praticidade substituiu de vez esse espaço. A única certeza mostrada por fatos é: não blogo mais com a mesma frequência, paixão, furor e criatividade. Talvez ainda me sinta muito vazia, certamente não me sinto cheia, tenho postado com regularidade assustadora no Instagram, nem sei qual vento me trouxe aqui para escrever esse post, não sei onde pretendo chegar com essa escrita, não sei nem mesmo se vou chegar a clicar no botão laranja no qual se ler a palavra "PUBLICAR".

Apaguei todos os rascunhos que escrevi nos últimos 11 anos. Não foi tão fácil, foi tão difícil quanto escrever um post imenso capaz de ocupar cinco paginas de word nos quais falo das coisas mais intimas. Não foi tão difícil, foi tão fácil quanto deixar as palavras fluírem em uma resenha de livro ou filme tão longa a ponto de ocupar cinco páginas de word.

Agora, estou escrevendo esse post da mesma maneira que escrevi o primeiro há quase 11 anos atrás: sem nenhum post em rascunho, como se estivesse sussurrando da beira da janela do meu quarto desejando que alguém escute as coisas que preciso dizer e ao mesmo tempo tendo medo de ser escutada. 
"Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."(Álvaro de Campos, Heterónimo de Fernando Pessoa)
Ainda não chegou o dia no qual "Tabacaria" deixou de ser o texto da minha vida. Assim como o Salmo 19 cada vez mais se torna um texto "pedra angular" nesse tempo no qual, para mim, não existe escolha a não ser viver um dia de cada vez tentando não perder o folego, não me afogar, não me intimidar.
"Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite."(Salmos 19:2)
Demonstrando o quanto o Instagram se tornou presente em minha vida ao longo de 2018 já divulguei lá esse evento desimportante. Me sinto tão assustada por esse hábito recém adquirido de comunicar coisas da minha vida ao mundo através de uma rede social que me sinto tentada a prometer para de fazer isso. Mas a tentação passa logo, tenho medo de fazer promessas. Junto com uma forte descrença em relação a possibilidade de haver futuro adquirir uma antipatia por promessas, metas e desafios. Me parecem coisas propicias a desabar na primeira chuva torrencial do verão como as barreiras não cimentadas da Zona Norte do Recife.

Ainda acredito em Jesus, na Volta de Jesus, no Fim dos Tempos, em Desejo e em Sonho. No momento todos estão falando do deputado Jean Wyllys que renunciou a seu mandato pelo desejo profundo de se manter vivo, desconfio que também foi uma jogada pensada com o objetivo de colocar mais uma vez, sem garantias de sucesso, em evidencia o absurdo, o cruel e o desumano que cerca de forma escancarada a pessoa eleita para chefiar o poder executivo no Brasil. Lembro de quando conheci o Jean Wyllys em um Reality Show da TV Aberta, uma figura cativante pela qual torci com afeto e ternura como se ele fosse personagem da "Novela das 8".

Não existe mais "Novela das 8", agora elas passam as 9 e não as assisto mais por pura falta de interesse, assim como não acompanho mais Realitys Shows pois me sinto vivendo dentro deles. Há câmeras por todos os lados, eu mesma carrego uma nas mãos, e há qualquer momento qualquer um de nós pode ser eliminado literalmente. Não foi uma amiga minha, eu mesma me vi no meio de uma perseguição policial enquanto voltava do trabalho.

Ano passado, voltando do trabalho pelas escadarias estreitas da Moenda de Bronze, um dos bairros de Jaboatão, ouvi passos de adolescente correndo, pensei ser um dos meus alunos, olhei para trás com um sorriso na boca e vi um adolescente correndo escadaria abaixo com dois policiais em seu encalço, um dos policiais atirou. Sai da frente do trio de desesperados, me refugiei na casa de um vizinho da escola, mandei um áudio cheio de risos histéricos para a Luci, não consegui sai do lugar até Gabriel, no auge de seus 11 anos, ter reconhecido a minha voz e ter voltado do meio do caminho para me buscar.

A parte esse episódio, minha vida de professora em Jaboatão em 2018 foi um ponto alto dos meus dias em 2018. Foram 10 turmas: um sexto ano, quatro sétimos anos e cinco oitavos anos. Em muitos aspectos foi ótimo. O 8º A deu muito trabalho, o 7º C simplesmente não sei dizer o que aprendeu ou deixou de aprender, o 7º E foi um desafio não vencido, as 8º  D e E muitas vezes foram lugares de conforto, amor e tranquilidade, mesmo quando tudo que eles queriam era não falar de História e apenas desfrutar do fato de estarmos juntos. As vezes as melhores horas são as que não estamos nos esforçando para aprender ou ensinar, aquelas nas quais estamos simplesmente juntos. Continuo sendo uma professora desejosa de cumprir o currículo, mesmo agora quando não tenho meios de chegar minimamente perto disso.


Falando de simplesmente estar juntos, descobri nos últimos anos a possibilidade exótica e impensada de fazer parte de um Clube do Livro, faço parte de dois: o "Leituras Extraordinárias" e o da "TAG Livros" os encontros são mensais e nesses encontros falamos das nossas histórias individuais e coletivas, do micro e do macro, de livros e filmes, do tempo, dos tons de azul, do leve e do pesado, do  frágil e do resistente. É como está em um filme bom no qual as pessoas encontram a possibilidade de um final feliz. Ontem mesmo visitei o Museu de Arte Sacra em Olinda com algumas das minhas amigas do Clube do Livro, em outros tempos eu faria um passeio desses sozinha.


Houve um tempo no qual esses e mais tantos micros e macros eventos da minha vida estariam escritos aqui. Não sei como esse tempo passou. Sei apenas da continuidade do prazer de narrar. Ainda amo preencher com palavras esse espaço em branco a mesma ternura, ansiedade e insegurança de uma menina de sete anos escrevendo em um pequeno caderno de paginas coloridas suas angustias com Caneta BIC e lápis grafite.

4 comentários:

  1. Oi jaci, sua narrativa continua cheia de vida, li cada parágrafo com atenção e prazer.
    Estamos todos neste Reality, uns conscientes, outros nem tanto, mas o final do jogo é o mesmo para todos, o caminho até lá quem saberá?
    Sempre curti demais o Jean W, desde o começo de sua participação no BBB, caráter a gente percebe no dia a dia, nas atitudes... e isso ele mostrou ter. Tenho a sensação de que a atitude dele representará mais para a democracia do que sua atuação entre tantos carniceiros.
    Abraço!

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  2. deve ser muito bacana esse seu trabalho de professora. te admiro. beijos, pedrita

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  3. "As vezes as melhores horas são as que não estamos nos esforçando para aprender ou ensinar, aquelas nas quais estamos simplesmente juntos."

    Você é demais. Sempre me identifico com suas publicações e palavras. Creio que partilho de muitas das inquietações que você sente...

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  4. Olá, Pandora.
    Eu não consigo gostar do "Instagram". Acho o blog tão mais eu hehe. Tenho que reconhecer que infelizmente as suas palavras são tão verdadeiras, tenho medo de onde isso tudo pode nos levar. Recentemente li o livro Vox e fiquei besta de reconhecer ali tantas coisas que estamos vivendo. Deus nos livre de chegar a esse ponto.

    Prefácio

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