domingo, 13 de agosto de 2017

"As pequenas virtudes" de Natalia Ginzburg



"As pequenas virtudes" foi minha primeira experiencia com Natalia Ginzburg e preciso confessar: ao longo da leitura me peguei varias vezes absurdada com a forma cadenciada e despretensiosa que ela constrói sua narrativa até chegar, quando menos esperarmos, ao ponto de arrebatar e tirar a pessoa da orbita.


O livro é composto de um apanhado de pequenos textos escritos por ela entre os anos finais da Segunda Grande Guerra Mundial e o Pós-Guerra. Nesses textos ela conta de sua dor, perdas, incertezas, nostalgia, saudades, maternidade e angustia pelo futuro de seus filhos. Reafirmando meu encatamento com a autora, é nada menos que maravilhoso se pegar lendo um texto tão enxuto, elegante e bem escrito.

Por ser judia ela foi perseguida pelo governo fascista italiano durante a guerra, sofreu com o exílio em uma cidade do interior, perdeu o primeiro marido, passou um tempo na Inglaterra sentido o peso de ser estrangeira, casou novamente, foi mãe de seus filhos e escreveu, escreveu e escreveu... E é maravilhoso ler esses escritos, pois depois da leitura eles ficam conosco. Um ano depois de ter lido pela primeira vez "As pequenas virtudes" ainda me pego pensando nas coisas que li nele e o quanto elas fazem sentido.

De todos os textos o meu preferido é “Inverno em Abruzzo”, nele ela conta sobre o tempo que passou em uma cidade mais ou menos isolada com seu primeiro marido e seus filhos. Gosto desse texto em especial pela forma como em seu desfecho a Natalia ponderou sobre sonhos, felicidade e perda de um jeito doloroso e inesperado.
"Há certa uniformidade monótona nos destinos dos homens. Nossa existência se desenvolve seguindo leis antigas e imutáveis, segundo uma cadência própria, uniforme e antigo. Os sonhos nunca se realizam, e assim que os vemos em frangalhos compreendemos subitamente que as alegrias maiores de nossa vida estão fora da realidade. Assim que os vemos em pedaços, nos consumimos de saudade pelo tempo em que ferviam em nós.Nossa sorte transcorre nessa alternância de esperanças e nostalgias.
Meu marido morreu em Roma, nas prisões de Regina Coeli, poucos meses depois de termos deixado o vilarejo. Diante do horror de sua morte solitária, diante das angustiantes vacilações que a antecederam, eu me pergunto se isso aconteceu a nós, a nós, que comprávamos as laranjas de Giró e íamos passear na neve. Na época eu tinha fé num futuro fácil e feliz, rico de desejos satisfeitos, de experiências e de conquistas em comum. Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei."(pg. 19)
Esse livro revolucionou minha visão a respeito da família Ginzburg. Sendo historiadora de profissão conheço o sobrenome, Carlo Ginzburg é o autor de “O queijo e os vermes” e “Mitos, Emblemas e Sinais”, dois livros fundamentais para todo historiador contemporâneo. Quando vi Natalia Ginzburg, pensei: “Olha a mãe do Carlo!” e comprei o livro. Agora, depois de ter lido ela, quando olhar para os livros do Carlo, penso: “Olha o filho da Natalia!”.

A edição da Cosac Naify é linda, pequena e graciosa. Conta com um posfácio altamente explicativo de Cesare Garboli no qual se explica vários detalhes sobre a vida da italiana, de sua prosa e tudo o mais.

5 comentários:

  1. Oi Pandora!
    Não conhecia o livro ainda... E não sei se leria, já fiquei com vontade de chorar, só de pensar em tudo que autora passou durante a Guerra e no final dela.

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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  2. Olá! Parece ser um livro muito bom, ainda não tinha lido nada a respeito dele.
    Beijos,
    Meise Renata.
    viciadas-em-livros.blogspot.com.br

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  3. Oi, Pandora!
    Falou de Segunda Guerra Mundial, pode contar que irei ler sim. O estilo do texto não é muito do meu agrado, mas com certeza darei uma chance.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Concorra ao livro Depois do Fim autografado

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  4. Olá, Pandora.
    Geralmente não gosto de livros assim, prefiro ler ficção. Mas esse livro deve ser uma experiencia inesquecível, por isso me interessei eme ler. Sem falar que gosto muito de ler histórias da Segunda Guerra. Se der eu vou ler ele.

    Prefácio

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