No começo do ano passado eu me graduei em História, minha maior expectativa durante o curso era me tornar uma professora de História, mas a vida as vezes vai por caminhos diferentes dos que a gente sonha ou espera de maneira que eu acabei me tornando uma pesquisadora em vez de professora.
Passei a dividi meu tempo entre a Educação Infantil e os arquivos da cidade, passei pelo Arquivo Público Jordão Emerenciano, pelas Igrejas Matriz (Boa Vista, Santo Antônio, São José), pela Cúria Metropolitana, pelo Instituto Histórico Geográfico.
Passei a dividi meu tempo entre a Educação Infantil e os arquivos da cidade, passei pelo Arquivo Público Jordão Emerenciano, pelas Igrejas Matriz (Boa Vista, Santo Antônio, São José), pela Cúria Metropolitana, pelo Instituto Histórico Geográfico.
Diferente da sala de aula o trabalho no arquivo é baseado em você com você mesma, solitário, calmo, você quase não sente o movimento dos ponteiros do relógio marcando as horas, minutos e segundos em que você larga tudo e mergulha no nascimento, vida e morte de outros.
Eu não me preparei psicologicamente para o arquivo, para a multidão fascinante de gente morta que volta a vida diante de você, fala, puxa você para a imensidão do passado e repentinamente emudece, silencia, não te diz mais nada, te sufoca e ameaça com o peso das impossibilidades fazendo lembrar até que ponto uma ausência pode ser atrevida.
Eu não me preparei psicologicamente para o arquivo, para a multidão fascinante de gente morta que volta a vida diante de você, fala, puxa você para a imensidão do passado e repentinamente emudece, silencia, não te diz mais nada, te sufoca e ameaça com o peso das impossibilidades fazendo lembrar até que ponto uma ausência pode ser atrevida.
Foi nessa solidão povoada, nesse barulho silêncioso que eu aprendi a amar a música de uma certa inglesa meio destrambelhada que na época era noticia mais pelos escândalos do que pela música. Enquanto eu procurava pelos vestígios dos mortos Emy preencheu com sua voz os silêncios.
Não sou bem o tipo que tem ídolos, não faço o tipo FÃÃÃÃÃÃ.... Mas, tinha apreço por ela, torcia para que ela conseguisse se equilibrar, para que viessem outras músicas... Torcia pela felicidade dela, para que ela não se tornasse tão cedo mais uma entre a multidão de pessoas que viram um nome no jornal, um registro em um livro empoeirado ou nas páginas virtuais da net.
Bem, a morte dela já não é notícia, o jornal já se cansou de falar curiosidades e blá... blá... blá... Mas, enquanto eu começo a voltar a rotina dos arquivos ela vem comigo e novamente sua voz ecoa nesse silêncio e me acompanha quebrando a modorra que cerca esse trabalho.
Pensando nisso eu senti vontade de escrever essa pequena anotação, tão fora de tempo. Não sei se estarei sempre pesquisando de agora em diante, quanto tempo durará essa rotina, se vingarei por fim como Historiadora, se vou conquistar um lugar ao sol nesse universo tão conturbado da produção em História, mas sei que sempre que ouvir Emy vou lembrar desse inicio de século XXI, dos meus 20 anos, do trabalho no arquivo e de como nem mesmo o tempo, esse fabuloso ladrão, consegue apagar determinadas memórias.
E também eu preciso dizer meu último obrigada a essa fabulosa maluquinha que povoou nosso mundo, se daqui a 100 anos houver alguém fuçando na História de nosso tempo e essa pessoa repentinamente esbarrar nela, ou ela esbarrar nessa pessoa (há quem diga que o documento nos encontra e não o contrario) espero que esse fuçador/historiador tenha sensibilidade para entender essa moça, sua música e seu presente, nosso presente.
Bem, a morte dela já não é notícia, o jornal já se cansou de falar curiosidades e blá... blá... blá... Mas, enquanto eu começo a voltar a rotina dos arquivos ela vem comigo e novamente sua voz ecoa nesse silêncio e me acompanha quebrando a modorra que cerca esse trabalho.
Pensando nisso eu senti vontade de escrever essa pequena anotação, tão fora de tempo. Não sei se estarei sempre pesquisando de agora em diante, quanto tempo durará essa rotina, se vingarei por fim como Historiadora, se vou conquistar um lugar ao sol nesse universo tão conturbado da produção em História, mas sei que sempre que ouvir Emy vou lembrar desse inicio de século XXI, dos meus 20 anos, do trabalho no arquivo e de como nem mesmo o tempo, esse fabuloso ladrão, consegue apagar determinadas memórias.
Vista do céu do lugar onde estou na Boa Vista... |
Eu também esperava que ela fosse feliz e mudasse a rota de colisão na qual ela estava indo.
ResponderExcluirMas a vida é assim: ciclos.
E como você disse, como será daqui há anos, como a gente pensa o passado também.
Sigamos...
E como historiadora, deixou sua contribuição para a posteridade...que alguem, la no futuro, leia isso e, muito mais que entender, sinta o desejo de ter vivido estes dias...
ResponderExcluirboa noite, bjs
Que linda reflexão sobre a efemeridade! Acho pesquisa, ainda mais em história, o maximo.
ResponderExcluirbjs
Jussara
Muito bonito o q vc escreveu, Pandora!
ResponderExcluirInteressante, pensei que vc fosse professora...
Tudo de bom!
Bem Senhor Verden, eu sou professora, sou formada em História e já dei aula de segunda série a Terceiro ano e sou educadora infantil da prefeitura da cidade do Recife, mas estou de licença para fazer o mestrado que é em Educação, História da Educação!
ResponderExcluirPandora
ResponderExcluirVocê está deixando um relato da sua "história" hoje. Muito bom.
Sabe que meu marido é formado em história, mas assim que conseguiu o diploma não quis mais saber (acho que nem foi buscar).
A semana passada visitando uma escola do curso Fundamental, voltou cheio de ideias e disse: Se me perguntassem hoje sobre a coisa que eu mais gostaria de fazer eu diria: Ensinar para crianças.
Bom, ele adora; não tem criança que passe perto dele que ele não converse.
bjs
Oi Pand,
ResponderExcluirTão bom ler um pouco de sua trajetória, sou sua fã!
E sobre essa moça? Ah!nem tem oque dizer, que voz maravilhosa (mesmo quando não se segurava de pé).
A lutacontra asdrogas é tão injusta, até mesmo quando se quer lutar. Sô quem tem alguém na família (como eu) sabe..
beijo nega!
Pandora quando nos dedicamos a pesquisar nos damos conta de como os registros podem trazer as representações de uma época e os blogs poderão fazer parte destes arquivos. Estamos contribuindo para que o futuro saiba deste nosso presente. Bem interessante a forma como assinalou a passagem desta cantora em sua trajetória. bjs
ResponderExcluirOi Pandora descobri seu blog por acaso , mais desde da primeira vez que li seu conteúdo me apaixonei pela sua forma de escreve que passa sentimentos pelas palavras...
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho....
É Jaci, o tempo realmente é mestre em apagar as memorias. Mas tambem é mestre em valorizar. É o tempo que destaca os grandes mestres. Pena mesmo, Amy não ter seguido em frente. Quanto a historiadora, amei sua descrição. Adoro fuçar o passado. Porque num fiz historia, hein? Oxe! Sabia que não conheço nenhum museu em PE? Tenho maior vontade, mas não sei andar sozinha na Capitá...rs. Num mangue di eu, não, visse? rs. Bjs
ResponderExcluirClaudia, obrigada pela visita e pelo carinho, seja sempre muito bem vinda por aqui!!!
ResponderExcluirMari, vc daria uma boa historiadora, pq tem um senso critico apuradissimo!!! Esse negocio de andar na cidade é complicado mesmo, eu vivo me perdendo!!!
Que linda homenagem querida! Ela realmente era ímpar! Lembro qdo comecei a escutar logo qdo ela se lançou e fui mostrar p/ marido (que é músico) e ele ficou doido! Falei p/ele: "pena que ela vai morrer logo", (a própria Amy disse isso) e não é que foi mais cedo do que imaginávamos?!
ResponderExcluirBjão enorme e ameiiii muito a frase que vc postou nos coments ontem! Emocionante! =))
A gente sempre espera que as pessoas que tem problemas como esse,drogas,se recuperem,mesmo quando não a conhecemos.
ResponderExcluirBacana teu post,Pand.
Bjka querida
Poxa, eu adorei esse post. Você falou de uma forma tão simples e sincera dessa "maluquinha". Pra ver, de onde menos esperamos... ela preencheu com sua voz os silêncios que te rodeiavam.
ResponderExcluirBjs
Mah
Sim, o tempo é um fabuloso ladrão, mas mesmo ele não pode roubar nossas memórias... deve ser muito legal o trabalho de um historiador... eu não sou históriadora, mas sou musicista, sou interprete musical, dou vida ao passado também, através da música, como vc dá vida ao passado através das suas pesquisas... bela homenagem e reflexão sobre o passar do tempo e o que ele nos deixa, o que ele nos dá... um beijo!
ResponderExcluirParabéns pela música, Pandora.
ResponderExcluirEssa é uma das minhas músicas favoritas há muuuuuuito tempo, e ela é provavelmente a única que se conservou no TOP 10.
Me ocorreu que eu nunca prestei minhas condolências a ela.
RIP, Amy.
Tenha bons sonhos, Jaci.