domingo, 29 de agosto de 2010

O que é Buriti???

Pergunta de fácil resposta essa, se você não sabe é só ir no grande pai google, aquele que tudo sabe e digitar a palavra, ele te enviará em resposta um linck para a Wikipédia e ela te dirá que:

"O termo buriti é a designação comum a plantas dos gênero Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astrocaryum, da família das arecáceas (antigas palmáceas). Contudo o termo pode e referir ainda à Mauritia flexuosa, uma palmeira muito alta, nativa de Trinidad e Tobago e das Regiões Centro e Norte da América do Sul, Venezuela e Brasil, predominantemente nos estados da região norte, em especial no Pará, Maranhão, Roraima e Rondônia, mas também encontra-se nos estados do Piauí, Bahia, Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso, Acre e São Paulo. É também conhecida como coqueiro-buriti, buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira-dos-brejos, carandá-guaçu, carandaí-guaçu."

Legal, Buriti é uma planta... É, mas não é só isso, se você trocar o i pelo y e escrever Burity, você não terá o nome de uma planta e sim o nome de uma parte do Recife, o nome do Alto do Burity, eu não moro nesse alto, mas acabei me familiarizando com ele durante a época em que estava fazendo meu curso de graduação na UFRPE. A melhor opção de transporte para mim era o linha Burity/Macacheira, uma linha cheia de problemas, que conta com pouquissimos ônibus, uma verdadeira provação para quem precisa dela, e que tem um percurso tão ingreme, mais tão ingreme que o grupo que usava essa linha para ir e vim da UFRPE e da UFPE batizou o ônibus carinhosamente de avião.

Eu peguei o avião por quatro anos e meio e foi, a despeito dos atrasos, dos problemas de percurso e de tudo o mais, uma experiência ótima, a demora do ônibus e a falta de outra opção de transporte favorece o estabelecimento de laços de amizade entre as pessoas que pegam esse ônibus e o resultado é que a gente acaba colecionando boas recordações dentro desse transporte, com direito até a comunidade no orkut. Se esse ônibus falasse contaria muitas histórias, histórias de violência, de medo, de opressão, de necessidade, de falta de responsabilidade do poder publico para com a população das áreas elevadas da cidade, histórias de gente que luta, que brinca, de ler, que ora, que quer vencer, que trabalha duro, que supera desafios, que conquista espaços melhores, histórias de vitórias e derrotas, histórias de vida e morte.

E o que me incomoda é que quando pesquiso sobre esse alto, esse lugar, só encontro as histórias de morte de violência e derivativos... O todo poderoso Google não tem todas as respostas. Ele não responde satisfatoriamente a pergunta "O que é Burity em Recife-PE?", mas tenta e até consegue dá alguma luz a quem se interessa por perguntar a ele...

Na tentativa descobri um video que mostra parte do percurso do ônibus... uma verdadeira aventura, já que as ruas são estreitissimas, esburacadas e movimentadas por pessoas, carros e derivativos, se bem que as 11 quando eu voltava para casa esse problema não existia e o motorista fez já fez o percurso Integração-Terminal no tempo recorde de 05 minutos \o/... Os motoristas são verdadeiros artistas, porém se você tem o coração fraco eu decididamente não aconselho, especialmente Dema (apelido carinhoso de um dos motorista, o nome dele ninguém sabe), ele é o pior, o mais louco, insano, perfeito para aquele dia que vc sai de casa atrasada e precisa fazer o percurso na metade do tempo e também para aquele dia que vc chega atrasada na parada e o ônibus tá saindo é só acenar desesperadamente se ele te ver ele espera... independente da distância que vc tiver. Ah, achei ótimo o menino dizendo "Acuda Senhor!" rsrsrsrsr...


Outra coisa interessante sobre o transporte para quem vive nas áreas elevadas de Recife foi a serie de portagens do JC online "Ônibus no morro: o transporte publico em lugares difíceis de chegar", a reportagem fala do Morro da Conceição e é interessante (desde o ano passado reuno material para falar sobre a devoção no Morro da Conceição, mas nunca consigo posta por, preguiça, falta de tempo... aff...). Achei a proposta dessas reportagens interessante e necessária, já que o transporte urbano por aqui é de da raiva, mas isso acontece em toda cidade... e acabamos sendo mais um grupo de moradores queixosos...  E existe aquele tratamento dual do poder publico em relação a todos nós, se por um lado nos ignoram devido a nossa baixa renda e etc e tal, mas também somos numerosos, um formigueiro humano votante e  na época de eleição somos os primeiros ser-mos lembrados e ocorre uma verdadeira invasão domiciliar de candidatos ansiosos por votos em nossas casas... E sim, eles sobem e descem ladeira, corrego, beco e favela atrás de nossos preciosos votos na maquininha...


O que os preciosos políticos esquecem, e que os jornais e derivativos não se preocupam em debater, é  que esses  operários, pedreiros suicidas, migrantes da zona da mata e de estados próximos a Pernambuco, pessoas que lutam pela vida em sub-empregos não são pessoas desprovidas de inteligência ou estratégia de sobrevivência e planejamento de futuro...

Após as seis e meia da noite esse ônibus que pela manhã transporta os moradores do bairro para seus empregos, sub-empregos e derivativos, abre espaço para os filhos desses homens e mulheres e os filhos se encaminham para as Universidades da cidade (UFPE/UFRPE), para a escola técnica federal da cidade e mesmo para as faculdade pagas, afinal com todas as mazelas o Pro-Uni é uma coisa que nós usamos em alta escala por aqui... Na falta de espaço dentro dos centros de conhecimento o ônibus virou nosso lugar de debate, e como a gente debate, o lugar onde a gente revive o eterno duelo entre as ciências humanas e as ciências da natureza, onde os cientista sociais e historiadores em formação debatem sobre seus autores e sobre os conceitos de suas ciências, onde os estudantes dos pré-vestibulares recebem estimulo e trocam figurinhas com aqueles que já passaram pela experiência do vestibular, onde formados ajudam graduandos, onde livros são trocados... em meio aos solavancos do ônibus existe vida intelectual em um exemplo de resignificação do espaço.

Se imagina todo o tipo de coisa quando se pensa em uma linha de ônibus em um morro desses, mas você imaginaria entrar em ônibus, em um subúrbio de uma grande cidade e encontrar alguém conversando sobre Teoria do Caos, ou sobre filosofia da história, os livros que Fernando Henrique Cardoso, taxonomia, Química Industrial, Relatórios do Tribunal do Santo Oficio, Direito Civil, o trabalho dos biólogos  na transposição do Rio São Francisco etc e tal??? Não, reveja seus conceitos!!!

Ah, essa semana fui novamente a Rural pela manhã, estava com a câmera na mão, resolvi tirar umas fotos do percurso, como vcs podem ver, a despeito de realmente os subúrbios das grandes cidades serem violentos, ninguém sai roubando alguém a troco de nada, o rapaz gravou o percurso do ônibus e ninguém deu uma "botada" na camera dele, eu tirei minhas fotos tranquilamente e ninguém mexeu comigo, peguei esse ônibus a noite durante 4 anos e meio e nunca fui roubada ou coisa do gênero... Se bem que existe alguns probleminhas sim de segurança, com alguns jovens desocupados e galhofeiros... E tudo bem, existem GRANDES PROBLEMAS... mas, não é só de problemas que nós vivemos...

Realmente em todos os lugares do Brasil a gente encontra um lugar para jogar futebol, era bom uma biblioteca também!

Do alto eu vejo: mais altos!!!

Esse é meu conceito de formigueiro...


3 comentários:

  1. Amo suas postagens, ador, e ostaria muito de divulga-las.... posso?
    Voce descreve aqui um ideal que tenho, deconceito, de que nos adaptamos, fazeos de cada lugar, nosso, um lugar para aprender, mudar, lutar. E so nos darem, ou nos darmos, os alimentos: o conhecimento. E nos irems difundi-lo onde menos se espera.
    bjs

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  2. Saudades desse lugar! Passei bons momentos ai...

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  3. Olá, minha querida! Estava com saudades daqui... gosto de ler-te!

    Beijos e boa semana!

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