sábado, 4 de novembro de 2023

Ministrando aulas de História, fazendo aulas de dança, limpando a estante... fragilizada e tentando não quebrar de vez...

Esse arco final do ano está sendo dramático... Nunca me percebi com uma pessoa frágil, muito pelo contrário, tantas vezes me movi no mundo como quem arrasta uma espada, pronta para batalhar por uma vaga na universidade pública, um espaço no ônibus lotado as 6 da manhã, o salário para complementar a renda familiar e prover minha família, o direito ao acesso a Educação Infantil Pública, Gratuita, de Qualidade e Afetuosa para os bebês de uma creche na Zona Norte do Recife... Mestrado, vaga de professora publica concursa, ensino de História na Escola Pública, Gratuita, de Qualidade e Afetuosa... Política Antirracista, Piso do Magistério, Luta contra o Machismo, #EleNão, antifascismo, manutenção da qualidade de vida de meus pais, meus irmãos, meu país...

Não só vivo no mundo como enfrento aquilo que não concordo no mundo. Apesar não me considerar uma pessoa forte, sempre que alguém diz: "Você é mulher forte!", penso: "Eu não sei nem o que é força!" e, no entanto nunca me sentir frágil até aqui... É horrível! Não recomendo! Pequena, fraca, derrotada tudo bem... Isso eu entendo... MAS FRÁFIL É DEMAIS PARA MIM. Até admitir isso é um esforço e todavia é verdade, estou fragilizada.

Confiro as partes do corpo, pés, mãos, pulmão, rins, coração, fígado, pele e vejo as rachaduras, os inchaços, feridas mal curadas ou não curadas, inflamações, assaduras e queimaduras de incêndios que nem mesmo lembro de ter enfrentado. Alguma coisa interdita o plexo solar e a força da vida parece ter dificuldade de fluir pelas veias e artérias. Estou absurdada encarando minha fragilidade emocional... estou a beira de quebrar. Aaah meu Deus! Como isso foi acontecer a mim que aprendi desde cedo que pequenos e fracos também lutam e que sofrer derrotas nas batalhas não significa o fim da guerra? A mim que apesar do romantismo aprendi o pragmatismo? A mim que fui morar longe dos meus pais numa cidade que só conhecia de vista?

Ministro minhas aulas, estou fazendo aulas de dança, as vezes tiro uma foto ou outra em um ponto especialmente iluminado da minha casa por motivos de registro, compro livros, leio livros, tento escrever no meu blog uma vez por mês ao menos, me alegro lendo os blogs das pessoas amigas... limpo minha estante... e estou fragilizada sentindo que qualquer batida pode me quebrar em pedacinhos. Qual batida será a derradeira batida?

Eu abri esse post para falar de outras coisas... queria escrever sobre uma sequencia de romances especialmente ruins que andei lendo, mas os dedos me levaram por outro destino. Não sei como comecei a explorar esse tema e não sei como para, não sei qual destino da a esse texto, como finalizar a narrativa de minha fragilidade emocional diante da minha vida.

Recentemente houve a Feira de Conhecimentos na escola onde trabalho. Fiz parte da equipe de professores que coordenou as apresentações do 6º Ano E do 9º Ano B. O tema da rede de Jaboatão dos Guararapes esse ano foi: “Arte e Cultura em Jaboatão: fortalecendo tradições!” e as turmas abordaram respectivamente a história da "Igreja Matriz de Santo Amaro" em Jaboatão Centro e o poeta marginal "Miró da Muribeca". Os trabalhos ficaram lindos, dentro do contexto no qual trabalho, considerei uma baita vitória.

Em um clássico da cultura escolar brasileira, construímos um mural na sala para expor as produções dos estudantes. O 6º ano E foi a turma que mais deu trabalho, mas na tradição escolar as turmas com as letras D & E não são conhecidas por serem as fáceis. Entre pesquisas, produção de cartazes e visitação a quadricentenária Matriz de Santo Amaro eles mostraram que não há arrependimentos quando se trata em investir esforços nos processos pedagógicos dos estudantes.

Foi muito legal conhecer a história dos milagres de Santo Amaro, sua vida, carisma e devoção. Ele homenageia ruas e mais ruas, bairros e mais bairros no Brasil e foi só com o 6º ano que aprendi sobre um rapaz filho de um senador romano que entrou em um lago sem saber nadar para salvar um amigo e acabou andando sobre as águas. Também foi IMENSAMENTE gratificante levar as crianças para conhecer o prédio histórico que é a Matriz de Santo Amaro, ela fica em um lugar muito central na cidade e é o epicentro de uma festa capaz de atrair milhares de pessoas a Jaboatão Centro em Janeiro.



O 9º Ano E trabalhou a figura do Miró da Muribeca, como são estudantes maiores, eles precisaram de menos esforço de minha parte para entregar o trabalho final. Como de costume, alguns estudantes apresentaram trabalhos fantásticos outros fizeram um arrumadinho meio mais ou menos só para se safar de zerar uma nota e "nada de novo sob o sol". De toda forma concluí a feitura e apresentação dos trabalhos da "Feira de Conhecimento" é como conclui a parte mais pesada do ano letivo.




Desde 2019 vivo a saga de está sempre buscando uma atividade física para fazer. O preço do sedentarismo é muito alto de forma que o exercício físico da vez é a aula de dança. Em julho abriu um Studio de dança do outro lado da minha rua e, por incentivo da minha vizinha, acabei me matriculando. Tem sido uma experiência bem divertida, bem fora da minha zona de conforto. Mesmo sendo uma das dançarinas mais duras da aula, todas as meninas dizem que estou mais reboladinha em relação a seis meses atrás. Recentemente participamos de um festival de dança, foi divertido, apesar da vergonha.


Um produto interessante dessas aulas de dança é que na ultima confraternização da escola me vi dançando com uma amiga, Aninha. Foi um momento muito terno, deixou todas as pessoas com as quais trabalho admiradas, uma delas aproveitou e registrou.


Toda pessoa leitora tem um orgulho de sua estante. Seja grande ou pequena, uma estante para quem ama livros é um objeto central na casa. Por esses dias estive limpando um e outro pedaço de minha estante.




São tantos livros lidos, tantos livros que quero ler. Eu olho para eles e rememoro as histórias dos livros lidos enquanto me pergunto quais histórias guardam os não-lidos. É muito gostoso amar algo e ter acesso a esse objeto amado. É muito gostoso viver em um lugar cercada de livros, poder me deter neles, bagunça-los, organiza-los, amar uma história e detestar outra. Minha coleção é um pedaço de mim fora de mim e dentro de mim também.

Por esses dias aconteceu COMUDE de Jaboatão (Conferência Municipal de Educação), pela primeira vez me inscrevi para participar. Foi bem cansativo, mas também bastante gratificante. Encontrei algumas pessoas amigas por lá e conheci tantas outras enquanto íamos discutindo inclusão, antirracismo, financiamento para educação, valorização do trabalho docente... a escola dos nossos sonhos e os meios para torna-la cada vez mais real para todos e todas e todes.


Estou escrevendo hoje aqui de Igarassu, vim passar o Feriadão que juntou o "Dia dos Servidores Públicos" com o "Dia dos Finados" com o sábado e domingo. Lion andou bastante adoentado. Fiquei bem aborrecida com Mainha pois ela escondeu isso de mim. Ainda me arrependo horrores de não ter levado esse mal humorado comigo quando me mudei. Agora ele está melhorzinho com uma cara fuinha danada e com esse ar mal humorado que é típico dele.


Hoje o dia amanheceu chuvoso, o quintal da casa dos meus pais não para de um jeito só, meu pai tem uma coisa nele que impede ele de desfrutar das coisas. Ele vê uma coisa e logo pensa como pode altera-la, isso me enerva bastante e garante a manutenção da bagunça, ainda assim acordei encantada com as plantas, as flores, a mangueira do quintal da vizinha e os coqueiros ao fundo. Lembrei do Salmo 19: "um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite."


Não sei o que fazer de mim em meu atual estado de fragilidade, mas vou descobrir. Por conselho de várias amigas, estou considerando fortemente a terapia. Me desejem sorte!

8 comentários:

  1. sim, somos treinadas a ser forte. mas podemos sim ser frágeis e não dar conta de tudo. fique bem. beijos, pedrita

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  2. Hoje pela manhã li algo que quero trazer aqui porque sei da sua admiração por São Francisco de Assis e acho que o vi ali na tua estante. Será ele mesmo?
    Dizia algo assim - São Francisco remendava sua túnica por fora, para deixar à mostra, para mostrar que como ele era por dentro, assim mostra por fora.
    Em tempos de tanta perfeição nas redes, é bonito expor as rachaduras, as fragilidades.
    Quero te parabenizar pelas aulas de dança. Sigo em estado poste.
    Essa lindeza e dedicação dos alunos só pode ser fruto da palavra afetuosa que apareceu em tua escrita.
    Beijo, ana paula

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    1. Todo dia descubro um motivo diferente para amar São Francisco de Assis.

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    2. Todo dia descubro um motivo diferente para amar São Francisco de Assis.

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  3. Caraca, tem tanta coisa pra falar aqui, nesse comentário, que estou até perdido. Mas, antes de qualquer coisa, preciso falar do... Lion. A Ana, do comentário acima, sabe da minha paixão por gatos. Amo. E deixa o muleque ficar com a carinha de poucos amigos dele... rsrs.
    Menina, tua postagem tem várias faces. Na primeira, quase que me deprimo junto. E já vi essa história muitas vezes. Aliás, quase que você contou a minha história. E sabe por que você está assim hoje, se sentindo um copo de cristal prestes a rachar? Isso acontece, normalmente, lá na infância. Nascemos frágeis ao extremo, mas Deus coloca em nós um termômetro. E sempre que notamos que estamos "em perigo", algo se arma em nós, para nos defender. Crescemos assim, nos defendendo, batendo, mordendo, se fechando para que o mundo não nops derrube. Criamos casca, costas fortes. Mas, em um certo dia qualquer, damos bobeira, e a fragilidade, que nem sabemos que existe, nos toma. Em resumo, a primeira parte do teu texto mexeu imensamente comigo.
    Já na segunda parte, falando da Feira de Conhecimentos, a coisa mudou de figura. Você ama isso, não é? Menina, você babou tanto essa parte, que meu computador quase entrou em curto. Foi como mudar de universo. E foi nesse ponto que encontrei alguém que está no lugar certo. Se você não fosse professora, acho que só teria uma opção na vida: ser professora. Que lindo.
    E dance. Dance muito. Tinha tanta coisa pra fala, mas esqueci a metade, mas, deixa pra lá.
    Agora, quanto a questão da fragilidade? Sei não! Eu acho que pra te derrubar, precisa de um trator bem grande.
    Grande abraço, e vai dançar, menina.

    Marcio

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  4. Falei que tinha esquecido de muita coisa.... e como sou um cadim abusado, vou abrir outro comentário.
    Vendo as fotos de sua estante, lembri de uma história pessoal.
    Quando eu cursava o segundo grau e, posteriormente (e por longos 15 anos) comecei uma e outra faculdade, meu pai se interessou pela leitura. Ele, hoje com 79 anos de idade, tem apenas o ensino básico, quarta série do primário, e leu seu primeiro livro quase aos 40 anos de idade. O detalhe é que foi um livro que eu levei para ele, emprestado na biblioteca da escola.
    O tempo passou, comigo sempre levando livros para ele da biblioteca, até que descobrimos os sebos. Daí virou festa. Entrei na PUC, com uma biblioteca gigante, e ele leu, em um único ano, 72 livros, isso provado pelo registro digital de empréstimo que está até hoje lá na PUC de Curitiba.
    O armário de livros de meu pai conta com mais de 200 livros, mas não sabemos ao certo quantos livros ele leu nesses quase 40 últimos anos, isso por conta dos empréstimos que fazíamos, mas de uma coisa eu me orgulho. Eu sustentei, sustento, e sustentarei esse "vício" de meu pai pela leitura enquanto eu puder.
    Desculpa, Pandora. Esse comentário está totalmente fora do contexto de sua publicação, mas vendo sua estante, não pude evitar. Grande abraço, menina.

    Marcio

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  5. Olá, tudo bem? Noto que as pessoas estão mais fragilizadas no pós-pandemia. Boa sorte então, como você pediu. Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  6. Oi, Jacilene. Em primeiro lugar, quero agradecer as visitas tão carinhosas que você fez lá no blog. Espero que consiga ir a Martins e aproveitar uns dias por lá. Viajar é sempre muito bom e renova nossas energias. Sobre ter conseguido fazer um diário de viagem.. bom, na verdade esta foi a primeira vez e só deu certo porque eu programei as postagens (hehehe). Gostei bastante do resultado e quero fazer outros diários de viagens no futuro. =)
    Olha, fazer terapia é muito bom. É um momento para conversar e contar nossas aflições. E quando a gente coloca pra fora o que está sentido, de certa forma tudo vai ficando um pouco mais leve. Acredito que essa fragilidade esteja relacionada a mudança também. Uma nova cidade, a distância dos familiares e pessoas queridas, novos desafios a serem enfrentados. Tudo isso mexe com a gente e com os nossos sentimentos. Não é fácil. Mas, se puder te consolar, lembre-se que depois da tempestade vem a bonança. <3
    Fico feliz que esteja fazendo aulas de dança. Dançar é tão bom, né?! E você ainda participou de um festival. Parabéns!!! É bom se permitir sair da zona do conforto de vez em quando.
    Um beijo enorme e um forte abraço. =)

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