Como Professora de História, tenho vivido a saga da construção de uma bibliografia robusta sobre os temas integrantes do currículo escolar brasileiro. Apesar da crescente desvalorização da Educação Escolar; do fato das aulas de histórias serem apenas três por semana, com sorte meus estudantes, frequentes, terão, ao final do ano letivo, 130 horas de estudo da História; tenho horror a ser propositalmente uma professora desatualizada. Então, quando descobri a "Coleção África e os Africanos" da Editora Vozes senti imensa alegria.
Através da "Coleção África e os Africanos" a Editora Vozes se propõe a trazer ao mercado editorial brasileiro uma mistura de clássicos dos estudos históricos sobre a África com o que há de mais atualizado sobre a temática. Só pelos títulos e sinopses a gente já sente a força dessa coleção e o quanto é interessante para quem tem interesse no tema.
Conhecimento Histórico é fundamental para enfrentar com lucidez os desafios da vida, e não dá para ignorar o tanto que é desafiador o enfrentamento do Racismo Estrutural Brasileiro. Abordar bem a História da África na sala de aula pode ser uma arma nesse desafio, além de haver a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Acho que não é exagero afirmar o quanto uma coleção desse porte é essencial para docentes e estudantes.
Abaixo segue a lista dos livros que atualmente fazem parte da coleção, a medida que forem sendo lançados novos títulos irei atualizar essa lista. Também pretendo ler e resenhar os títulos, a medida que for fazendo as resenhas irei colocar o link aqui da mesma forma que tenho feito no post "Livros sobre a História da África".
No site da Livraria Vozes é possível encontrar uma página dedicada aos livros da coleção, CLIQUE AQUI para ir lá.
"No Centro da Etnia: etnias, tribalismo e Estado na África" de Jean-Loup Anselle e Elijia M'Bokolo.
Sinopse: Muitas vezes os próprios antropólogos foram os responsáveis por um abuso da noção de etnia, nem sempre usada de forma precisa. Os textos reunidos nesta obra – que se tornou um clássico desde sua publicação em 1985 –, mediante a conjugação de análises de alcance geral com estudos de casos, procuram se interrogar sobre essa noção controversa a partir da situação africana. Com efeito, era importante repensar as noções de etnia e de tribo, cada vez mais associadas a outras noções como a de Estado e de nação. Era necessário retornar a determinadas formas de classificação por demais esquemáticas e reducionistas.
"Escravidão e Etnias Africanas nas Américas: restaurando os elos" de Gwendaly Midlo Hall.
Sinopse: Pessoas escravizadas foram trazidas para as Américas de muitos lugares da África, mas uma grande maioria veio de relativamente poucos grupos étnicos. Gwendolyn Midlo Hall traça os laços linguísticos, econômicos e culturais compartilhados por grandes números de africanos escravizados, demonstrando que, apesar da fragmentação da diáspora, muitos grupos étnicos mantiveram coesão suficiente para comunicar e transmitir elementos de sua cultura compartilhada.
"Atlas das Escravidões: da Antiguidade até nossos dias" de Marcel Dorigny e Bernard Gainot.
Sinopse: Este Atlas apresenta um balanço sintético, amplo e completo dos conhecimentos históricos sobre a questão delicada e complexa da escravidão. Além de 150 mapas e gráficos, ele irá mostrar uma análise mundial do tráfico de escravos, do séc. XV ao séc. XIX, uma abordagem global e original das sociedades escravagistas, a expansão desse tráfico pela internacionalização das trocas comerciais, a difusão do Iluminismo e o rápido desenvolvimento do movimento abolicionista em escala internacional, além da permanência da escravidão e a complexidade de seu legado e de suas memórias.
"Sair da Grande Noite: Ensaios sobre a África descolonizada" de Achille Mbembe.
Sinopse: Há meio século, a maioria da humanidade vivia sob o jugo colonial, uma forma particularmente primitiva de dominação da raça. Sua libertação constitui um momento-chave da história de nossa modernidade. Que esse evento quase não tenha deixado sua marca no espírito filosófico de nosso tempo não é lá um grande enigma. Nem todos os crimes engendram necessariamente coisas sagradas. Alguns crimes da história resultaram apenas em máculas e profanações, na esterilidade esplêndida de uma existência atrofiada – em suma, na impossibilidade de “fazer comunidade” e de retrilhar os caminhos da humanidade. Será que podemos dizer que a colonização foi justamente o espetáculo por excelência da comunidade impossível – uma convulsão tetânica e ao mesmo tempo um sibilo inútil? O presente ensaio lida apenas indiretamente com essa questão, cuja história completa e detalhada ainda espera ser escrita.
Sinopse: África Bantu introduz, em cinco capítulos temáticos, os leitores a diversos métodos e abordagens de coleta e análise de dados para escrever as histórias de povos e sociedades cujo passado remoto não foi, muitas vezes, preservado em documentos escritos. Assim, a reconstrução da história antiga Bantu deve apoiar-se no uso de múltiplas metodologias e abordagens. Evidências foram retiradas da linguística, da genética, da arqueologia, das tradições orais, da história da arte e da etnografia comparada. O objetivo desta obra é oferecer aos alunos uma compreensão da história do mundo Bantu, no longo prazo, em áreas que os leitores podem identificar como cultural, política, religiosa, econômica e social.
"A invenção da África: Gnose, filosofia e a ordem do conhecimento" de Valentin-Yves Mudimbe.
Sinopse: Este livro traz um panorama da filosofia africana. Num sentido estrito, a noção de filosofia africana refere-se a contribuições de africanos que praticam a filosofia no quadro definido da disciplina e sua tradição histórica. Neste livro, esse registro mais amplo parece mais apropriado para o conjunto de problemas discutidos, todos baseados numa questão preliminar: até que ponto pode-se falar de um conhecimento africano, e em que sentido? Etimologicamente, “gnose” está relacionada a gnosko, que significa “conhecer” em grego antigo. Portanto, o título é uma ferramenta metodológica: ele envolve a questão do que é e não é filosofia africana e também orienta o debate para outra direção ao enfocar as condições de possibilidade da filosofia como parte do corpo mais amplo de conhecimento sobre a África chamado de “africanismo”.
"A ideia de África" de Valentim-Yves. Y. Mudimbe
Sinopse: Este livro, uma continuação da aclamada obra "A invenção da África", de Valentim-Yves Mudimbe, traça a “ideia” de África em função de diversos contextos históricos e geográficos desde a antiguidade grega até o presente. Mudimbe centra-se em dois aspectos principais: a tematização greco-romana do Outro e a sua articulação em conceitos como a barbárie e a selvageria e o processo complexo que moldou a ideia de África, tal como os europeus a entendem. África é descrita como um paradigma da diferença no considerável espaço intelectual englobado. Partindo de uma reflexão sobre a tradução francesa, datada do século XVII, da obra Ícones do grego Filóstrato, Mudimbe tece considerações sobre as ligações gregas ao continente africano, o paradigma grego e o seu poder, e a política da memória. Em capítulos específicos, é efetuada uma crítica à recuperação dos textos gregos por parte de acadêmicos negros e uma análise da atividade contemporânea na arte africana.
"O Poder das culturas africanas" de Toyin Falola
Sinopse: "O poder das culturas africanas" evita caminhos batidos e explora com sutileza o uso africano da cultura como uma ferramenta desconstrutiva nas respostas aos e na apropriação dos agentes externos de mudança. Este estudo valioso reúne as fontes de estudos africanos contemporâneos em diversas disciplinas. Interpretações conflitantes são mantidas em tensão por uma mente poderosa. Isso o torna uma leitura cativante. O principal objetivo deste livro é discutir a relevância da cultura para os africanos na era moderna. A definição e o significado de cultura são amplos: valores, crenças, textos sobre as crenças e ideias, inúmeras práticas cotidianas, formas estéticas, sistemas de comunicação (p. ex., línguas), instituições sociais, uma diversidade de experiências que captam o modo de vida dos africanos, uma metáfora para expressar ideias políticas, e a base de uma ideologia para promover mudanças políticas e econômicas.
tem vários aqui https://www.companhiadasletras.com.br/Busca?q=africa&x=0&y=0
ResponderExcluirNão conhecia essa coleção, mas anotei algumas dicas.
ResponderExcluirhttps://www.balaiodebabados.com.br/
Que grata surpresa! Eu conhecia apenas o lado católico da editora Vozes. Que riqueza essa coleção e que maravilha seus alunos terem você como professora de História!
ResponderExcluirBeijo
ana paula