"Manual da Demissão" de Julia Wähmann

"Manual da Demissão" é um livro narrado em primeira pessoa no qual Julia Wähmann descreve, entre o dialogo e parodia com com manuais de autoajuda e "faça você mesmo" as várias facetas da vida de uma pessoa recém demitida no Brasil entre esses dias de Crise Econômica, Impeachment, Golpe, Fora Temer etc e tal. Se valendo de humor ela conta sobre o desamparo que acompanha a pessoa demitida, a tristeza do pós-demissão, as burocracias legais e o mar de vazio e autopiedade no qual uma pessoa recém demitida pode se deixar mergulhar.

Assim como a protagonista do livro, em dezembro de 2016 fui agraciada com o som de um "Desculpe, é crise!" somado a um delicioso "pé na bunda" então ler o livro foi quase uma experiencia de mergulho em meu passado recente. Só não me identifiquei mais com a protagonista pois eu tinha outro emprego e o "pé na bunda" não foi de um namorado e sim de uma amiga.

Fora isso, tudo foi bem parecido, fui expulsa da convivência de duas coisas que monopolizavam grande parte de minha atenção, lidei com sindicatos, bancos, indenização, acordar no velho horário de trabalho, sentir síndrome de Estocolmo, chorar um pouquinho, dormir demais... A protagonista de "Manual da Demissão", eu e muitos brasileiros e brasileiras precisamos aprender a lidar com a nova parcela de tempo ocioso, com a nova disponibilidade, com as ausências e com o novo cenário politico-social-econômico brasileiro no qual ser demitido é mais comum que ter emprego.

Este é um livro bastante atual, Julia Wähmann tem um humor na escrita que lembra os Chick-Lits da Sophie Kinsella, que abordam o cotidiano das mulheres de classe média desse inicio de século XXI, sem ser tão prolixa quanto a Marian Keyes, ela tem o poder de síntese enorme. O livro é de fácil leitura, li em um folego só, dei risada, muitas vezes para não chorar,  e terminei com muita vontade de ir ali atrás de alguma coisa do escritor chileno Roberto Bolaño citado inúmeras vezes ao longo da história.