"Não é verdade que há palavras para tudo. Também não é verdade que sempre se pensa em palavras. Até hoje há muitas coisas que não penso em palavras, não as encontrei, não no alemão do vilarejo, não no alemão citadino, não no romeno, não no alemão oriental ou ocidental. E em nenhum livro. Os meandros interiores não coincidem com a linguagem, eles nos levam a lugares onde as palavras não podem permanecer. Muitas vezes é o decisivo, sobre o que não se pode dizer mais nada, e o impulso de falar a respeito é bem-sucedido porque ele passa ao longe. A crença de que falar destrincha os emaranhados só conheço do ocidente. Falar não concerta nem a vida no milharal e nem aquela sobre o asfalto. Também só conheço do ocidente a crença de que não se pode suportar o que não tem sentido." (Herta Müller)
A citação acima foi tirada do ensaio "Em cada língua estão fincados outros olhos" contido no livro "O rei se inclina e mata" da autora romena Herta Müller.
Particularmente acredito no poder das palavras e na capacidade que elas possuem de nos ajudarem a digerir a vida, mas lendo as palavras da Herta não posso deixar de concordar, refletir e reajustar minha percepção do mundo e das possibilidades da linguagem verbal.
Existem sentimentos inominados, situações indescritíveis, camadas de realidade sobre as quais dificilmente é possível palavras contar. Há ocasiões nas quais as palavras caem como pedras de um barranco e a alegria e a dor se tornam indizíveis. Não por acaso existem coisas comunicadas com o olhar, o abraço, o sorriso, o choro e mesmo com o silêncio.
Particularmente tenho dificuldades de lidar com o silêncio, a lacuna, a falta de palavras. Aceitar o indizível tem sido uma das aventuras da vida. Ainda estou aprendendo a compreender o não dito, as coisas só sentidas, o pressentimento, o incomodo, as sensações presas no ar, nas entrelinhas, nos espaços da comunicação e considera-las reais.
A parte isso, preciso ainda: para quem gosta de prosa poética, de encarar reflexões sobre a experiência de ser e estar nesse mundo a romena Herta Müller é uma excelente pedida. Sua escrita é muito influencia pela experiencia de viver sobre o peso da ditadura comunista na Romênia, então o sofrimento e trauma estão em pauta nos seus livros. Fugindo do formato dramalhão ela tende a aprofundar suas reflexões mais e mais e nos leva a ponderar sobre aspectos dolorosos da vida que tendem a passar despercebidos.
Minha primeira experiencia a autora foi com o livro "O compromisso" e foi amor a primeira linha. Fiquei encantada como a forma como Herta contou a história de uma mulher comum que tem o compromisso de prestar depoimento a policia secreta. Ela sai as oito da manhã para um compromisso as 10 e durante o caminho nos conta de forma não linear a história da sua vida. Sou uma grande fã de conversas em ônibus e coisas do tipo, lendo o livro me sentir em uma conversa dessas. Fiz até resenha para o livro, quem quiser conferir deixo o LINK.
Uma das minhas metas de vida é ler o máximo possível de Herta Müller. Ela é uma autora a ser desbravada mais e mais.
Olá, Pandora.
ResponderExcluirNum primeiro momento, esse não é o tipo de livro que eu goste de ler. Mas lendo suas palavras tão carregadas de sentimentos, me fez querer ler alguma coisa da autora. Acredito no poder das palavras e no silencio delas também. As vezes uma palavra não dita significa muito mais do que a preferida. Vou ver se consigo ler alguma coisa dela.
Prefácio
Oi Pandora!
ResponderExcluirNão conhecia essa autora e achei muito interessante a forma como usa as palavras transmitindo o que sente e com reflexões sobre experiências de vida. O livro Compromisso deve ser muito bom. Gosto também desse tipo de narrativa.
Beijinhos
Oi! Esse livro é daqueles que só você lendo para saber se gosta. Apesar das palavras e sinopse não temos muita noção do livro em si. Vou tentar ler e conhecer a escrita da autora. Bjos ❤
ResponderExcluirClick Literário
Oi Jaci! O verbo e o silêncio se misturam dentro de mim...de uma forma ou de outra. Pareceu-me uma autora bem interessante, é uma pena que livros ainda sejam de fácil acesso apenas para poucos, sem falar da falta de estímulo para a boa leitura.
ResponderExcluirAbraço!
Olá.
ResponderExcluirNão conheço esta autora,mas a forma como descreve sua escrita me agrada. Acredito que as palavras são importantes, mas sabemos que nem sempre chega a outro da forma como o orador pretendia, às vezes o silêncio se faz necessário. Bjs
Pandora, eu tenho gostado cada vez do silêncio que fala sem e além das palavras.
ResponderExcluirE também sou uma fã de uma conversa no ônibus. Um curto espaço de tempo e uma vida inteira se desnudando.
Beijo!