domingo, 5 de janeiro de 2020

Registros de Ausência

Não quero abrir mão desse espaço, mas é inegável o quão negligente me tornei com esse blog com o decorrer do tempo. O blog ficou praticamente 2019 inteiro entregue as traças. Uma terra abandonada colecionando páginas e páginas vazias enquanto meu instagram segue sendo alimentado com  constância religiosa.

Claro, toda pessoa detentora de um blog intimo sabe: nada se compara ao blog. O instagram é rápido e dinâmico, mas nada supera a intimidade dessa interface, a liberdade de não ter limites de caracteres e a satisfação de um post publicado. Mesmo quando a possibilidade de alguém ler vai de vaga a remota, o processo de blogar é mais exigente e o de clicar no botão "Publicar" promove, ao menos em mim, uma catarse mais consistente.


Blogar para mim faz parte do enfrentamento de qualquer situação pela qual eu esteja passando. Sou uma pessoa para a qual a escrita é uma atividade fundamental. Eu vivo minhas experiências e as reconstruo na escrita. Também escrevo sobre as experiências com as quais sonho para ter fôlego para vivê-las. Ter me afastado daqui muito a muito reflete a forma como venho evitando e adiando decisões primordiais em minha vida.

O tempo existente entre a percepção da necessidade da mudança e a realização da mudança é aflitivo. Essa é minha mais recente descoberta. Antes de perceber a necessidade de mudar somos inocentes e apesar de toda inocência cedo ou tarde ser castigada, quando estamos imersos nela estamos protegidos. Quando nos lançamos na atividade estamos exercendo liberdade e todo exercício de liberdade detêm sua dose de  prazer e catarse. O momento entre a consciência da necessidade e o suprir da necessidade é onde estou e esse momento está sendo especialmente aflitivo.

Talvez eu esteja sendo prolixa aqui.... Ai como é BOOOOOMMM ser prolixaaaaaaaaa.... Ser prolixa é praticamente parte de meu estilo de escrita. Escrever três palavras em vez de escrever apenas uma é um delírio. Escrever duas vezes antes de pensar é um deleite. Obviamente no meu contexto ser lida não é uma necessidade. Embora eu tenha a esperança vaga de ser lida por alguém e um comentário sincero numa postagem seja sempre uma alegria, nesse momento o mais importante para mim é escrever. É produzir essa escrita como resultado de meu confronto comigo mesma, como uma fagulha de esperança de que seja possível mudar, como um embrião de um novo plano na minha vida sem planos.

Ontem Rafael me disse que existe futuro. Eu só acredito no AQUI e no AGORA. Mas há pessoas que acreditam nessa abstração absurda chamada FUTURO, nesse momento quero crer que elas tenham razão.

Para mim ter mais de 30 anos tem sido como viver outra infância sendo eu minha criança e também minha própria adulta responsável. É bem mais divertido do que ter 20 anos, eu tenho vivido momentos muito lúdicos. Tenho sido minha própria adulta permissiva, pouco disciplinadora. Quando a criança chora eu dou um doce a ela e evito confrontar o motivo do choro. Quando ela deseja algo fútil dou a ele sem nem mesmo questionar. Só não quero birra, só não quero que ela incomode alguém, quero discrição e silêncio e sorrisos fáceis.

Toda educadora infantil sabe para onde esse tipo de atitude converge. Fui educadora infantil por uma década. Nada justifica minha atitude, não é como se eu não soubesse como como amenizar ansiedades infantis, ajudar no enfrentamento dos medos, construir vínculos de confiança e solidariedade, criar formas de comunicação. Não é como se eu não soubesse que existe o momento de ser permissiva e o de ser disciplinadora. Não é como se eu não soubesse como fazer as coisas. É apenas como se eu estivesse com preguiça de fazer. Logo eu que sempre fui irritantemente conscienciosa. Acusada publicamente com frequência aterradora de querer fazer o certo o tempo todo, como se querer fazer o certo o tempo todo fosse um crime. Ao menos agora eu entendo a opressão contida em não permitir a comodidade das atitudes displicentes. As vezes ser displicente é questão de sobrevivência.

Para não me afogar aprendi a boiar sobre a superfície da água, agora é preciso nadar. Toda hora duvido da força dos meus braços e morro de medo de afogar. Tenho tantos medos e duvidas. Aluguel ou financiamento? Será que vou da conta de luz, água, comida, manter a ajuda da casa dos meus pais? E todos os moveis necessários? Cama, fogão, geladeira? Minha mãe vai se sentir abandonada e solitária? Eu vou me sentir solitária? Vai sobrar dinheiro para os livros? Eu vou da conta sozinha dos afazeres domésticos? A Natalia me deu um esporro massa e por conta dela comecei uma poupança. A poupança se encontra em um ponto mínimo, pois com frequência me bate umas crises de ansiedade e eu torro uma grana insana com livros. Preciso de terapia.

Ah sim, não é só medo de enfrentar esse momento angustiante que me trava os dedos. Minha ausência prolongada aqui também se deve a falta de espaço físico para abrir um computador e blogar. Mesmo agora estou no quarto do meu irmão, eu sei o quanto já usei várias vezes o quarto dele como escritório, mas fica mais difícil quando ele tem namorada. Também fica difícil dividir o computador com Júnior e Rafaela. Ou talvez difícil mesmo seja ter mais de 30 anos e ainda  usar o quarto do irmão como escritório e dividir o computador com dois irmãos como se fossemos adolescentes. Júnior (meu irmão) está cursando Engenharia de Pesca e Rafaela (minha irmã) está estudando como louca para a residência e para concursos, nesse contexto eles tem prioridade no uso computador.

Bem, mesmo alguém prolixa sente quando é o momento de finalizar o texto. De muitas formas essa lacuna horrorosa de registros nesse blog é um registro também. Ela documenta a ausência de meu enfrentamento da necessidade de um próximo passo na minha vida. Já me graduei, fiz meu mestrado, encontrei o emprego desejado. Agora preciso ser a minha adulta responsável, construir meu próprio ninho.

É isso! Feliz 2020 a Todas e Todos. Espero sinceramente não registrar ausências em 2020. Desejo para vocês o mesmo que desejo a mim: fôlego para viver o exercício da Liberdade. Mesmo que ela nos leve a arrependimentos, ser livre também é fazer coisas das quais nos arrependemos.

E em todo caso é como disse o Felipe Arco:


6 comentários:

  1. eu amo blogs. as outras redes sociais são mais voláteis. e textão no instagram eu não suporto. tenho uma preguiça enorme de ler. e aqui eu posso ler esse post daqui uns 5 anos. achar uma postagem no instagram meses atrás já é difícil. eu gosto de dividir a minha vida cultural. e a família ficava cansada. no blog cada um lê o tema q interessa. eu tenho sonhado demais com mudança e não vou me mudar de apartamento. acho q estou querendo muito mudar, não de espaço físico. e não sei como. com a crise está difícil de dar conta das contas. e não vejo perspectivas no futuro. realmente se eu tivesse q blogar com alguém do lado me tolheria tb. aqui quem atrapalha as blogagens é a gata. eu estava aqui lendo e comentando ela veio no colo e eu parei, voltei agora. um bom tempo depois. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
  2. Bom ter notícias de você, Jaci, e ainda por cima com esse texto maduro e reflexivo.
    Quer saber, minha opinião aos 57, parabéns pelos questionamentos, qto mais cedo melhor, conflitos existenciais sempre existirão. O barco é seu, navegue!
    Abração, adorei o post!

    ResponderExcluir
  3. Começo e fim são apenas pontos de vista.

    E adiando responder duas mensagens que você bem sabe quais são, aqui estou eu finalmente comentando num texto em que fui citado (ou acusado? Memorizado para ser julgado por toda a eternidade? Rancorificado?). Como você também bem sabe, recebemos/lemos/fazemos as coisas na hora que devemos fazer.
    Ainda assim, acredito que embora vivamos no agora, fazemos sempre planos para o futuro, e nós, em especial, guardamos o passado próximo, vivo. E pessoas que não acreditam em futuro estão ganhando agendas e chamando de planners. E, citando aquela música daquela distopia que tanto gostamos secretamente, "Coisas estranhas já aconteceram aqui... Então, não seria estranho..."
    Também sinto falta de blogar, mas não o suficiente para voltar a isso.

    Embora ache correto que o tempo entre a percepção da necessidade da mudança e ela de fato seja aflitivo, não acho correto dizer que você anda adiando ou evitando decisões na sua vida. Muito pelo contrário... Como Erica Bain, você reclama e você chora, mas acaba fazendo o que precisa ser feito. Na hora que você quer. Na hora que você decide. Mas é assim que todos nós fazemos, então, faz parte. Também acho muito difícil começar as coisas. Escrever a introdução. Iniciar aquela mensagem. Começar o comentário. A conclusão está sempre pré montada, embora sujeita a mudanças, e o desenvolvimento vai se escrevendo sozinho... E tudo muda, amiga...

    Acho que mencionei pra você há alguns anos que tenho medo de altura. Descobri de repente, há quase 3 anos... E me aterrorizou por dois longos anos. Ainda não me sinto 100% à vontade com alturas, mas no ultimo semestre, ando me sentindo menos desconfortável. Não sei se já sei voar, mas não sinto mais a sensação de queda.
    E você já consegue boiar. Nadar virá, na hora certa. Como veio um puxão, e uma entrada na piscina como se fosse uma passada.

    Acho que todos nós precisamos de terapia, e são poucos com coragem o suficiente para admitir. Mas um chaveiro pra casa nova você já tem. E penas também.

    Feliz 2020, amiga... Eu estou aqui. Espero que em breve, eu esteja aí. E que você esteja aqui. Ou nós estejamos lá.

    Começo e fim são apenas pontos de vista.

    ResponderExcluir
  4. Jaci, que alegria encontrar essa postagem tua!
    Abri o computador porque lembrei do aniversário do meu blog. Lembrei de tantas coisas...
    E tive que admitir olhando de forma nua e crua para o marcador dos arquivos que já blogue 224 vezes em um ano e apenas nove em outro.
    Mas os blogueiros realmente sabem da preciosidade que esse espaço carrega.
    Te desejo boas mudanças com frio na barriga, com erros e acertos e com o impulso e força que já te habitam.
    Que nós bloqueios possamos estar em nossos blogues nesse 2020!
    Um beijo!

    ResponderExcluir
  5. Passo para desejar
    Santa Páscoa, cristã!
    Que a luz desta manhã
    De domingo, no teu lar,
    Venha a iluminar
    Teu espírito e mente
    Com a luz do Onipotente
    Senhor Deus Celestial
    E que o Cordeiro Pascoal
    Seja à tua alma um presente!

    Feliz Páscoa, linda! Abraço! Laerte.

    ResponderExcluir
  6. Você ameaçou e cumpriu com o que disse;
    Puxa, Jacilene. Deixou a gente assim,
    oh! Triste, triste, sabia?
    Beijos, se os quer ainda.

    ResponderExcluir