Continuo vivendo a aventura de participar da educação de adolescentes, mergulhada na estranha experiência de me dedicar ao Ensino de História. Há quem diga: "a escola não educa, ela ensina". Não consigo conceber meu oficio dessa forma. Embora entenda o quão tentador é limitar minhas obrigações ao espectro do "passar conhecimento", me roubaram cedo demais a ilusão de que conhecimentos podem ser transferidos de um cérebro ao outro como se fossem mililitros d'água indo da jarra ao copo.
Educar, em qualquer nível, é sempre um jogo de tentativas e erros. Tento desesperadamente acertar, o problema é consegui, meus alvos são moveis, não tem lá muita vontade de serem acertados. Possibilitar a outros a chance de construir sua jornada pelo conhecimento e pensamento critico é sempre difícil. Quero muito ver meus alunos com seus diplomas, cheios de pensamento crítico, tendo acesso ao que lhes é de direito. Sou cheia de de boas intensões, assim como o Inferno.
Estou devendo uma carta para algumas amigas, no entanto já consegui escrever outras cartas antes dessa, voltei a ser uma correspondente. Mas da pretensão da escrita a execução existe um caminho a ser seguido e minhas semanas tem sido malucas, cheias de coisas. Até mesmo um amigo que eu não via há milênios cruzou comigo semana passada, se tivéssemos combinado não teria acontecido.
Estou participando de um Clube do Livro, ele é maravilhoso, chama-se "Leituras Extraordinárias", porém extraordinárias mesmo são as pessoas que compõe o clube. São pessoas queridas demais, mesmo quando o livro é um desastre como "Ao Sul de Lugar Nenhum" do Charles Bukowski a perspectiva de encontrar com eles e elas é EXTRAORDINÁRIA.
Sinto que sutilmente minhas leituras deixaram de ser apenas um exercício de tentar preencher espaços vazios. Elas estão voltando a ser alimento e passaporte de para novos Mundos e Culturas. Ler voltou a ser um mergulho no olhar de outras pessoas. Estou redescobrindo livros como piscinas, lagos, rios, mares e até oceanos, lugares para nadar as vezes com proteção ampla, as vezes um maiô basta e em outras ocasiões a água convida a nudez. Ler é uma delícia!
Leio muito durante as minhas manhãs no metrô e nadando em livros faço a passagem do mundo dos sonhos para a realidade... As vezes paro a leitura, olho para a janela e me pergunto se estou acordada ou dormindo, me belisco, olho em qual estação estou, geralmente estou bem perto da estação final e o frenesi da saída do metro faz a multidão me empurrar através das portas do Sonhar. A realidade finalmente me alcança e desço a rampa junto com todo mundo para mais um dia de aulas.
Sinto muito sono o tempo todo. As vezes fico ansiosa com a lenta passagem das horas. Nesses momento, confiro as partes do meu corpo e mente e não me sinto caindo ou desaparecendo ou me afogando. Apesar da asma estou respirando sem ajuda de aparelhos. Semana passada entrei numa piscina e nadei sozinha. EU NADEI!
Foi nado cachorrinho, mas foi nado com minhas próprias pernas e braços. Avancei pelas águas, nadei! A alegria não coube dentro de mim, me permitir boiar deixando o sol me aquecer, lamber e queimar. Se eu fosse uma flor seria um cacto, porém se eu pudesse escolher seria um Girassol, sempre um Girassol!
Continuo me sentindo como a Alice desbravando o País das Maravilhas, perdida em Através do Espelho. Contudo, não estou chorando, lembro o meu nome, considero a "menina crescida" que sou e a longa distância percorrida até aqui. Penso em seis coisas impossíveis antes do café da manhã e acredito nelas. Estou respirando com meus pulmões, nadando com minhas pernas e braços, preenchendo meus vazios, não vou chorar!
Que lindo ler sobre seu processo de crescimento, suas descobertas e constatações!
ResponderExcluirParabéns por tudo o que você vem conquistando!
Marina Carla- Devaneios e Desvarios
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Cartas a amigas? Tenho concorrência? Agora mesmo é que tenho certeza que a próxima carta só vai chegar em 2018.
ResponderExcluirE tu voltou a nadar? Que bom! Tô tentando criar vergonha pra fazer algo do gênero.
Confesso que não sei se me adaptaria a um clube de leitura por ter que escapar do meu ritmo próprio, mas definitivamente é ótimo ter com quem conversar sobre livros, tanto pra elogiar quanto pra criticar.
Enfim, como falamos outro dia, acho que é isso que vale: Tu tá se reencontrando e espero conseguir seguir teu exemplo.
não é fácil difundir conhecimento porque cada um tem o seu tempo de assimilação e tb suas histórias que podem ajudar ou não. tb leio nos transportes públicos. biejos, pedrita
ResponderExcluir"Sinto que sutilmente minhas leituras deixaram de ser apenas um exercício de tentar preencher espaços vazios."
ResponderExcluirMe sinto exatamente da mesma maneira!
Me identifiquei bastante com seu texto, especialmente por enxergar uma "inquietude" no que cerne ao ato de educar/ensinar.
Também não consigo conceber meu trabalho como apenas um ato de transferir/transmitir conhecimentos. Essas limitações sociais são muito pequenas em relação ao que faço [e ao que gostaria de fazer].
Minhas jornadas literárias me permitiram crescer enquanto sujeito pessoal e profissional.
Sou reflexo dos personagens que amei, dos alunos que cativei e das pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para que pudesse "nadar com minhas próprias pernas e braços".
Amei seu texto.
Boas leituras. Boas aulas. Boas viagens.
Sobre devaneios e fascínios educacionais: Confabulando com Tio Helder
Que amor esse post! Ser professora realmente não deve ser NADA fácil, a minha mãe é professora e eu vejo tudo que ela passa por aqui e realmente, é uma montanha russa de emoções. Sempre quis escrever cartas, acho tão lindo. Vou tentar fazer isso alguma vez. E sempre achei incrível a ideia de Clubes do Livro, deve ser realmente extraordinário, aliás, faz muuuito tempo que não leio, preciso voltar a ativa! Nadar é ótimo, né? Eu não nado tãaaao bem, mas adoro mesmo assim hahaha e se eu fosse uma flor, também seria um girassol!
ResponderExcluirUm beijão,
Gabs | likegabs.blogspot.com ❥
Oi Jaci! que post lindo, cheio de afeto e esperança embutidos em cada parágrafo, em cada reflexão. Boas "viagens"!
ResponderExcluirCara Pandora...
ResponderExcluirNunca se comentar nada sem me ter como referência, portanto, lá vai:
Não sei dançar, cantar (tento, mas canto mal), tocar qualquer instrumento (até quando toco campainha o som sai desafinado), nem nadar e não sou bom em nada a não ser não-ser-bom-em-nada (e mesmo nisso sou nulidade pq tem gente que me supera).
Kharma...
Então sei bem a glória de uma gigantesca pequena conquista, embora eu mesmo ainda não tenha experimentado qualquer coisa semelhante.
Mas eu sei e te felicito como a vencedora que é.
Não deixe que te convençam do contrário, pq o que são moinhos pra uns são gigantes a serem batidos por outros. E o oposto é verdadeiro...
PS: Quando pego metrô, sinto como se estivesse parado e o mundo lá fora é que está a correr enlouquecido em direção contrária e me pergunto sempre pra onde vai o mundo com tanta pressa...