"As aventuras de Simbad, o Marujo" é uma das histórias mais importantes da minha vida, conheci esse conto durante a infância, li e reli várias vezes, mesmo agora ainda quero ser Sidbad. Quando descobri que ele pertencia as narrativas das "1001 Noites" quis ler tais narrativas e procurei por elas bibliotecas a dentro, mas só em meado de 2005 vi o professor Mamede Mustafa Jarouche tinha traduzido o "Livro das 1001 Noites" do árabe para o português e descobri em qual fonte buscar minha satisfação leitora.
Infelizmente, em 2005 eu tinha 16 anos e nenhuma renda. Só me restou esperar o grande dia no qual eu poderia ter esse bendito livro. E eu esperei, e o tempo passou, foram e vieram prioridades até que o belo dia no qual em meio a andanças virtuais, encontrei com o box da Biblioteca Azul e, com uma enorme dose de delírio, comprei o danado.
Meus sentimentos quando o livro chegou nas minhas mãos são como o que Clarice Lispector escreveu no conto "Felicidade Clandestina" sobre a sensação de finalmente conseguir ter o livro "Reinações de Narizinho".
Desde sua chegada as minhas mãos tenho lido o livro vagarosamente, me deixando ficar com ele no colo, elaborando rituais para prolongar o prazer, deixando ele pousado na estante como se eu nem soubesse da existência dele ali. Ler esse livro é uma experiencia de felicidade com poucos precedentes.
No "Livro das 1001 Noites" conta-se a história de um Rei que após ser traído por sua esposa se desilude com todas as mulheres e em um ato de vingança decide todos as noites casar com uma mulher e mata-la ao amanhecer. A matança se espalha pelo reino e o terror passa a varrer todas as casas até o momento no qual a filha do vizir, Sahrazad, "conhecedora das coisas, inteligente, sábia e cultivada", decide acabar com a matança usando um estratagema chamado de "contação de histórias".
Contando com o apoio da irmã mais nova ela começa a contar uma história capaz de cativar a atenção e a curiosidade do Rei até o ponto no qual o Sol nasce e a história fica incompleta. Para ouvir a continuação O Rei preserva a vida da narradora que vai continuar usando a estratégia noite após noite adiando sua morte dia após dia.
Com seu conhecimento e astucia, a jovem salva a si e também a outras, pois enquanto ela não é assassinada ninguém mais é. As histórias são usadas para afastar o terror da morte de todas as mulheres do reino, elas preservam a vida de todas e ao longo do tempo tratam curar o rancor do homem traído enquanto divertem e instigam sua alma a alçar novos voos.
Em um contexto assim, ler as fábulas de Sahrazad é simplesmente um deleite. A maior parte delas não tem propositalmente nenhum teor didático, moralizante ou um padronizado. O livro é um conjunto de todos os tipos de gêneros possíveis e imagináveis: romance policial, sátira, poesias e poemas, romance, aventura, fábulas, histórias picantes e até religiosas costuradas em labirintos e teias intricadas e instigantes de se acompanhar.
Com seu conhecimento e astucia, a jovem salva a si e também a outras, pois enquanto ela não é assassinada ninguém mais é. As histórias são usadas para afastar o terror da morte de todas as mulheres do reino, elas preservam a vida de todas e ao longo do tempo tratam curar o rancor do homem traído enquanto divertem e instigam sua alma a alçar novos voos.
Em um contexto assim, ler as fábulas de Sahrazad é simplesmente um deleite. A maior parte delas não tem propositalmente nenhum teor didático, moralizante ou um padronizado. O livro é um conjunto de todos os tipos de gêneros possíveis e imagináveis: romance policial, sátira, poesias e poemas, romance, aventura, fábulas, histórias picantes e até religiosas costuradas em labirintos e teias intricadas e instigantes de se acompanhar.
A box da Biblioteca Azul é um espetáculo para quem ama a leitura, a História e tem paixão por linguística. Nele nós encontramos o prefácio do professor Mustafa Jarouche no qual ele nos conta a história do "Livro das Mil e Uma Noites" cujo fragmento mais antigo data de 879 d. C. e é originário do Iraque. Nem sempre o conteúdo do livro correspondeu exatamente ao número de noites, só por volta do século XVIII escribas egípcios conseguiram chegar as 1001 adicionando, ao sabor de seu próprio gosto, várias histórias em circulação no mundo árabe.
Existem dois ramos do livro, o Ramo Sírio, no qual não se completa as 1001 noites e o Ramo Egípcio, esse sim com um titulo condizendo com o conteúdo. O box da Biblioteca Azul contém o Ramo Sírio, nos vol. 1 e 2; e Egípcio, nos vol. 3 e 4. Eu terminei de ler o vol. 1 do Ramo Sírio e a leitura foi uma viagem incrível pontuada com magia, malicia, encantamento e muita história com H maiúsculo pois dialogando com fantasia nesses livros estão registrados muitos dados sobre vários aspectos da cultura dos povos do mundo árabe.
As histórias da Sahrazad revelam um Mundo Árabe amplo; tecnologicamente desenvolvido, em comparação com a Europa da época; geograficamente e economicamente conectado com vários povos através de rotas comerciais, Bagdá, Cairo e até a China são destinos pelos quais os personagens circulam; com uma diversidade étnica e religiosa surpreendente, persas, cristãos, judeus e muçulmanos convivem e dialogam de diversas formas.
O Ramo Sírio do "Livro das 1001 Noites" é composto por manuscritos copiados entre o século XIV e XVIII nas terras árabe-asiáticas hoje conhecidas como Líbano, Síria e Palestina. Nele nos é dado a saber sobre um mundo feito de grandes cidades, transações comerciais, mulheres com inteligencia aguçada, homens cuja sorte se define por saberem fazer um doce de damasco inconfundível.
Sahrazad emerge do texto como uma narradora de conhecimento e sabedoria impar, incomoda muito o quanto a figura dela foi sensualizada ao longo do tempo. Surpreende muito como essa sensualidade NADA tem a ver com o texto contido no "Livro das 1001 Noites", em nenhum momento os aspectos físicos da personagem são descrito. A mais famosa contadora de histórias da especie humana é descrita da seguinte forma:
"Sahrazad, a mais velha, tinha lido livros de compilações, de sabedoria e de medicina; decorara poesias e consultara as crônicas históricas; conhecia tanto os dizeres de toda gente como as palavras dos sábios e dos reis. Conhecedora das coisas, inteligente, sábia e cultivada, tinha lido e aprendido." (pg. 49)
Outra coisa incomoda tem sido percebe o quanto a maior parte das histórias da 1001 noites popularizadas no ocidente são protagonizadas por homens, enquanto no livro é possível encontrar histórias protagonizadas por personagens de ambos os gêneros.
Aliás, voltando no tópico sensualidade, por incrível que pareça, apesar de para muita gente noites árabe evocarem sensualidade, as mulheres cujas histórias são contadas não estão presas em haréns ou derivativos.
As mulheres cujas histórias Sahrazad trás a tona são criaturas urbanas de diversas classes sociais e ocupações. Em suas narrativas existem princesas e plebeias; livres e servas; humanas e djins; solteiras, casadas e viúvas. Espalhadas casas, mercados e becos em cidades efervescentes, elas circulam, se ocupam, vendem, compram bens e serviços enquanto se movem para uma aventura ou tem uma aventura sendo movida em torno delas.
Nas histórias feitas para entreter a fúria do Rei, mulheres tramam e se prendem em tramas ao sabor da necessidade e situação, dificilmente usam recursos sensuais e, em posição oposta a de quem conta tudo, não possuem grilhões prendendo suas mãos e pés.
Com sua protagonista genial, no verdadeiro sentido da palavra, O livro das mil e uma noites segue ampliando seu espaço em meu coração, fixando raízes e me deixando mais e mais apaixonada por seu conteúdo. Facilmente ele entra na lista dos 10 melhores livros da vida. E, só para constar, quando eu terminar de ler o vol. 2 do Ramo Sírio volto a falar sobre ele.
Aliás, voltando no tópico sensualidade, por incrível que pareça, apesar de para muita gente noites árabe evocarem sensualidade, as mulheres cujas histórias são contadas não estão presas em haréns ou derivativos.
As mulheres cujas histórias Sahrazad trás a tona são criaturas urbanas de diversas classes sociais e ocupações. Em suas narrativas existem princesas e plebeias; livres e servas; humanas e djins; solteiras, casadas e viúvas. Espalhadas casas, mercados e becos em cidades efervescentes, elas circulam, se ocupam, vendem, compram bens e serviços enquanto se movem para uma aventura ou tem uma aventura sendo movida em torno delas.
Nas histórias feitas para entreter a fúria do Rei, mulheres tramam e se prendem em tramas ao sabor da necessidade e situação, dificilmente usam recursos sensuais e, em posição oposta a de quem conta tudo, não possuem grilhões prendendo suas mãos e pés.
Com sua protagonista genial, no verdadeiro sentido da palavra, O livro das mil e uma noites segue ampliando seu espaço em meu coração, fixando raízes e me deixando mais e mais apaixonada por seu conteúdo. Facilmente ele entra na lista dos 10 melhores livros da vida. E, só para constar, quando eu terminar de ler o vol. 2 do Ramo Sírio volto a falar sobre ele.
eu quero muito ler esse livro. eu passei anos só lendo de bibliotecas públicas. quando a situação melhorou um pouco passei a adquirir alguns em sebos. beijos, pedrita
ResponderExcluirMenina, há anos você me fala desse livro, e só agora, depois desse texto maravilhoso, me ascendeu a vontade de comprar e ler a obra. kkk Parabéns! Um forte abraço!
ResponderExcluirOi Pandora!
ResponderExcluirComo não querer mergulhar nesse livro da Mil e uma noites. Um dos melhores livro e ler e fiquei encantada com seu post e com uma vontade imensa de mergulhar nessa história.
Boa leitura !
Beijinhos
Mulheeeeeer, que resenha <3 Já quero, já quero e já quero.
ResponderExcluirEssa resenha veio no momento certo, pois minha sobrinha faz ballet e nesse ano eles irão apresentar As mil e uma noites. Eu pouco conhecia da história. Ok, eu nada conhecia. Sempre achei que era uma história sensual, sobre uma mulher linda e fogosa. Vergonha de mim neste momento. Daí quando a minha sobrinha me falou o que apresentaria, eu fiquei chocadésima hahahha, daí fui pesquisar um pouco e soube da história do rei e da moça inteligente. Mas foi só com a sua resenha mesmo que eu fiquei com vontade de ler o livro. De conhecer todas essas histórias. De conhecer essas mulheres fortes e protagonistas de suas histórias.
Muito obrigada por esse post lindo.
beijooos
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/
Olá, Pandora.
ResponderExcluirEu não sabia sobre essa série de livros e já quero também. Deve ser incrível acompanhar essa leitura. E já quero chegar logo nessa parte egípcia, que amo. Apesar de conhecer a história nunca li As mil e uma noites e não sabia que a história do Simbad fazia parte delas. Eu li as aventuras de Simbad quando criança também e cheguei a acompanhar uma série que passava na Globo a muitos anos atrás. Parabéns por mais essa resenha linda.
Prefácio
Pandora, seu texto transborda o amor que você tem pelas Mil e Uma noites! E claro, contagia, faz ter vontade de ler.
ResponderExcluirEu não sei absolutamente nada a respeito e já vou ficar esperando o Ramo Sírio.
E saber da sua paciência e persistência até conseguir adquirir o livro, é admirável!
Beijo.