domingo, 11 de agosto de 2013

O desafeto a literatura nos tempos do Império - Parte 1


Parece mentira, mas me ensinaram durante os sete longos ano de curso de História e pós-graduação que nem sempre existiu o país Brasil, na verdade o nosso país é uma invenção até recente, no frigir dos ovos não temos mais que 200. Essa enormidade geográfica localizada no sul da América na qual as pessoas falam o estranho idioma chamado português começou a ser inventado no inicio do século XIX, mais especificamente em 1822.

Bem, há quem não acredite nisso, vocês meus queridos companheiros de virtualidade podem não acreditar, mas um contemporâneo da "Independência do Brasil", o fracês August de Saint-Hilaire disse com todas as letras do querido alfabeto: "Havia um país chamado Brasil, mas absolutamente não havia brasileiros". Foi ao longo dos oitocentos que vários dos pilares de nossa vida social e identidade foram construídos, tudo isso foi registrado de diversas formas e entre elas está a literatura.

Uma das coisas que eu tento por todas as vias possíveis e imaginárias é compreender porque os leitores brasileiros tem tanta resistência aos textos literários produzidos nesse período. É mais que mero desinteresse é quase uma desafeição generalizada a autores como José de Alencar e Machado de Assis.


Eu tento compreender o motivo dessa desafeição generalizada, muitos justificam que isso se deve a um primeiro encontro traumático nas aulas de português do Ensino Médio no qual a "Literatura Brasileira" é conteúdo obrigatório e os autores canônicos como o tal do Machado e o tal do Zé de Alencar são OBRIGATÓRIOS. Bem, putz, esses autores estão no currículo porque são tão importantes que as pessoas que elaboraram os Parâmetros Curriculares Nacionais (um grupo composto por alunos, professores e acadêmicos) considerou que é DIREITO de todo e qualquer brasileiro conhecer esses autores.


Não é maldade, não é questão de obrigatoriedade é questão de direito!!! Que uma adolescente confunda direito com obrigatoriedade e implique vá lá... Mas os adultos arrastam essa implicância pela vida como um tipo de amuleto de sorte e esquecem que melhor que conhecer o outro é conhecer a si mesmo. Aliás, é possível conhecer melhor o outro quando conheço bem a mim e tudo aquilo através do qual eu me tornei quem sou.

Bem, eu não sei se estou certa quando penso as coisas expostas nos dois últimos parágrafos... De fato, como acontece com inúmerxs jovens brasileiros a mim, como aluna de escola pública localizada em uma comunidade popular favela, foi negado o CONSTITUCIONAL DIREITO de ter aulas regulares de literatura brasileira durante os meus anos de ensino médio e o resultado disso foi ter conhecido José de Alencar e Machado de Assis por acidente nas estantes da biblioteca escolar.

Primeiro veio os romances de Alencar, confesso que os romances indianistas jamais me atraíram, mas os romances urbanos.... Aaaah... Quanto perde quem não dã uma chance a eles!!! A cidade do Rio de Janeiro se erguia diante de mim como que por mágica, as moças bem vestidas, os moços com seus ternos, as carruagens, os bailes, as sensibilidades... Tudo tão bem descrito, tudo sob aquela áurea tão particular.

Era maravilhoso contemplar o passado pelo olhos de José de Alencar. Confesso, hoje a criticidade misturada ao ceticismo me faz fazer inferências menos generosas a respeito da obra dele que a adolescente que eu fui. Mas hoje consigo compreender que os romances ditos "indianistas" representam o esforço de José de Alencar de descrever ou inventar o melhor passado possível para o recém criado Império do Brasil e os romances urbanos o esforço dele de documentar o presente desse Império da melhor maneira possível.


Sei que o texto já deve ter cansado a beleza de muita gente até chegar a esse ponto, mas se você leu quando adolescente os textos de Alencar, ou não leu por implicância com a chata da sua professora ou professor de literatura... Bem, agora talvez seja a hora de praticar o perdão, se ela ou ele fez parecer que era obrigação sua, foi um erro de linguagem, na verdade a ideia é que era um direito seu conhecer um pouco de como o seu país começou a ser construído, de como pensavam aquelas pessoas que inventaram o Brasil, o brasileiro e derivativos.

Ai bem, depois do romantismo de José de Alencar, por uma sorte inexplicável da vida encontrei Machado de Assis... E ai toda a beleza lirica da sociedade Imperial foi posta em xeque...

Desconfio que devaneie demais nesse post e decidi deixar essa parte na qual falo mais sobre Machado para o próximo bloco, ou melhor post...

Ah, mexendo e remexendo no face criei uma página para esse blog deixo aqui o link, ainda não sei bem para quer vai servir, mas quem quiser curti, fica a dica, ou melhor o LINK

11 comentários:

  1. Clara definição, Jaci, sobre o desprezo injusto dado ao Zé e ao Machado.Creio também, que veio da época da mal empregada proposta em sala de aula.Tomara que todos aceitem teu conselho tão bem detalhado e inocentem os dois grandes romancistas deste país-menino,redescobrindo o passado e analisando o presente.
    Bom domingo.
    Bjkas,
    Calu

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  2. Na verdade, nos meus tempos de escola pública, há décadas, esses livros eram obrigatório. O vocabulário, muitas vezes rebuscado, precisava ser traduzido pelos, então, adolescentes mal instruídos daquele tempo.

    Lembro-me da reação de um amigo ao me flagrar lendo "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

    Na verdade, pessoas que apreciam a leitura nesse país, segundo pesquisa, não passa de 5% da população...

    Triste...

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  3. Concordo com você, Jaci. Apesar de ser uma obrigação escolar, nunca me senti obrigada a ler esses livros, mas entendi como uma oportunidade de conhecê-los. Adorei Iracema, Cinco Minutos, A Viuvinha, Dom Casmurro, Amor de Perdição, A Moreninha, Memórias de um Sargento de Milícias, Escrava Isaura etc. Li todos com prazer. Claro que o fato de a minha mãe ser professora de literatura ajudou bastante e fico triste pela forma como os adolescentes enxergam essas obras com tanta aversão. Eles não têm interesse em conhecer e já leem com um pé atrás. Acho que devia-se pensar em outras formas de se apresentar a literatura brasileira na escola para que os adolescentes de hoje pudessem sentir o mesmo prazer que nós.
    Amei o post.

    Beijos.

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  4. Que bom, Jaci, despertar-nos para os escritores brasileiros mais antigos. Adoro José de Alencar e Machado de Assis, pra ficar só nos que citou nesse post.
    Para mim, uma das melhores novelas que o Brasil já teve foi "Essas Mulheres", que passou na Record, em 2005, baseada em 3 romances de José de Alencar: Senhora, Diva e Lucíola. A fusão das 3 histórias foi perfeita, tudo era lindo na novela. No youtube há vários cenas, deliciosas.
    Vou seguir seus posts, pois muito me interesso por nossos autores.
    Beijo e boa semana.

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  5. Durante muito tempo fui um dos traumatizados com a obrigatoriedade de se ler os clássicos nacionais na escola. Acho que a questão é que nos empurram esses livros sem saber se estamos prontos pra eles: acho que Machado não escrevia para adolescentes de quinze/dezesseis anos, daí surge o problema.

    Até que este leitor se reencontre com os nacionais é uma vida - foi assim comigo, e fiquei tão reticente que onde você escreveu "DIREITO" eu colocaria "OBRIGAÇÃO" - mas é uma pena que as coisas se passem assim, não tarde demais, descobri que os nacionais podem ser muito bom, José Lins, por exemplo, é lindo demais.

    Já aguardo o próximo capítulo.

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  6. Conheci os dois na escola pública (no meu tempo as escolas particulares eram raras). E não sei se foi por obrigação de um currículo a ser seguido, o que sei é que achei natural ler estes autores e como na minha casa tínhamos a coleção completa um livro me levou a outro. Depois, fui conhecendo Lobato, Veríssimo, Sabino, Bandeira e tantos outros. Hoje, com a correria do dia a dia leio muito menos do que gostaria mas posso garantir que estas leituras foram fundamentais para a minha formação.

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  7. Nem preciso dizer que adorei o texto. Acho que José de Alencar é subestimado, entre outras razões é que quem dá aula no ensino médio, também não gosta dele ou o acha enfadonho. Eu gosto dele e muito. O que saberiamos das picuinhas do povo no tempo do império sem ele, e como saberiamos quais sentimentos passavam pela mesma sociedade sem Machado de Assis?
    Estou com muita vontade de fazer um post sobre a Pata da Gazela, se o tempo der ainda faço essa semana. Você me inspirou!
    bjs
    Jussara

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  8. Rss estou enganada mas o que inspirou esse post foi o nosso podcast? Eu gosto bastante desse livro "cinco minutos e a viuvinha". Foi um dos poucos clássicos da literatura que li na escola e gostei. Acho que o problema das pessoas com os clássicos normalmente é porque eles não tem uma linguagem fácil. O povo prefere uma linguagem mais mastigada, caricata, simples. É por isso que a maioria se entretém com as novelas globais. Não que elas não tenham algum valor (deve ter só não sei qual), e com certeza uma pessoa pode gostar de o clone e romeu e julieta em versos, mas quem não tem uma erudição mínima rechaça qq coisa mais elaborada, taxando de "metido a besta" etc. Beijos pandinha!

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  9. Oi, Pandora!!
    Eu fui uma das que odiou ler os clássicos brasileiros na escola por obrigação e porque não tinha ligação com nada que eu fazia fora da escola. Atualmente vemos peças de teatro, filmes, novelas... até mesmo quadrinhos inspirados nos clássicos. Mas lá no passado remoto, antes de existirem outros meios para o jovem se divertir, tais como TV, rádio, internet, cinema, etc. os jovens liam mais que hoje em dia. Por esse motivo, lia-se mais para utilizar o tempo de modo mais agradável. Os jovens atuais que desprezam os clássicos, mas não creio que esse francês esteja sendo interpretado corretamente, afinal, por termos um território vasto, tínhamos mesmo poucos brasileiros naquela época.
    Boa semana!!
    Beijus,

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    1. Luma, o francês não falava sobre a população do Império, ele falava sobre o sentimento de nacionalidade brasileira. Uma coisa foi Dom Pedro "declarar" a independência e fundar um país chamado Brasil outra bem diferente foram as pessoas que habitavam o espaço geográfico desse país passarem a se sentir pertencentes a ele. Coisas como identidade nacional, cultura brasileira e derivados passariam a ser inventadas a partir de então... Não sei, porém suspeito que é a respeito disso que o francês fala.

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    2. Bom, eu concordo com a Pandora, Saint Hilaire falava do sentimento de nacionalidade e não de quantidade de brasileiros.

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