quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Aluguei Uma Casa, Saí Da Casa Dos Meus Pais

Aluguei uma casa, finalmente. Na verdade, não foi uma casa e sim um apartamento, mas acho que a palavra casa sintetiza melhor a ideia por trás das minhas pretensões com esse ato, a saber: a construção de um espaço de liberdade e proteção no qual eu possa viver plenamente a experiência de ser uma pessoa adulta.

Depois de minha tentativa frustrada de financiamento no inicio desse ano fiquei um tanto frustrada, para não dizer arrasada, me perguntando se seria mesmo possível realizar desse sonho de conquista de liberdade. O período pós-fracasso do financiamento foi trevoso para mim, questionei muito minhas possibilidades e forças. Deus, minha mãe e as pessoas amigas me ajudaram muito nesse período e processo. Escutei conselhos, recebi acolhimento, levei puxões de orelha, ouvi muito kpop, reorganizei minhas forças fazendo o exercício de poupar enquanto aguardava o momento do novo passo.

O tempo passou, a construtora, com a providencial ajuda da minha advogada, devolveu minha entrada; finalmente meu pedido de progressão profissional por titulação foi aceito pela Prefeitura de Jaboatão; o retorno as aulas presenciais foi anunciado; a Luci fez aquela chamada de vídeo seminal na qual chamou minha atenção para coisas de fundamental importância reorganizando minhas engrenagens; e, finalmente, com a graça de Deus, aluguei uma casa na cidade de Vitória de Santo Antão.

A chave de casa é uma conquista da minha vida. Nem sei o que sentir. Sou a Rapunzel de Enrolados, tocando o pé descalço no chão, dizendo: "O Melhor Dia Da Minha Vida!".

Vivo tudo isso como quem vive um dos capítulos da aventura de existir. Sinto medo, saudades da minha mãe e do meu gato. Metade dos meus livros ficaram em Nova Descoberta e a outra em Igarassu. No apartamento, a sala e um dos dois quartos estão completamente vazios. Preciso colocar uma cortina na sala, incomodar meu irmão para buscar os livros encaixotados, comprar maquina de lavar, estantes novas, guarda-roupa, sofá, TV, colocar internet.

Me mudei no sábado, dia 02 de Outubro, de lá pra cá sinto como se tivesse vivido uma vida inteira. Acordo, dou uma olhada na vista da sala e penso na missão do dia. Todo dia tem uma nova missão. Comprar um garrafão de água completo para devolver a vizinha que me emprestou o dela; organizar a bagunça; lavar os pratos, talheres, copos, xícaras, plásticos e panelas novos; organizar o banheiro; lavar a sala; comprar um varal de chão... cuidar dos almoços da semana; me acostumar com o novo bairro e seus ritmos. Absorver a gratidão por toda ajuda que me foi oferecida gratuitamente. Entender a nova distancia geográfica entre minha casa e a da minha mãe. Decidi se levo Lion comigo ou deixo ele morando com minha família. Fazer as compras da semana e lidar com os esquecimentos de itens, os excessos e as faltas.

Essa é minha vida agora. Ser a dona da minha casa; pagar meu aluguel, conta de luz e internet, a conta d'água é inclusa no aluguel; administrar os horários e os espaços. É um pouco desafiador e assustador, testa os limites dos conhecimentos que acumulei ao longo de minha vida de filha mais velha auxiliando minha mãe nos desafios dela como dona de casa. Espero conseguir gerir bem minha própria vida, atravessar os desafios e aprender com os desafios que me atravessam, contar com a proteção de Deus.

Herdei dos meus pais geladeira, fogão, botijão de gás, dois lençóis, uma assadeira sem cabo com aço inoxidável de ótima qualidade. Trouxe comigo meu ventilador, várias canecas com as quais amigos e amigas me presentearam ao longo da vida, uma garrafa de água com a qual uma das minhas estudantes queridas me presenteou. Contei com a ajuda da minha amiga Rose para comprar coisas como: faqueiro, conjunto de panelas, plásticos, pratos, copos, xícaras, escorredor de pratos, balde, lençóis, pano-de-prato, produtos de limpeza, a cama que eu mesma junto com o entregador coloquei dentro de casa.

Embora ame minha cidade, optei por uma cidade fora da Região Metropolitana do Recife. Embora ame minha família, optei por um lar há boas três horas de distancia geográfica deles. Fiz escolhas que pensei serem necessárias a meu crescimento como ser humano e a construção de meu estado de paz. Já chorei, senti palpitações no peito, tive a maior enxaqueca da minha existência, grande a ponto de mesmo agora me sentir desfrutando da sensação de não está sentindo essa dor. Minhas amigas Aldi e Gisela, disseram ser tudo isso perfeitamente normal, confio nelas.

Agora moro em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata Sul. Ainda não sei muito sobre a cidade, desconheço a história dos dragões (?) pousados nos prédios e o ritmo das ruas. Meu contrato de aluguel é de um ano, nesse espaço de tempo pretendo fazer o possível para aprender esses detalhes.

O ônibus leva cerca de uma hora para fazer o percurso de Vitória a Jaboatão Centro, é menos do que eu levava da Zona Norte do Recife para lá. Antes havia muito trânsito, concreto, aço e o metrô no meu caminho, atualmente há o verde das plantas cultivadas pelos vizinhos, os restos de Mata Atlântica e os canaviais de velhos engenhos coloniais.

Atravesso as distâncias, as distancias me atravessam. Escuto os sons do ambiente, os sons do ambiente me escutam. Me permito o prazer da distração, não consigo evitar a necessidade de fazer orações, eterno "Jesus, venha cá!", escuto meus músicos coreanos favoritos, essas vozes quase alienígenas. Hoje é meu dia de folga, vim visitar meus pais e Lion, passei na agencia dos correios de Igarassu e peguei o volume físico do último álbum de kpop que comprei antes de começar a aventura da mudança de endereço. "Blue Letter" me ajudou muito nessa travessia, Wonho preencheu bastante os vazios do silêncio através do aplicativo de música e agora é muito bom escrever ouvindo a voz dele tendo em mãos o álbum físico.

É isso, me desejem sorte e coisas boas!

14 comentários:

  1. jaci, fico muito feliz por você, essa necessidade era vital, se sentir bem, amadurecer...
    Logo se acostumará, tudo ao sem tempo, não se pressione, fuja da perfeição, a manutenção de uma casa é constante e devagar vai ajeitar tudo de modo mais consciente em relação as suas necessidades atuais. Já sobre Lion vir ou não, é uma decisão difícil, por mais que o ame, o melhor para ele tem que prevalecer. Qdo mocinha eu e minha mãe passamos por isso e nosso cachorrinho sofreu, quando o levamos de volta para meu pai, acho que foi o dia mais feliz da vida dele, e ficamos felizes por ele.
    Que seus novos rumos tragam muito crescimento e paz!
    Abração!

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  2. A única coisa que eu vou dizer é que se você não me contar em audiozão qual a qualé dos dragões no momento EXATO em que você descobrir, eu ficarei EXTREMAMENTE ofendido.

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  3. Que coisa tão boa ler e ver tua conquista pessoasl. Isso é uma hora maravilhosa, a da primeira chave...Coisa boa! Desejo toda felicidade pra ti nessa nova casa, nas arrumaçõew, compras e nas lidas ... Vais gostar muito de ter o TEU cantinho... Sensação maravilhodsa,fico feliz por ti! beijos, curte tudo! chica

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  4. eu saí de casa cedo. não é fácil, mas eu gosto muito de onde vivo. eu comprei geladeira e máquina de lavar. o resto demorou bem mais. coragem. vai dar tudo certo. se cuide. beijos, pedrita

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  5. Jaci! Parabéns pela conquista.

    É muito simbólica - e concreta ao mesmo tempo - a saída da casa dos pais. Me vejo em meio ao processo que deve me tomar uns bons anos ainda, mas já antevejo o mix de sensações!

    Te desejo muita sorte e coisas boas! Dois abraços!

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  6. Olá, Jacilene!

    Toda mudança no início assusta, isso em todos os sentidos.
    Logo você vai se acostumando com a cidade, vizinhança e principalmente com a vida independente.
    Eu desejo muita sorte pra você e felicidades na sua nova morada. Que você encontre muita paz no seu novo lar.

    Bjs

    Sônia

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  7. Ahhh, que tudo!!! Tô tão feliz por vc, de verdade! Que Deus abençoe o seu lar e te faça prosperar nessa nova fase da sua vida!

    =)

    Suelen Mattos
    ______________
    Romantic Girl

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  8. "Levei puxões de orelha". Sei lá, tive impressão que nesse texto todo, eu só fui mencionada nessa parte.

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    1. você também acolheu, aconselhou e um monte coisas... mas puxões de orelha, realmente kkkkkkk

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  9. Feliz por essa conquista!! Em breve chegarei por lá! Esse texto expressa muito do que vou sentir, ou já estou sentindo 🤔
    Muita paz, felicidades e sucesso!!!
    Tudo de bom Jaci😘

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  10. Parabéns jacy pela a conquista,q Deus continue abençoando e guiando seus passos, passei na casa da sua mãe senti sua falta e quando quase chorei, pós me coloquei no lugar dela, pq pra nós mães e sempre difícil aceitar q os filhos crescem e como os passarinhos querem voar,um bjo no seu 💓 Deus te abençoe e te proteja sempre, saúde
    sucesso

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  11. Oi, Jaci!
    Ainda não tinha lido esse texto do seu blogue e voltei para atualizar a leitura. Quanta coisa boa acontecendo. É para frente que se olha! Quantas conquistas já realizou. Morar sozinha é um grande passo na vida. Na mesma situação sua, alguém me disse: Amadurecer é assumir responsabilidades.
    Boa sorte e muitas felicidades nessa nova etapa da sua vida!
    Beijus,

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  12. Nossa, que mudança! Acredito que hoje (2024) você olhe para tudo isso com carinho. É preciso muita coragem para mudar assim. É preciso se permitir sair da zona de conforto e nada disso é fácil. Amei o seu relato sobre essa grande mudança na vida. E, daqui do futuro (2024), estou desejando para a Jacilene de 2021 muita felicidade nesse processo.

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    1. Você me fez reler esse post e relembrar como foi chegar aqui no 245 da Melo Verçosa! Os dias são infinitos, mas os anos voam. Obrigada por esse comentário tão bonito, me sinto comovida e grata. Sou muito grata a Jacilene do passado que teve coragem de da esse passo, mesmo com medo.

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