quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

No Dia 8 de Dezembro, TODOS os caminho levavam ao Morro da Conceição

Durante a primeira semana do mês de dezembro, qualquer observador da vida cotidiana do Recife tem a nítida sensação de que todos os caminhos levam ao Morro de Nossa Senhora da Conceição. Eu, ao menos, tenho!


A Festa religiosa que ocorre em torno a devoção a imagem de Nossa Senhora da Conceição localizada no alto do Morro da Conceição é algo muito central para qualquer pessoa que more na Zona Norte da cidade, é impossível não ser notada de um jeito ou de outro. Pessoas de todos os lados da cidade e região metropolitana se deslocam em debandada de todas as formas possíveis para se encontrar com uma imagem gigante da Virgem localizada no topo do morro levando a Ela pedidos e agradecimentos.

Consequentemente, aos pés do morro se concentra uma infinidade de comerciantes ambulantes vendendo todos os tipos possíveis e imagináveis de coisas, assim como uma infinidade de brinquedos meio caindo aos pedaços mais suficientemente consistentes para não causar grandes acidentes.


Durante toda minha infância eu desejei ir ao menos uma vez a "Festa do Morro". Não pela devoção, pois desde que me lembro congrego em uma vertente neopentencostal do cristianismo e me foi incutida uma solida descrença na capacidade dos santos de obter graças diante de Deus, mas sim pela festa em si, pela diversão, pelos doces, pelos brinquedos. Muitas crianças de mina denominação religiosa com pais mais liberais iam, todas as crianças não evangélicas iam, por trinta anos eu não fui. Mas, quando vi todos os ônibus adornados com a placa "FESTA DO MORRO", não resistir!

Me vesti com meu espirito de Sindbad e na companhia da minha amiga Mercia resolvi desbravar um espaço estrangeiro para mim em minha própria terra. Foi maravilhoso!!!!


Subir o Morro da Conceição em dias de Festa do Morro não foi só uma experiencia de satisfazer um desejo infantil de me empanturrar de doces, espetinhos, rapadinhas, pasteis, refrigerante e sorrisos infantis. Depois de passar uma vida me dedicando ao estudo da História foi também uma experiencia antropológica e cultural, foi interessante vê a diversidade de gênero dos visitantes que Nossa Senhora recebe com seu rosto congelado em uma expressão de longanimidade eterna, gente com pé no chão, ajoelhada, com tijolos na cabeça, com velas e mais velas, muitas crianças pequenas vestidas de azul. Os filhos postiços da Virgem do Morro parecem ser pessoas de desejos simples como acolhimento, moradia e saúde para seus filhos.


Interessante também foi perceber como muita gente faz da festa simplesmente um momento de diversão ou de arrecadação de fundos para ajudar nas inúmeras providências necessárias para o romper do ano como pintar a casa, restaurar moveis, comprar novos lençóis, toalhas de mesa e de banho, sapatos, roupas para as crianças. As providências de fim de ano não são apenas caprichos, elas precisam ser funcionais, afinal o ano é longo e cheio de horrores, para alguns a crise é perpetua.


Há quem pense que a multidão pensa com uma mente só, um tipo de manada rumo a uma fonte d'água incerta, mariposas em torno de uma luz. Enquanto eu me juntava a multidão que sobe o Morro da Conceição me ocorreu estarem essas pessoas erradas sobre a multidão. A multidão não pensa coletivamente, ela congrega pessoas com anseios, desejos e motivações diferentes, na Festa do Morro vi pessoas interessadas em sua devoção, pessoas interessadas em agradecer e pedir graças a Ela, pessoas que estavam ali só para vender qualquer coisa - brinquedos/comida/sonhos, pessoas interessadas em se divertir sozinha ou com amigos, pessoas prontas para consumir o máximo possível de bebida alcoólica.


Foi uma experiencia interessante, me sentir vivendo algo meio fora do tempo e do espaço. Algo que se repete ano após ano há mais de cem anos. Algo me diz, meu conhecimento histórico talvez, que festas realizadas próximas aos solstícios e equinócios existem desde o surgimentos dos primeiros humanos nesse planeta girante, mas eu nunca havia participado de nenhuma, então teve ares da magia para mim. Posso ser que eu seja apenas essa pessoa estranha que sou com minhas impressões estranhas da vida, mas havia qualquer coisa de diferente no ar, no entardecer, nas várias  pessoas misturadas com suas várias expectativas.


Outra coisa a se dizer é que essa foi a 106ª Festa do Morro de Nossa Senhora da Conceição e foi a primeira ocorrida depois da Arquidiocese de Olinda e Recife terem reconhecido essa Igreja localizada nos recôncavos da Zona Norte do Recife como um Santuário. Ou seja, essa devoção, essa festa, é algo construído pelas pessoas, as autoridades tiveram que engolir e aceitar.


Uma amiga católica me disse, ciente de que eu ia essa ano e um pouco receosa do meu olhar critico, que a Igreja Católica Apostólica Romana não aprovava muitas das situações protagonizadas pelos fieis. Mas, enquanto eu observava a situação toda com meus próprios olhos me ocorreu que Nossa Senhora é mãe e as mães entendem muita coisa.


Todo esse texto foi escrito enquanto eu ouvia Barbara Bonney cantando a Ave Maria de Schubert, uma canção especial para mim não por questões de devoção, mas sim de memória. Eu cursei a maior parte de meu Ensino Fundamental e Médio no período da tarde, quando largava ouvia o auto-falante de alguém, sempre as seis da tarde tocando essa música. Essa música embalou meu entardecer por anos e o entardecer segue sendo minha hora favorita do dia.

E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
(Apocalipse 12:1)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Era uma vez uma turma que dava muita dor de cabeça...


Era uma vez uma turma que dava muita dor de cabeça, cheia de energia costumava tirar a professora do sério quase todos os dias.

Era um tal de "fulando vai para a direção agora!", "sicrano para com isso!", "meu filho o que é isso?" e muitas coisas do gênero...

Mas, o tempo foi passando... passandooo... Um ano e depois o outro e mais outro... e as dificuldades foram dando lugar aos sorrisos, as muitas discussões acaloradas, aos debates constantes, ao aprendizado... revisões... provas só por formalidade, afinal aprendizado a gente vê no cotidiano e não em uma folha de papel.

Construímos aos trancos e barrancos muitos momentos de felicidade enquanto falávamos de história, animes, filmes, absurdos, como egípcios brancos, imperialismo, evolucionismo cientifico, e coisas do gênero.

Foi uma linda experiencia... As vezes eu morria de amor, as vezes tinha vontade de sair correndo... As vezes conseguia ir longe, as vezes não saia do canto por longos dias... Faltou China e Oceania no nosso cronograma, sobrou bons papos, diálogos incríveis... crescimento conjunto.

Reencontrei o prazer de exercer meu oficio com o 6º B de 2014, que virou 7º B em 2015 e 8º B em 2016! Nem preciso dizer o quanto amo esses peraltas maravilhosos!


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ainda há coração

É engraçada essa coisa chamada vida adulta. Ao longo dela deixamos coisas e mais coisas para trás e chegamos a ter certeza, jurar de pé junto, o quanto tudo que ficou para trás por nossa livre e espontânea vontade não tem mais a minima importância...

Porém, em um susto, quando menos esperamos, em um movimento inesperado do vento, do rosto, da página, do clique descobrimos absurdados de espanto o quanto nos enganamos. Como canta o Alceu Valença, "a gente se ilude dizendo já não há mais coração".

Atualmente a música Coração Bobo tem embalado vários momentos da minha vida. A constatação do obvio contida em sua letra misturada com os sons da orquestra e da voz do Alceu me dão uma sensação de alivio e ainda me fazer mexer a cabeça hahaha \o/ 


sábado, 3 de setembro de 2016

Meus 2 irmãos mais novos!

A vida me deu irmãos. Irmãos consanguíneos, de afinidades, de sonhos, de ideias, de coração. E sou em geral grata por essas criaturas que vez ou outra aparecem para compartilhar cargas e alegrias, partilhar o pão e caminhar comigo por lugares claros e escuros.

Mas entre todos os mais novos tem um lugar especial. Talvez por ter me tornado irmã mais velha de alguém há 28 anos atrás ter me trazido uma estranha sensação de conforto diante da vida, talvez por eles serem os mais próximos fisicamente, talvez porque tenhamos sempre partilhado tanto sorrisos, farpas e intimidades entre nós. 

Ou simplesmente por eles serem motivo de um orgulho besta que aflora da minha alma como a vegetação da caatinga depois de qualquer chuva. Junior e Renato são implicantes, chatos, cabulosos, me tiraram do sério mais vezes do que consigo contar e, apesar de historiadora, sou boa de conta. No entanto, por Deus, como não morrer de amor?!?!?

Júnior, Eu, Renato na formatura dos dois
Lembro bem como cada um entrou na minha vida. Junior há 28 anos atrás em um manhã de sol com direito a céu azul e nuvens brancas. Renato em tarde igualmente quente, no meio de uma feira de ciências há 15 atrás. Junior no primeiro encontro eu já soube que seria meu irmão, Voinha me disse com todas as letras necessárias. Renato eu descobrir na convivência quase diária que a amizade construída entre ele e Junior criou.

Independente da forma como essas irmandades foram descobertas eu tenho a sorte de poder dizer que elas tem sido ao longo dos anos uma fonte de conforto, alegria, brigas e entendimentos. Esses dois são aquele tipo de pessoa esquisita, com ideias fora do comum, forte talento artístico e capazes de fazer uma conversa corriqueira ficar muito viajada. São capazes de enfrentar obstáculos imensos sem perder a dignidade. Construir na convivência diária demonstrações de amor sem tamanho.

As fotos que ilustram o post foram tiradas no dia da formatura dos dois, porque insatisfeitos em passar parte do Ensino Fundamental e todo Ensino Médio juntos os dois resolveram cursar o mesmo curso na mesma universidade e turma. Aliás, os dois cursaram História no curso noturno na Universidade de Pernambuco, sem jamais repetir uma disciplina, trabalhando no horário oposto ao do curso e ainda ser tornar voluntário em um cursinho pré-ENEM gratuito voltado para alunos e ex-alunos de escolas públicas.

Apesar da graduação em História ter fornecido muita lenha para ser queimada nas discussões infinitas das quais ninguém queria sair como o errado e todo mundo queria esta eternamente certo. Vê os dois portando o diploma de GRADUAÇÃO PLENA EM HISTÓRIA foi um dos momentos mais felizes da minha vida.

Admitamos, meu orgulho e felicidade são justificáveis em dobro quantas irmãs podem dizer que seus irmãos mais novos seguiram seus passos???? cof cof cof... Eu posso \o/

Por fim, como já está ficando feio essa exibição exagerada de afeto, sendo hoje aniversário de vinte oito anos de Junior é também o aniversário do dia no qual me tornei irmã mais velha e a experiencia de ser irmã mais velha é um dos elementos mais fortes e centrais da formação do meu caráter e da forma como enfrento e entendo o mundo e pela primeira vez desde que Renato se tornou meu irmão esse dia se passa sem que ele esteja nesse mundo.

É muito ruim dormir e acordar em um mundo no qual alguém tão próximo não está mais presente. Ninguém se prepara psicologicamente para perder um irmão mais novo. Não está nas letras normais do contrato de existência o perigo iminente de ter a convivência com essas criaturas que acompanhamos crescer irem embora para o outro lado da vida. Ainda não sei me equilibrar muito bem nesse mundo tão vazio dos sorrisos, implicâncias e trejeitos de Renato.

Toda vida temos em relação aos nossos irmãos um estranho sentimento de posse, eles são nossos para tudo nessa vida e pela vida toda. Não da para doar, vender, trocar ou alugar caso ele te irrite, cutuque, incomode, deboche, acorde você de madrugada, pegue seus livros emprestados e devolvam amassados ou partam para o outro lado da vida repentinamente. Não existem ex-filhos, ex-mães, ex-pais e ex-irmãos!

Para sempre terei dois irmãos mais novos. Para sempre terei Junior, Renato e Rafaela como irmãos caçulas! Para sempre terei orgulho besta da trajetória e das conquistas deles! Não existe e não vai existir ex-irmão ou ex-irmã! Irmão é para sempre! E eu creio que do outro lado da eternidade vamos nos encontrar novamente e haverá sorrisos, abraços, beijos, implicâncias e tudo o mais! Renato, você é para sempre meu irmão! Estou vivendo com muitas saudades!

sábado, 20 de agosto de 2016

Boiar...


Não sei se ainda tem alguém aqui, já faz uns bons dois meses que não posto nada. Mas, preciso quebrar esse jejum para deixar registrado que o hiato entre outras coisas se deve ao fato de todos os computadores da casa terem pifado ao mesmo tempo e demorei uns dias para encontrar uma uma possibilidade viável para a compra do aparelho novo.

Muita coisa aconteceu nesse tempo sem escrita, tenho a impressão de ter vivido umas três vidas inteiras e não ser mais a mesma. Claro, pretendo escrever sobre tudo isso muito em breve. No entanto, como nem toda pretensão se concretiza nessa Terra, não ouso prometer nada nem mesmo a mim, mas acredito na possibilidade desse blog voltar a respirar.

Enquanto eu não escrevia, a vida se tornou dolorosa além daquilo que eu considerava possível. Nos termos do contrato de uso desse corpo e dessa vida não lembro de ter lido algo sobre a possibilidade da convivência com uma dor tão ruim de carregar quanto essa que habita em mim. Devia ser ilegal algo assim acontecer as pessoas. Todavia não só é perfeitamente legal como corriqueiro, cada vez que conto sobre as agulhas que me perfuram o coração as pessoas me respondem contando de uma aflição próxima, igual ou, absurdo dos absurdos, infinitamente maior que a minha.

Aprendi recentemente a boiar sobre a água e confesso que ultimamente ando aplicando esse conceito a vida. Fecho os olhos, estico o corpo, respiro fundo e permaneço na superfície da água me deixando levar pelo sabor da corrente na tentativa de recobrar as forças... Agora não, mas muito em breve vou abrir os olhos encarar o azul do céu e começar a bater braços e pernas tomando novamente o curso da minha vida.