domingo, 3 de janeiro de 2016

"Os miseráveis" de Victor Hugo


Finalmente consegui terminar a leitura de "Os miseráveis". O Alexandre e eu pensamos fazer isso em 2015, mas não conseguimos nem eu e nem ele. Sobrou para 2016 e confesso, fiquei intranquila com isso e dediquei cada momento livre dos últimos 3 dias a Jean Valjean, Cosete, Marius e todos os outros.

Victor Hugo tem uma escrita envolvente, sempre que entrei em seu mundo fui acolhida, envolvida e embalada por ele. Mas, "Os miseráveis", além de ter uma carga dramática pesada, é um calhamaço de mais de mil e quinhentas paginas dividido em cinco volumes cujos términos foram sempre e constantemente marcados por uma bela ressaca literária. E, como se não fosse suficiente, o autor é especialista em pausar a a narrativa de sua fabula nos seus clímax para falar de Filosofia, História, Sociologia, Politica, Religião... Males do século XIX, esperanças para o século XX... e por ai vai.

Tem horas que você se pega lendo páginas e páginas sobre: conventos, questões de salubridade, história dos esgotos de Paris, a Batalha de Waterloo, a composição das revoltas... Isso tudo bem depois do clímax, eu LOUCAAAA para saber o desfecho de uma situação e Hugo nem ai escrevendo páginas e páginas sobre conventos... batalhas... a vida dos moleques em Paris etc... etc... etc...


De certa forma não desgostei dessa formula. Apesar de tornar a leitura do livro mais lenta, a visão do Victor Hugo sobre a sociedade é incrível e profunda. Ele enxergava os males e possibilidade de soluções, tinha um certo furor historiográfico emocionante, uma revolta contra o descaso das autoridades, uma vontade de denunciar os erros, as falhas, as desgraças... colaborar com a construção de um mundo melhor. Ele via a desolação, encontrava formas de solução e gostaria de ver isso aplicado.

Quando a leitura me entediava ou quando o preciosismo dele em descrever cenários e situações me levava as raias da loucura literária eu antevia essa coisa meio visionária dele e nossa, como não respeitar?  Como não prestar atenção a cada palavra? Como pular uma linha? De forma alguma. Esse é um autor que merece ser lido com atenção e calma, respirando fundo e se concentrando.

O fio condutor do livro, o imã para nosso interesse, é a história do querido Jean Valjean, de como ele começou a vida em uma situação de fragilidade social, cometeu um erro, teve uma pena desmedida, se tornou uma pessoa cruel e temível, mas mudou ao ser encontrado por uma pessoa generosa e passou a viver espalhando generosidade por onde passava, nem sempre sendo bem recompensado por isso.

Todas as pessoas que cruzaram o caminho desse homem, direta ou indiretamente, também tiveram suas histórias contadas de maneira mais ou menos minuciosa. O autor foi milimétrico e consciencioso ao tecer a teia da história do Valjean. Ele me fez pensar na verdade contida na expressão: "Todas as pessoas, mesmo aquelas mais ignóbeis possuem uma história".


Poderia escrever ainda muito mais sobre esse livro, porém me encontro sem palavras adicionais. Foi um dos melhores livros da vida, um dos mais marcantes. Estou de ressaca literária. Indico eles a todas as pessoas do mundo. É o tipo de leitura capaz de nos tornar uma pessoa um pouco melhor e mais capaz de olhar com generosidade aqueles que estão em estado de fragilidade social nesse momento.

Não canso de considerar assustador constatar a atualidade da obra de Victor Hugo. Cada vez que eu via o Brasil nas descrições feitas por ele de Paris eu me desesperava um pouco. Sempre digo que vivo em uma distopia, ler um livro escrito há 200 anos atrás e perceber atualidade nas descrições dos problemas sociais e a forma como o poder público lida com ele, dos enfrentamentos com a tropa de choque, ao tratamento da pequena infânciade, me de choque me desespera.

Não me venham dizer que isso se deve a atemporalidade dos clássicos, porque sou historiadora, não acredito nisso. Acredito que obras literárias são produtos da sociedade na qual foram escritas e se o presente tem muito do passado o nome disso é continuidade. Como nós nos permitimos conviver com a miséria? Como tantos de nós assistem passivamente o espetáculo trágico narrado em "Os miseráveis" se repetir? Como as pessoas conseguem chamar de chatos e chatas os incomodados, os que lutam?

Bem, sem mais delongas, gostaria de agradecer a quem me acompanhou nessa tragetória lendo meus posts sobre o tema ou lendo comigo o livro, como a Pedrita do "Mata Hari e 007" e o Alexandre do "#DoQueEuLeio".

Ah, ler o livro só me faz amar mais ainda a adaptação do filme feita no cinema, talvez por isso tenha me dado ao direito de usar imagens dela para ilustrar o post. Também peguei a foto da montagem da peça feita Escola de Dança Luana Zeglin apresentada no dia 14 de dezembro no Teatro Positivo e Curitiba, pois é emblemática.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

"O mal-estar na cultura" & "Coisas Frágeis"

Comecei a me interessar de forma definitiva pela obra de Sigmund Freud por causa de um amigo, coincidentemente, algo parecido aconteceu com Neil Gaiman. Também foi um amigo, dessa vez  da faculdade, a me fazer ter interesse pelo autor, aliás ele até mesmo me emprestou "Stardust". O tempo passou e hoje leio tanto Freud quanto Gaiman por gosto, curiosidade e talvez até por paixão.

Ambos são autores de sinceridade incomum, sempre tenho a impressão de a titulo de desvendar a psique humana para um e contar histórias para outro, eles desvendam a si mesmo e se desnudam. Ambos possuem a coragem para expor seus ideais e isso de muitas formas me cativa como leitora e ser humano.

Nesse dia de Natal decidi escrever sobre esses dois autores, ou melhor, sobre livros desse autores porque nessa manhã acabei de ler os volumes 1 e 2 do livro "Coisas Frágeis" do Neil Gaiman e ao longo de toda leitura desse livro pensei muito em "O mal-estar na cultura", um livro de Freud cujo tema tem me inquietado nos últimos tempos.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Exposição Fernando Pessoa - Uma Coleção


Fernando Pessoa é um dos meus amores literários mais antigos. Desde a adolescência sua poesia faz parte de minha vida de uma forma intensa e profunda, elas são parte do que sou. Ele é daqueles autores que colaboraram de forma muito definitiva com a minha forma de observar, absorver e interpretar o mundo.


Quando eu soube da "Exposição Fernando  Pessoa - Uma coleção" em cartaz no Museu do Estado de Pernambuco simplesmente sentir uma profunda necessidade existencial de ir lá viver a experiencia unica de está entre as coisas dele.

Nunca subi escadaria com tanto animo! o/

Realmente a exposição é muito completa! Contempla a vida do Fernando, com uma linha do tempo linda com fotos da infância, dos locais onde estudou, do seu pai, mãe, irmãos e irmãs, locais onde trabalhou. Até mesmo o primeiro poema do autor, escrito para sua mãe mãe, foi incluso nela.

Família de Fernando Pessoa, mãe, irmãs e o padrasto.
Fernando pequenino, a mãe e o pai que morreu ainda na infância dele.

A linha do tempo foi didática e inclusiva, mesmo alguém que só ouviu falar de Fernando Pessoa ali compreenderia um pouco sobre o poeta e sua tragetória. Eu me senti conversando com ela, mentalmente dizia: "Poxa, isso eu não sabia!" ou "É mesmo!" e "Foi assim!". Adorei as fotos dos parentes dele, me sentir conhecendo a família de um amigo.

Indo para a exposição de fato, devorei com os olhos as revistas, livros, poemas e objetos. Me senti uma fã xereta e enlouquecida. A exposição foi muito completa, facilmente levou fãs do autor a um verdadeiro estado de estase, a mim ao menos levou. Bateu até aquela vontade de voltar na calada da noite... tsc... tsc... tsc... kkkk

Isso é um bom motivo para aprender inglês

Várias edições do livro "Mensagem", no qual se conta episódios da história portuguesa.

Mar Português é um dos poemas mais conhecidos do Fernando Pessoa!


Me emocionou muito reler "Abdicação". Foi um dos meus primeiros grandes encontros com Fernando Pessoa e é um dos poemas mais marcantes de minha adolescência, mais copiados e recopiados em meus diários e cadernos de poesia.


"Tabacaria" é o texto da minha vida. Como descrever esse reencontro com o poema nas paginas de sua primeira publicação? Não há palavras!



Adiamento também é um daqueles poemas da vida sabe... Quem conhece a mim e o meu eterno sono pode até pensar que esses versos foram escritos pensando em mim.

"Tenho sono como o frio de um cão vadio. 
Tenho muito sono. 
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... 
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir..."

(Fernando Pessoa - Alvaro de Campos)

Além das publicações do autor, a exposição também contou com objetos do poeta como sua mesa de trabalho, maquina de datilografar e óculos.




Vários livros que fizeram parte da vida dele.




Isso sim é um box de luxo!

"Sonetos Escolhidos" de Bocage foi o livro que, segundo Ophélia Queiroz, único amor da vida de Pessoa, tinha no pijama ao morrer, guardado em um envelope de papel.


Por fim, a gente ainda pode se deliciar com uma galeria de vários quadros feitos em homenagem ao poeta. Quem tinha grana podia comprar eles inclusive.


Eu não fui sozinha a exposição. Rosely e Ana, duas amigas de trabalho foram comigo, acho que muitas dessas imagens foram obra da Aninha. Esse foi um ano nos qual nós três nos descobrimos, ou melhor, descobrimos o prazer de desfrutar uma da companhia da outra fora do ambiente de trabalho. Nós exploramos a cidade, visitamos museus, exposições e cinema. Eu já tinha me habituado a andar sozinha, tinha até esquecido o quanto é bom andar com amigas. Obrigada meninas por essa redescoberta!

Eu e a Ana!

Eu e Rosi admirando o box de luxo dos Lusíadas!
Eu e Roses xeretando nos livros!
Essa exposição foi um dos pontos altos do meu ano de 2015. Uma experiencia que eu peço a Deus para jamais esquecer... Uma alegria, um balsamo, um sonhos.... Gostaria de viver várias experiencia assim... Gostaria de qualquer dia desses me vê desembarcando em Lisboa e revendo muita coisa e descobrindo novas sobre Fernando Pessoa. 

sábado, 21 de novembro de 2015

Livros Infantis para quem tem entre 2 e 3 anos!

Esse texto poderia ter o título "Os 5 livros preferidos do "Grupo Infantil II" ou "Uma homenagem aos guerreiros", pois os livros aqui citados tem sido guerreiros da Educação Infantil. Ser lido, amado e compor o cotidiano de duas dezenas de filhotes de humanos entre os 2 e 3 anos não é para qualquer um. Precisa ter resiliência e esses livros abraçam essa valorosa missão.

Olhem com carinho seus semblantes cansados, dobrados, amassados, rasgados nas bordas, colados e grudados, são as marcas do valor que cada um deles tem. Esses livros aguentam ser manuseados, babados, dobrados, mordidos, servem de assento, mega fone e o mais que a imaginação infantil dita e permanecem fortes. Sem eles, e minhas amadas estagiarias, eu não passaria.

Sem mais delongas, vamos a eles:


1. "Tem bicho que sabe..." de Toni & Laíse é um livro de dimensões grandes e cores fortes. Ele é o top 1 na preferencia das crianças. Nele os autores mostram uma sucessão de diferentes animais e uma de suas habilidades. Nele as crianças são apresentadas a abelha, lontra, flamingo, morcego, camaleão, dromedário e etc. 

As ilustrações são enormes, coloridas e expressivas. A principio as crianças estranham alguns animais, mas logo elas aprendem os novos nomes e suas respectivas habilidades de cor e salteado e ainda assim não param de pedi e pedi, aliás a essa altura elas mesmas contam essa história, eu só observo.



2. "Sim" de Jez Alborough conta a história de um dia de banho do macaquinho Zezé. Depois de brincar muito com a mamãe na água, Zezé não quer ir dormir e faz uma birra danada. A mamãe simplesmente se afasta e fica observando ele... Logo chegam um lagarto e um elefante que se juntam ao Zezé. "Sim" é um daqueles livros sem conteúdo moralizante, o macaquinho esperto não recebe broncas ou coisa do gênero da mãe. Ela simplesmente se afasta e observa ele brincando com os companheiros até que ele se cansa, dorme e é posto na cama.

Eu tenho a teoria de que as crianças adoram o Zezé porque se identificam com ele. O segundo ano de vida de um filhote de gente pode vim, geralmente vem, temperado com muitas birras, as crianças testam a paciência do adulto até o limite. Quanto a mim gosto dele porque a Mãe do Zezé me inspira, manter o equilíbrio emocional não é fácil e ela mantém.


3. "Amigo de casa" de Stephen Barker é um coringa, como todos os livros desse post. Ele é daqueles livros cujas páginas abrem. O texto não ajuda muito caso você não o saiba de cor e tenha que ler para uma turma como a minha. Fora isso, as figuras de cada animal são 4 vezes maior que o livro, gato, coelho, cachorro e peixe são 4 animais comuns ao universo infantil, as crianças curtem muito. Sempre que leio ele puxo as tradicionais musicas do cancioneiro popular infantil, as crianças acompanham.


4. "Eu gosto de mim!" da Beatriz Monteiro da Cunha não é dos preferidos das crianças. #ProntoConfessei, mas é dos meus preferidos. Nele um elefantinho muito fofo mostra como gosta de si ao cuidar de si mesmo, fazer coisas divertidas, brincar com os amigos. Um daqueles livros para ajudar a criar um sentimento de boa alto-estima e o cuidado de si.


5. "Tanto, tanto!" escrito por Trish Cooke e Helen Oxenburg é daqueles livros tão lidos, mais tão lidos que eu já sei a história praticamente de trás para frente. Mas está na lista de "meus preferidos" e "preferidos das crianças". Atualmente eu só tenho um volume em sala, então ele é muito disputado, tem quase 4 anos de uso, já sofreu diversos acidentes de percurso. Há, ele conta a história de um bebê que "não estão fazendo nada, nada mesmo" e então vão chegando vários membros da família... para quem ninguém sabe... até que chega o Papai e... 




6. "Sou a maior coisa que há no mar" de Kevin Sherry conta a história de uma Lula gigante muito cheia de si e convencida. Ela se compara a vários animais marinhos e se sente a maior e melhor... até que é devorada por uma baleia... mas nem isso abala a alto-estima dela! kkkk...

Uma característica comum a esses livros é o fato de nenhum deles ter conteúdo moralizante. Apesar de terem um teor pedagógico proposital e serem propositalmente escolhidos para compor as bibliotecas escolares por isso, os autores não contam fabulas morais. Todos eles são capazes de ampliar vocabulário infantil, apresentar diferentes situações sociais, assim como diversos seres vivos em diferentes habitats (casa, savana, fundo do mar), ensinar o cuidado de si eles não fazem isso através de lições de moral ou um jogo de "fazer algo errado, se dar mal, se redimir", eles apenas contam uma história com a qual os pequenos se identificam, aprendizado vem como consequência.

Recomendo cada um deles, porém vale lembra: cada pessoa é unica e por mais que minhas crianças amem isso não garante que todas vão amar. O legal é ir testando os gostos da criança, as coisas pelas quais ela tem interesse e oferecer a ela trabalhos que dialoguem com os prazeres delas. Para a primeira infância ler tem que ser sinônimo de brincar.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Sandman de Neil Gaiman


Não foi "Sandman" o responsável por me fazer amar Gaiman, quem fez essa magica foi "Stardust", um dos livro mais relidos por mim na face da Terra. Porém, conta-se ter sido "Sandman" o responsável por fazer do inglês Neil Gaiman um autor mundialmente conhecido ao longo da década de 1990.

Em poucas linhas, pode-se dizer que "Sandman" é uma série de história em quadrinho com nada menos que 75 números publicados entre 1989 e 1996, todos roteirizados por Neil Gaiman contando com vários outros gênios para dar os contornos de desenhos, cores e letras.