sábado, 10 de abril de 2010

Noites eternas e Abdicações...


ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.


Fernando Pessoa, 1913
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Esse, decididamente é um dos poemas que mais gosto. Li esses versos pela primeira vez em um jornal que um tio meu comprou. Caraca isso faz um tempão! Foi amor a primeira vista.

Não resisti, automaticamente peguei a tesoura de costura de minha avó e recortei o poema do jornal. O que não foi um ato ilegal, minha avó deixou eu cortar o jornal, era velho mesmo e ia para o lixo, menos um pedaço não ia fazer falta!

Desde então, vez ou outra lembro dessa poesia, desse desejo enorme de ser tomada nos braços da noite tal como uma filha que voluntariamente abandona os cançasos nos braços de uma mãe afetuosa...

Penso que de certa forma, todo mundo já quiz abdicar de seu trono, seu lugar seguro na vida onde vc tem a plena consciência de que é REI, seu elemento primordial que é feito de força, certeza, alegria, vaidade e também de tristeza, cansaço, pesadas armaduras, grossas e inúteis cotas de malha e tantas coisas fúteis.... quem nunca quis largar tudo e se entregar ao nada... ou ao menos a alguma coisa mais leve, calida, menos rude e pesada... alguma coisa tão eterna e constante e antiga quanto a noite... eu não faço questão de ser excessão a regra alguma, me enquadro entre os que sentem vontade de despir-se da realeza de corpo e alma e encontrar a noite antiga e calma.

O problema é que sempre tenho o triste e fatal habito de lembrar que a calma da noite é um disfarce macabro, não existe calma na escuridão... A aparência tranquila é um engodo, dentro da escuridão silenciosa da noite borbulham e queimam milhares de vidas, milhares de movimentos... a noite é antiga, mas não é calma... talvez o dia seja mais calmo que a noite...

Quantos animais perigosos não escolhem a noite para caçar, quantos pesadelos tenebrosos não separaram a noite para tornarem-se realidade, quantos desvarios não saíram de mentes tão grandiosas quanto tenebrosas enquanto as sombras cobriam a terra com seu véu negro???

OOoooohhh.... Que triste a vida de alguém que não consegue se render nem mesmo a um de seus mais antigos desejos infantis sem antes questiona-lo!!!

Sim... pode até ser meio triste, mas é claro que alto-piedade não consta entre os meus atributos... ainda não é hoje que vou me render a minha antiga vontade de ABDICAR de meu espírito (metaforicamente e concretamente) a noite é eterna ela não precisa de mim e se quer tanto meu sangue para se importar a ponto de me tentar a verte-lo com tanta constância e desde tão cedo pode esperar mais um pouco... talvez tenha que esperar o tempo de uma vida inteira... podemos nos encontrar tarde, muito tarde... quando não houverem mais cetros e coroas a serem feitos em pedaços...

Além do mais, abandonar não está em mim... Não abandono nem mesmo espadas, mesmo as mais pesadas; cetros e coroas, que ficariam bem melhor feitos em pedaços; cotas de malha, que já foram feitas inúteis; ou mesmo esporas de tinir fútil... deixar pela escadaria não faz parte de meus hábitos... E mesmo quando fazem parte de algum plano, é um plano que já nasce morto...

Minha Abdicação sempre e sempre é adiada... mas enquanto a noite é eterna a minha carne foi feita para morrer... certamente me encontrarei com a noite em algum lugar... e se meu espírito é eterno ele se irmanara a essa noite e seremos um só... penso como esperança que um dia meu espírito regressará a "essa noite antiga e calma como a paisagem ao morrer do dia"!

P.S.: A julgar pela hora em que escrevi isso... deve ter tanto erro ortográfico... rsrsrsrs... depois corrijo com calma!!!
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Realmente haviam muitos erros de escrita... minha pérolas!!!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Muleque, Solano Trindade

Muleque
Solano Trindade

Muleque, muleque
quem te deu este beiço
assim tão grandão?

Teus cabelos
de pimenta do reino?

Teu nariz
essa coisa achatada?

Muleque, muleque
quem te fez assim?

Eu penso, muleque
que foi o amor...

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Pessoalmente acho esse poema encantador, mas eu lembrei de colocar esse poema aqui, pq ele é especial para uma pessoa que amo muito, um amigo meu que costuma dizer que esse poema é dele... e sinceramente deve ser mesmo, pq ele é a figura viva desse muleque feito de amor.

terça-feira, 23 de março de 2010

Menina Bonita do Laço de Fita... Ana Maria Machado.

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Uma das minhas maiores paixões é a literatura infantil. Pocha vida, literatura infantil bem feia termina com um texto muito gostoso de se ler em qualquer idade, e sempre tem aquelas autoras que arrasam o quarteirão inteiro: Ana Maria Machado, Rute Rocha, Marina Colasanti e Ligia Bonjuga, estão entre tantos outros nomes que eu poderia citar.

Ah, não esqueci do todo poderoso "Monteiro Lobato", apenas não cito ele pq não gosto dele, não é que ele escreva mal, só é que acho que o texto dele é cheio de preconceitos e a forma como Emília trata Tia Anastácia não é algo que eu aprove... não sou ninguém no jogo do bicho para criticar Lobato, mas tenho minha opinião e isso ninguém pode me tirar, embora possa criticar...

No lugar de Emília prefiro a "Menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado, uma garotinha que vive junto com um coelho uma história linda que vou postar aqui (não acho que haja algo de mal nisso, uma vez que eu peguei a história inteira em outro blog), trata-se de um conto lindo que tem que ser divulgado mesmo e guardado na memória.


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Menina Bonita do Laço de Fita

Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos dela pareciam duas azeitonas
pretas, daquelas bem brilhantes.
Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito fiapos da noite. A pele era
escura e lustrosa, que nem o pêlo da
pantera negra quando pula na chuva.

Ainda por cima, a mãe
gostava de fazer
trancinhas no cabelo dela
e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava parecendo uma
princesa das Terras da África, ou uma
fada do Reino do Luar.

Do lado da casa dela morava um
coelho branco, de orelha cor-de-rosa,
olhos vermelhos e focinho nervoso
sempre tremelicando. O coelho achava
a menina a pessoa mais linda que ele
tinha visto em toda a vida. E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma
filha pretinha e linda que nem ela…

Por isso, um dia ele foi até a casa da
menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu caí na tinta
preta quando era pequenina..
O coelho saiu dali, procurou uma lata
de tinta preta e tornou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas
aí veio uma chuva e lavou aquele pretume, ele ficou
branco outra vez.

Então ele voltou lá na casa da menina
e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:

- Ah, deve ser porque eu tomei muito
café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café
que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada
preto.

Então ele voltou lá na casa da
menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de
fita, qual é teu segredo pra ser tão
pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita
jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba
até ficar pesadão, sem conseguir
sair do 1ugar. O máximo que
conseguiu foi fazer muito cocozinho
preto e redondo feito jabuticaba.
Mas não ficou nada preto.

Por isso, daí a alguns dias ele voltou lá na
casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual
é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e já ia inventando
outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela,
que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha…

Aí o coelho - que era bobinho,
mas nem tanto - viu que a mãe da menina
devia estar mesmo dizendo a verdade, porque
a gente se parece sempre é com os pais, os tios,
os avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e
linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.

Não precisou procurar muito.
Logo encontrou uma coelhinha escura
como a noite, que achava aquele
coelho branco uma graça.

Foram namorando, casando e tiveram
uma ninhada de filhotes, que coelho
quando desanda a ter filhote não pára mais.

Tinha coelho pra todo gosto: branco,
bem branco, branco meio cinza,
branco malhado de preto, preto
malhado de branco e até uma coelha
bem pretinha. já se sabe, afilhada da
tal menina bonita que morava na casa
ao lado.

E quando a coelhinha saía, de laço
colorido no pescoço, sempre
encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é
teu segredo pra ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha
madrinha…

Referência:

MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. Editora Ática.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Esperemos, Solano Trindade.

Esperemos
Solano Trindade

Eu ia fazer um poema para você
mas me falaram das crueldades
nas colônias inglesas
e o poema não saiu

ia falar do seu corpo
de suas mãos
amada
quando soube que a polícia espancou um companheiro
e o poema não saiu

ia falar em canções
no belo da natureza
nos jardins
nas flores
quando falaram-me em guerra
e o poema não saiu

perdão amada
por não ter construído o seu poema
amanhã esse poema sairá
esperemos.

Referencia:

TRINDADE, Solano. O poeta do povo. São Paulo: Editora Ediouro: Editora Segmento Farma, 2008. Pg. 85.
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Solano Trindade, foi um grande intelectual do século XX, sua poesia, trouxe uma nova visão sobre a História e a memória Afro-descendente, foi um verdadeiro mediador cultural, poeta, escritor, teatrólogo, ator, pintor, pesquisador das tradições populares e acima de tudo um homem ousado, capaz de falar o que precisava ser dito sem medo de ser feliz ou infeliz em suas escolhas. Acho que a musa de Solano foi seu ideal de uma sociedade mais justa para todos, especialmente os afro-descendentes e não apenas para os que possuem dinheiro e podem compra-la.

Ah, esse poema, que eu decidi postar porque não achei ele em nenhum outro lugar da net, se encontra, conforme consta na referencia no livro "O Poeta do Povo", que foi lançado em 2008 em comemoração ao centenário do nascimento do poeta, nele encontramos o conjunto de toda obra literária já publicada dele, além de vários poemas inéditos.

Na minha opinião, e outras pessoas concordam comigo, o título do livro foi muito adequado e trinta e quatro anos depois da morte de Solano, ele continua incrivelmente vivo como só os artistas conseguem ser... suas idéias tem o dom da imortalidade!


terça-feira, 16 de março de 2010

Quando o Amor Chega...



Quando o Amor Chega...

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você esta esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida lhe deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela tivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que esta marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

É uma dádiva. Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Ou as vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor...


Carlos Drummond de Andrade
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Não tem jeito, eu sempre gosto desses textos românticos, sempre acho essas palavras lindas, mesmo lendo-as pela centésima vez...

AiAi!!!

Vai ver minha mãe está certa quando diz que sou uma "gordinha romântica" rsrsrsrs!!! Minha mãe é tão má!!! rsrsrs!!!