terça-feira, 24 de março de 2015

É hora de deixar os livros voarem por novas paisagens...


Tem muita gente que torce o nariz para essa ideia... Já vi posts radicalmente contra e precisei respirar fundo para passar adiante sem passar um texto que a pessoa simplesmente ignoraria.

Mas quem pratica uma vez o bookcrossing sabe o quanto a pratica é construtiva.

Talvez deixar um livro em um banco do ônibus, praça ou mesa de um restaurante não mude o mudo, mas muda a mim e eu aposto na ideia.

Um livro na minha estante é só um livro na minha estante, um livro na mão de uma pessoa é um mundo se abrindo para ela!

Caso você não goste da ideia de deixar um livro seu em um lugar público, mas ache a ideia da doação legal, existe uma infinidade de opções, da uma olhadinha lá no LUZ DE LUMA, YES PARTY!  e se inspire!

sexta-feira, 20 de março de 2015

Privilégios, vitimização e busca por direitos...

Minha religião ensina que devemos ter cuidado com o que vemos e ouvimos, pois muitas vezes acontece daquilo que foi visto e ouvido encontrar lugar na cabeça, descer ao coração e nos envolver em um estado de urgência de ação. Ontem a noite eu vi e ouvi em um vídeo coisas que desceram ao coração... e putz ou eu falo sobre isso ou surto!

O vídeo, postado no facebook, documenta uma intervenção feita por estudantes em uma aula na USP feita por alunos e alunas para falar sobre as questões raciais na universidade. A intervenção virou uma calorosa discussão sobre direitos e privilégios... Nossa, tanto o rapaz que gravou quando o seu companheiro deram um doloroso espetáculo de incompreensão.

Cá está o link do vídeo: LINK DO VIDEO

Agora vem meu desabafo. Ele foi escrito no calor do momento ao som de Nação Zumbi, esse post pode ter ficado longo!
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Tem gente que não quer saber mesmo dos problemas enfrentados por quem é pobre... Eles não entram na favela, quando passam pela esquina dela e nem olham para o lado, estão pouco se importando com o que acontece além da curva da avenida que leva a periferia mais próximas, a menos, claro, que haja diversão ou disponibilidade para um trabalhinho muito mal pago.

Uma considerável parte das pessoas além dos muros invisíveis da favela, não entra na curva que leva a ela e não quer ver a periferia passar pela curva que leva a vida delas com qualquer intuito além do de servir e obedecer. Estão do lado de lá e nós do lado de cá e querem que fique assim.


Nossas dores não importam, nossas dificuldades diárias não importam, nossas lutas não tem relevância.

Ulisses Tavares escreveu:

"Tem gente passando fome. 
E não é a fome que você imagina entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio. 
E não é o frio que você imagina entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança. 
Mas não é o desalento que você imagina entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos. 
E não são os cantos que você imagina entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda. 
E não é aquela que você imagina entre a escola e a novela.
Tem gente que existe e parece imaginação.”

Ulisses, tem tanta gente que não sabe, não quer saber, e tem RAIVA, NOJO e MEDO de quem sabe! E essa gente raivosa, enojada e medrosa quando vai a rua estragar panelas produz cenas que recebem a legenda de "Protesto Pacifico" ou "Simbolo de Maturidade Democrática". Quando quem sabe e não aguenta mais ficar calado vai a legenda é "Atrapalhando o Transito" ou "Vandalismo". Ulisses, tem gente que existe e parece pesadelo.

Paulo Freire escreveu:

"A FOME diante da FARTURA é uma IMORALIDADE."

Paulo, nosso mundo é imoral! Nós estamos ficando fartos disso! Todos os dias mais e mais fartos! Temos direitos e queremos vê-los deixarem de ser  papeis pintados com tinta.

E eu, fico PUTA PUTA PUTA PUTA PUTA PUTA PUTA PUTA PUTAAAAAAAAAA... MIL VEZES ENSANDECIDA quando pessoas acusam negros, mulheres, crianças abusadas, homossexuais, trans (especialmente as mulheres trans),  favelados de estarem se vitimizando.

Tenho vontade de gritar:


"Parceiro, nós não nos vitimizamos, nós somos vitimas! Existe diferença!

Parceiro, nós somos roubados desde o dia que nascemos em maternidades lotadas com nossas mães passando por violência obstétrica!


 Quando alguém abre sua carteira e percebe a falta de algo, aquilo que  lhe falta grita Parça!"

Contemplo absurdada como parece haver uma infinidade de pessoas incapazes de perceber a diferente entre o vulgar "coitadismo" e esse sentimento de ter sido vitima de situação desleal como o roubo da dignidade intrínseca a todo ser humano.

Como a Katherine Boo percebeu quando entrou em Annawadi, uma favela próxima do moderno "Aeroporto Internacional de Mumbai", na Índia, nós estamos "Em busca de um final feliz".


Porém, para aquelas pessoas com dificuldade de compreensão em relação a essa obviedade, sempre se pode repetir o poema "Anti-evasão" do cabo-verdiano Ovídio Martins:

"Pedirei
Suplicarei
Chorarei
Não vou para Pasárgada
Atirar-me-ei ao chão
E prenderei nas mãos convulsas
Ervas e pedras de sangue
Não vou para Pasárgada
Gritarei
Berrarei
Matarei
Não vou para Pasárgada"

Nós as convidamos pra ouvir "O canto da Liberdade" ouvido por Solano Trindade há uma centena de anos atrás:

"Ouço um novo canto, 
Que sai da boca, 
de todas as raças, 
Com infinidade de ritmos... 
Canto que faz dançar, 
Todos os corpos, 
De formas, 
E coloridos diferentes... 
Canto que faz vibrar, 
Todas as almas, 
De crenças, 
E idealismos desiguais... 
É o canto da liberdade, 
Que está penetrando, 
Em todos os ouvidos..."

E caso elas tenham uma dificuldade existencial para a compreensão desse tipo de literatura sempre se pode, para não deixar duvidas em suas cabeças, invocar a fala da Pitty:

domingo, 15 de março de 2015

Para Sir Terry Pratchett

"Sir Terry Pratchett,

Obrigador ter sido meu autor favorito durante todo esse espaço de tempo confuso entre meus 20 anos e os 30. Por ter me feito sorrir aquele sorriso da cumplicidade. Todos dizem que eu não sei brincar, mas ler seus livros para mim é uma brincadeira deliciosa.

Obrigada por me fornecer uma forma inusitada, sarcástica, acida e ao mesmo tempo humorada de ver o mundo.

Obrigada pelo "Mundo do Disco", Discworld. Pela versão mais avacalhada, mordaz e inteligente do Apocalipse de "Belas e Precisas Maldições". Pelas melhores bruxas já inventadas! Sempre achei o senhor um grande feminista ;) ! Estou sempre tentando seguir os conselhos de Vovó Cera do Tempo, gostaria de ser mais como a Tia Ogg, mas sou muito Magrete, ainda tentando descobrir "o que é real, o que não é real e qual a diferença".

Obrigada, por ter sido, e ser, através de seus livros, um companheiro nos meus sofríveis passos no quase insuportável mundo dos adultos.

Tem sido um prazer conhecer um autor tão maravilhoso assim! Costumo indicar a meus amigos e alunos os seus livros, muitas vezes inicio minhas aulas com uma frase sua, meus alunos costumam saudar meu "excelente humor matutino" com "liricas" exclamações de "Quanto otimismo professora!", mas eu não ligo, afinal, é certo:

"Se você confiar em si mesma...
– ... e acreditar nos seus sonhos...
– ... e seguir a sua estrela...
– –... ainda assim vai ser derrotada por pessoas que gastaram o tempo delas dando duro, aprendendo coisas e que não foram tão preguiçosas."

É claro que...
"As estrelas não estão nem aí pro que você deseja, a magia não torna as coisas melhores e ninguém deixa de se queimar quando põe a mão no fogo. Se você quiser chegar a algum lugar... tem que aprender três coisas. O que é real, o que não é real e qual a diferença."
E não se deve esquecer: 

"A luz acha que viaja mais rápido que tudo, mas está errada. Não importa quão rápido a luz viaje, a escuridão sempre chega antes e está a sua espera."


No 12 de Março, quando cheguei em casa, como de costume, me vi na frente do computador para contemplar as novidades do mundo. Foi nesse momento que recebi a noticia do falecimento de Terry Pratchett. Naquele momento preferi não dizer nada, mas olhando em retrospecto, ele tem sido meu autor favorito pelos últimos 10 anos. Não sou de escrever cartas a meus autores, mas não posso deixar de registrar minha gratidão pelo seu trabalho.

Pratchett escreveu mais de 70 livros, vendeu mais de 85 milhões de exemplares em todo o mundo.
Foi diagnosticado em 2007 com Alzheimer, o que não o impediu de continuar escrevendo. Ele defendia a pratica da eutanásia e em nota oficial foi dito: "Terry morreu em casa, com o gato dormindo em sua cama e cercado pela família, no dia 12 de março de 2015"

Me sinto quase criminosa por está triste, foi feita a sua vontade e definitivamente me afligia a ideia de uma mente tão incrível definhar até o limite do senilidade, porém não sei como evitar a melancolia, há mais um espaço vazio nesse mundo, eu já sinto saudades!

Enfim, acho vou imitar os estudiosos da Literatura, ter uma crise de otimismo e guardar no coração a ideia de que autores geniais, através de seus livros, encontram uma forma de eternidade.



sábado, 7 de março de 2015

De quando conheci minha amiga paratleta e tive um vislumbre de uma competição paralímpica!

Não é novidade o caráter inusitado dos encontros tornados possíveis pela internet, mas eu não canso de observar absurdada o quanto essa característica do espaço me possibilitou encontros com os quais jamais sonhei, como por exemplo esse com a Erica Ferro, minha amiga paratleta.

No final de fevereiro, a Erica esteve aqui em Recife competindo na "Etapa Norte/Nordeste do Circuito Caixa Loterias de Atletismo, Halterofilismo e Natação". Obviamente que quando uma amiga de longa data com a qual você já trocou uma "coleção de álbuns de figurinhas" vem a sua cidade você não pode deixar de ir vê-la e eu fui.


Encontrei a Erica, suas medalhas preciosas, seu afeto, seu abraço e seu delicioso gosto de sol com uma pitada de água clorada que lhe cai muito bem! E como se não fosse suficiente conhecer pessoalmente minha amiga atleta, ainda tive um vislumbre do que é uma competição paralímpica.

Para mim, atletas/paratetas sempre tiveram uma aura de mito. Minhas memórias mais antigas relacionadas a esportes vem de está assistindo competições de atletismo junto com meu pai e contemplar aqueles homens e mulheres incríveis correndo, ultrapassando obstáculos, voando com a ajuda de uma rava, saltando.

Meu pai nunca foi, e não é, um homem silencioso, mas diante desse espetáculo ele se calava, e mesmo hoje se cala. mas eu nunca tinha ido vê pessoalmente as competições acontecendo ou a figura dos atletas circulando nos ambientes nos quais a competição acontece. É um encontro impressionante e difícil de descrever sem parecer uma pessoa boba!

No país do futebol, praticar qualquer esporte que não envolva um gramado limitado por um retângulo com traves na extremidade em si já é uma rebeldia. Levar esse esporte a sério a ponto de competir em caráter regional então nem se fala. Há algum tempo, nos descaminhos da internet, encontrei uma imagem na qual se lia: "Te quiero porque tu boca sabe gritar REBELDIA" (~Mario Bendetti). Quando eu assistia os rapazes e as moças espalhados em várias atividades no  Centro Esportivo Santos Dumont do só pensava nela!


E os paratletas ainda desconstroem com suas atuações a ideia torpe de que possuir uma deficiência física ou cognitiva é sinônimos de incapacidade ou de impossibilidade.


Sempre desconfiei que existia mais de uma forma de atravessar uma piscina... Sempre desconfiei que existe mais de uma forma de nadar... Mas nunca tinha visto tantas formas juntas! É bonito de se vê e de repente a gente compreende porque os "Jogos Olímpicos" sobreviveram ao fim da crença em Zeus e no Olimpo. Espirito de vencer seus próprios limites e o prazer de contemplar as pessoas fazendo isso é impagável.


Através da convivência há muito descobri que o Brasil se destaca nos Jogo Paralímpicos, o maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas com deficiência. O site do Comitê Paralímpico Brasileiro é muito organizado, tem até um espaço dedicado a conta a história do movimento paralímpico no Brasil e no mundo para quem se interessar pelo tema.


Ah, claro que levei um cartaz para a Erica! Porque fui torcer!


Claro que ela assinou com um autografo!


Claro que ela ganhou um monte de medalhas!


E ficou chateada por perder um ouro por conta de "dezesseis centésimos".


Ah, cá está meu lindo autografo: