sábado, 14 de fevereiro de 2015

"De Profundis e outros escritos do cárcere" de Oscar Wilde


Um dia desses sai afobada de casa para entregar um documento na UFRPE, peguei o ônibus errado, ele era expresso, o motorista se negou a parar e fui parar em uma cidade vizinha. Foi nessa viagem que li "Retrato de Dorian Gray" e contemplei absurdada a genialidade de Oscar Wilde pela primeira vez na vida.

Sua intensidade emocional, sensualidade, autenticidade, coragem e poderoso poder de síntese me cativou a ponto de tornar irrelevante qualquer aborrecimento e me fez não exitar nem um pouco quando ouvir "De profundis e outros escritos de cárcere" chamar meu nome das profundezas do meu e-reader .

"De profundis..." contém cartas escritas por Wilde durante o período no qual ele ficou preso por "acusado de crimes de natureza sexual". O pai do seu amante o processou por algo semelhante a "corrupção de menores" (mesmo que o filho em questão estivesse longe de ser "de menor" na época). A carta mais pungente, cheia de sentimentos, na qual ele pega sua experiencia de dor e perda e transforma em literatura é endereçada a seu amante, que segundo a lenda foi o Lord Alfred Douglas.

Wilde e Alfred Douglas, segundo a lenda, seu amante. Disponível aqui

Como o nome sugere, o livro é profundo mesmo. Chega a ser pungente, passional e acima de tudo LINDO de todas as formas que a arte consegue ser LINDA e me peguei vivendo variadas emoções. Tanto rolando de ri (isso não é uma metáfora, eu estava deitada no chão, e não aguentei mesmo) quanto me peguei no limite da lágrima.


Gente, talvez Oscar Wilde tenha sido o protagonista de um dos maiores passa-foras já escritos na história da literatura inglesa! No minimo ele deu uma aula de como mandar alguém "procurar o seu lugar na cesta básica" com estilo, elegância e cultura erudita! 
"Pois o que pretendia provar com seu artigo? Que eu havia gostado demais de você? Os gamin de Paris sabiam disso muito bem. Todos eles leem os jornais e a maioria escreve neles. Que eu era um homem de gênio? Os franceses entendiam isso e também entendiam as características especiais do meu gênio melhor do que você jamais poderia fazê-lo. Sabiam também que muitas vezes os gênios possuem paixões e desejos curiosamente pervertidos. Admirável, mas o assunto pertence muita mais a Lombroso do que a você. Além do mais o fenômeno patológico em questão também pode ser encontrado entre aqueles que não possuem nenhum talento em especial." (Oscar Wilde, De profundis..., pag. 48)
E além disso, o recorte ainda é um documento privilegiado capaz de informar como a sociedade em fins do século XIX dialogava com a homoafetividade, vista então como "curiosa perversão" e "fenômeno patológico" "objeto de estudo" de médicos como Cesare Lombroso, um dos cientistas cujas teses mais me dão nojo por associar características físicas a tendencias criminosas (mais sobre isso clique aqui). Aliás, esse fragmento também nos diz que a homoafetividade não era um privilegio de boemias artísticas... Torna inverossímil a ideia de que antigamente foi um tempo no qual "essas coisas" não existiam entre pessoas comuns, como alguns moralistas defendem por ai.

E já que falei em história, emendo mais: é pavoroso constatar o quão pouco mudou a forma como a sociedade lida com a comunidade carcerária. A observação feita por Wilde em 1895 sobre o nosso estranho dialogo com quem comete um crime permanece atual, cento e vinte anos depois de ter sido feita.
"A sociedade, que se arroga o direito de infligir ao indivíduo os mais medonhos castigos, comete também o supremo pecado da negligência ao não perceber as consequências de seus atos. Depois que o homem cumpre a sua sentença, ela o abandona, isto é, ela o deixa entregue à própria sorte no exato momento em que seria seu dever maior zelar por ele. Mas a verdade é que se envergonha de seus próprios atos e despreza aqueles a quem puniu, assim como as pessoas costumam desprezar o credor cuja divida n ão tenham como pagar, ou a alguém contra quem tenham cometido um ato irreparável e irredimível." [Oscar Wilde, De profundis..., pg. 65]
Todo o texto me levou aquela sensação gostosa de está diante de algo inesquecível e precioso. Cada paragrafo lido e página virada (mesmo que virtualmente) me fez sentir plena e com aquela vontade de espalhar pelo mundo meu amor a obra. Por isso, não da para fechar esse texto sem registrar algumas das minhas passagens favoritas falando sobre amor, ódio, sofrimento, lamento, perdão e superação.
"O amor é alimentado pela imaginação, através da qual nos tornamos mais sábios do que sabemos, melhores do que nos sentimos, mais nobres do que somos, capazes de ver a vida como um todo; através da qual, e só através dela, chegamos a entender os outros tanto em sua relação real quanto ideal. Só o que é superior e superiormente concebido pode alimentar o amor, mas qualquer coisa alimentará o ódio." [Oscar Wilde, De profundis..., pg. 36]
"Mas o amor não é algo que possa ser negociado num mercado ou pesado na balança de mascate. Sua alegria, como as alegrias do espírito, é sentir que está vivo. O único objetivo do amor é amar." (Idem, pg. 44).
"... se sob o aspecto intelectual o ódio é a eterna negação, sob o aspecto emocional ele é visto como uma forma de atrofia que destrói tudo, menos a si próprio." (Oscar Wilde, De profundis..., pg. 42 ) 
 "O sofrimento é um longo momento. É impossível divido-lo em estações. Só podemos registrar os seus humores e relatar suas idas e vindas." (Oscar Wilde, De profundis..., pg. 50)
 "A prosperidade, o prazer e o sucesso podem ter um caráter grosseiro e vulgar, mas o sofrimento é a mais sensível de todas as coisas já inventadas." (Oscar Wilde, De profundis..., pg. 52)
"Por essa razão, não há verdade que se comparte ao sofrimento. Há momentos em que esta me parece ser a única verdade. Outras coisas podem ser ilusões dos olhos ou apetite, feitas para cegar um e saciar o outro, mas é o sofrimento que tem construído os mundo, há sempre dor no nascimento de uma criança ou de uma estrela." (Oscar Wilde, De profundis..., pg. 70).
"Lamentar as experiencias vividas é uma forma de impedir o próprio desenvolvimento. Negá-las é colocar uma mentira nos lábios da própria vida. É nem mais nem menos do que a  negação da alma." (Oscar Wilde, De profundis..., pg. 64).
"Não se pode manter para sempre uma víbora presa ao seio para que ela se alimente do nosso sangue, nem é possível levantar todas as noites para semear espinhos no jardim da alma." [Oscar Wilde, De profundir..., pg. 59].
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P.S.: Christian V. Louis, não sei por onde você anda, mas lembrei muito de você quando li esse livro. Você sempre dizia que Oscar Wilde era seu autor favorito, eu entendo você plenamente agora!
Se puder, mande um sinal de fumaça qualquer dia desses tá!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pequenos prazeres do inicio do ano letivo de 2015!

A tônica do trabalho docente é a mistura das dificuldades com pequenas alegrias. Nos aborrecemos com o sistema aqui, nos encantamos com o desempenho de alguns alunos ali... Temos imensas dificuldades ali, descobrimos formas de contornar aqui... Nos vemos em um tipo de "Floresta do Alheamento" e de repente no algo do desespero encontramos uma trilha para nos levar a qualquer lugar onde há abrigo. Essa mistura de opostos e necessidade constante de superar desafios torna a profissão exaustiva, mas prazerosa também.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Descendo ao mundo...


Sempre tenho dificuldade de descer ao mundo...
Meu maior problema sempre é descer da cama...
Abrir o olho é fichinha se comparado a descer da cama...
E amanhã começa mais um ano letivo...
Ai não da para enrolar... Tenho hora fixa para descer ao mundo...
Não larguei a docência, como tive vontade.
Mas posso largar, nunca se sabe, apesar de tudo, vontade não falta...
Espero sinceramente que esse ano letivo seja melhor que 2014, embora 2014 tenha tido seus pontos bons.
Que eu e as crianças, ou as crianças e eu, saibamos enfrentar as dificuldades e percorrer da melhor forma o caminho que foi preparado para nós [tá eu preparei, mas muita coisa já estava determinada nos PCNs :p]!
Espero consegui colocar em pratica meu planejamento... e no caminho encontrar novos sonhos e desafios, continuo carente deles.

Melhor 3 que é praticamente a 1ª do ano!