segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Seis Anos

As vezes preciso escrever sobre as coisas comodas e incomodas, mesmo quando são pequenas ao ponto de se tornarem insignificantes para os outros. Um sonho, uma lembrança, um possível esquecimento, um encontro, um livro, um acontecimento corriqueiro de um dia corriqueiro de uma vida mais corriqueira ainda como a minha.

Pensando bem, desde o dia no qual o meu tio me deu o primeiro diário escrever se tornou uma necessidade existencial. O conteúdo do que escrevo aqui na maioria das vezes é uma grande coletânea de opiniões pessoais, uma grande leseira, mas eu percebo absurdada, que essa capacidade de colecionar leseiras escritas é capaz de tornar coisas pesadas como uma bigorna ficarem leves como um dente-de-leão ao vento.

E no dia 26 de Janeiro de 2014 fez seis anos desde a minha primeira publicação nessa caixa em 2008.


"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."
(Fernando Pessoa)

Quando eu comecei a escrever esse blog eu tinha esses versos na cabeça... Demorou um longo tempo desde o dia no qual eu tomei coragem e comecei mesmo a publicar o que tinha escrito, não a toa existem mais de 300 textos nos rascunhos. Mas, uma coisa é certa, já em 2008 eu pensava em fazer nesse espaço como um tipo de janela de meu quarto de dormir enquanto percebia a internet como um tipo de rua cruzada constantemente por gente.
Esse espaço é o maior reflexo do meu mundo particular, eu gosto de pensar em mim como UMA pandora. Não a única ou a primeira, apenas mais uma das muitas pandoras existentes nesse mundo. Este espaço tem sido minha caixa, ele me lançou em um exercício de auto-conhecimento, se tornou uma forma de terapia.
Obrigada a vocês companheiros e companheiros de virtualidade os quais me honram com sua leitura, paciência e comentários. Para vocês deixo os versos de William Butler Yeats:

"Se meus fossem os tecidos do céu
E os azulados bordados de ouro e de prata
E do azul escuro e fosco
Da noite a luz e a meia luz
Como um manto, eu os estenderia aos teus pés.
Mas sendo pobre, apenas tenho os meus sonhos
Eu estendi os meus sonhos aos teus pés
Caminhas devagar, porque caminhas sobre meus sonhos."
(William Butler Yeats)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Caxias do Sul e o estranho mundo da Ana Seerig [Minhas aventuras no Sul do Brasil - Parte I] #01

Há quatro anos atrás, um pouco antes da conclusão de meu curso de história, conheci uma pessoa pra lá de especial através dos descaminhos da virtualidade: a Tita Hart. A Tita é uma criatura muita apaixonada pelo Rio Grande do Sul e eu tenho a impressão que ela adotou o Sul como pátria e da convivência com ela surgiu o desejo de conhecer essa pátria.

E para completar eu adquirir um imã para gaúchos cujo auge foi conhecer a Ana Seerig, o Lucas Borba, o Pedro, entre outros guris e gurias extremamente fofos, lindos e enternecedores. Então decidi aproveitar a primeira férias de verdade de minha vida indo visitar o Rio Grande do Sul.

E vou ter de registrar que sou obrigada a concordar com a Ana Seerig, se o mundo começa em Recife ele certamente termina no Rio Grande do Sul. Eu me apaixonei de muitas formas por aquele canto do Brasil, por suas gentes e por suas histórias. Foi inesquecível! Conhecer Caxias do Sul, Nova Petrópolis e Gramado foi mágico de tal forma que não posso resumir a experiencia em um único post então tenham paciência comigo companheiros e companheiras de virtualidade. Cada cidade ganhara um post a começar por Caxias do Sul, minha primeira parada após desembarcar em Porto Alegre.

Em Caxias do Sul quem me recebeu foi a Dona Ana Seerig, a Tita me entregou nos braços dela não sem medo, afinal a Ana tem uma baita fama de má, é ariana e viciada em carteado e nós temos um talento nato para a discórdia. É fato notório e publico que entre 10 opiniões, eu e a Ana discordamos em 11. Eu temi por minha vida em Cassias, quer dizer Caxias!!! kkkkkkkkkkk

Mas, apesar de meus temores, Cassias Caxias do Sul foi perfeita! Foi muito bom passar um tempo com a Ana, ela é super fofa, querida, um pouco má, mas é difícil não se apaixonar perdidamente por ela, por sua estante de livros impressionantemente gigante, por sua cidade e as gentes que nela habitam. Cassias Caxias do Sul não é uma cidade turística, mas as pessoas de lá são impressionantemente EDUCADAS, polidas e procuram sempre mostrar a quem chega por lá o melhor da cidade.

Fiquei encantada com tudo e todos, especialmente com a mãe e o pai da Ana, como disse a ela, um dia quero cresce e me torna uma mãe tão boa quanto a dela e quem sabe no dia das mães minha filha com fama de má possa cantar algo tipo "Como é grande o meu amor por você" para mim na manhã do dia das mães.

Sim, a casa da Ana é azul Grêmio
O pai da Ana e alguns dos livros dele atrás - os olhos dele também são azul Grêmio.

O pai da Ana e a Ana gentilmente me levaram para conhecer um pouquinho de Criuva, cidade conhecida por ser o berço da música tradicionalista gaúcha.

Igreja Matriz do Espirito Santo em Criuva.

Lá fui conhecer o Monumento aos Irmãos Bertussi. Como subir e desci ai em cima é um mistério, mas o pai da Ana ficou com medo de por acaso eu quebrar o pescoço na tentativa.

Monumento aos Irmãos Bertussi, em São Jorge da Mulada, Criuva
Acabei tirando uma foto na frente da casa dos Bertussi, um espaço aberto a visitação, mas se você quiser mesmo visitar agende, porque nós não fizemos isso e ficamos só na foto da fachada.


Em Cassias Caxias mesmo, outro ponto a se visitar é o Museu da  Casa de Pedra, construído por uma família de imigrantes italianos entre o fim do século XIX e o inicio do XX possui um acervo de objetos utilizados por famílias de imigrantes em sua rotina domestica majoritariamente.


Pequena vinha plantada na entrada da Casa de Pedra



Quarto montado com objetos doados por famílias de descendentes de imigrantes.

Outra coisa que a Ana fez questão de mostrar foi a arte do italiano Aldo Daniele Locatelli impressa nas paredes da Igreja de São Peregrino, um dos lugares mais emocionantes que já tive a honra de visitar.










Ah, também tive o prazer de conhecer o Pedro, o garoto das Esferas do Dragão, que por culpa da Ana só me mostrou a Esfera de 4 estrelas e a bandana do Naruto.


Quando eu era criança achava a Felícia um personagem no minimo incomodo, sempre exagerando no amor aos gatinhos...


Ai eu cresci e virei uma Felícia... mas se olhar direitinho  da para ver que o Pedro ta rindo pacas!!!


Também teve todas as flores de Caxias:




E o momento mais emocionante da passagem por Caxias, a saber a visita ao monumento do Negrinho do Pastoreio localizado de frente a prefeitura da cidade. Eu quase morri vendo a criança lá eternamente amarrada próxima ao buraco do formigueiro, onde o senhor de engenho o prendeu. É como um triste lembrança de que no Brasil ainda existem milhares de crianças vivendo em estado de fragilidade social, exploradas até uma morte precoce.



Eu não sou de acender velas, sou protestante, mas é tão dolorosa a situação dessa criança que sei lá... Da vontade de fazer algo por ele.


E por fim, antes que esqueça, a titulo de registro, achei muito legal a escolha dessa loja:


E não posso deixar deixar nos altos desse processo que Caxias do Sul não fica por baixo de nenhuma montanha russa do mundo... Pense em um lugar cheio de ladeiras assustadoras. Pensou? Pois é, você pensou em Cassias Caxias.



____________________

P.S.1: Mi, Michele Lima para os não intimo, você tinha toda razão, a Ana é um doce, o coração dela não é pequeno, é só concentrado.

P.S. 2. Lu, eu não disse que o Desafio 12 Lugares cabia nos meus planos para 2014, ainda tenho mais algumas histórias a contar sobre o Rio Grande do Sul, mas agora só faltam 11 lugares a conhecer néh?!?


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Meu primeiro encontro com a Distopia [Desafio Calendário Literário]

Uma vez a Dama de Cinzas, disse: "Eu não estou concorrendo ao concurso da coerente do ano!" e eu adorei essa frase. Obviamente ela só poderia ser dita por uma geminiana e nela está contida uma sabedoria que só geminianas entendem. E, cito ela para introduzir a informação de que, depois de tudo, eu resolve abraçar uns desafios para 2014, e o escolhido foi o "Desafio Calendário Literário" proposto pela Lu Tazinazzo do "Aceita um Leite?".

O desafio do calendário literário consiste em ler um livro que corresponda a um tema, o de Janeiro é "Um livro de um gênero nunca lido antes" e para decidi qual seria o livro eleito bastou olhar na minha pilha de livros a serem lidos nas férias e ver o livro "A Seleção" da Kiera Cass.


A Mi, (amiga, minha alma gêmea e parceira no O que tem na nossa estante), me perguntou se eu leria essa trilogia, e como a resposta foi sim, enviou os dois primeiros livros da Kiera para mim em forma de empréstimo. Provavelmente ela tem um plano secreto por trás desse empréstimo #Oremos

Voltando a questão do desafio, a história da Kiera tem sido classificada como um tipo de "distopia adolescente" ou "feita visando o público adolescente" com personagens no máximo pós-adolescentes. Bem, esse é um gênero com o qual ainda não tinha tido nenhum encontro, então, aproveitando a oportunidade, adiantei a fila literária e li "A Seleção" da Kiera Cass.

Anteriormente já tinha lido livros hoje classificados como distopias, os lindos, fofos e inquietantes: "Admirável Mundo Novo" do Aldous Huxley e "1984" do George Orwell. Ambo foram livros capazes de mexer muito com minha cabeça aborrecente e deram uma significativa colaboração para a forma como a pessoa que sou hoje ler e interpreta o mundo e seus acontecimentos.

Capas das edições que li.

Vendo essa grande leva de distopias surgindo no horizonte literário do mundo me perguntei se elas não podiam ter um efeito semelhante. Mas lendo "A seleção" fiquei pensando que os autores de distopias feitas sob medida para adolescentes fazem com o futuro o mesmo que os autores de romance de banca fazem com o passado, ou seja, apenas usam como uma ilustração, uma forma de não colocar a história no presente colocando ela no presente.


Não é que eu não tenha gostado de ler "A Seleção", eu gostei bastante. O livro é bom, é leve, bem escrito, os personagens são cativantes [ao menos a mim cativaram] e o romance tem sido desenvolvido a contento. Me apaixonei pela America, aliás eu me identifiquei muito com ela, uma protagonista responsável, combativa [arengueira pra chuchu], tempestuosa, não esquece de seus irmãos, sabe ser amiga, ama seus pais e briga muito com um deles. O Maxon e o Aspen, rapazes entre os quais ela divide sua afeição me ganharam lindamente, não sei qual dos dois levaria para casa [será que dava para ficar com os dois?]. Se ela brigasse com o pai, fosse baixinha, gordinha e usasse óculos era uma replica minha na idade dela.

A Kiera foi, na minha opinião, competente no quesito construir personagens cativantes capazes de te levar a ler o livro 2 e o 3. Porém, no quesito construção de um futuro para o nosso presente ela não foi nada bem, a história tem muitos furos e é tão rasa a ponto de nas estradas do Brasil existirem poças d´água mais profunda que essa distopia.

Quando você pensa que ela vai problematizar alguma coisa em relação aquele futuro, ela simplesmente da um passo para trás e foca nos problemas românticos da America;  é uma autora quase ingenua na forma de abordar como as sociedades e culturas se constroem e se transformam ao longo do tempo, ou como as pessoas reagem a esses movimentos e transformações; e, por fim, ela nem de longe, muito longe, longe mesmo, flerta com a ficção cientifica, coisa no minimo fundamental para quem constrói uma história no futuro do nosso presente.

Eu estou aqui tentando descobrir o pior: surtar com romances históricos nos quais o passado emerge como um tipo de presente vestido com roupas velhas e sem internet ou distopias nas quais o futuro emerge vestido com roupas mais velhas ainda e também sem internet? E o que esperar do steampunk? Será que vou ter dois troços lendo steampunk? #QuestõesExistenciaisDeLeitora #EstouSendoChata

Comparado com o século XIX e a primeira metade do século XX, na minha opinião, os autores desse inicio de século XXI tem deixado muito a desejar em relação ao dialogo com o passado e o futuro, apesar de temos infinitamente mais recursos tecnológicos e possibilidades de obter informações. Sinceramente [odeio admitir isso], começo a pensar na possibilidade de meu pai está certo quando diz: "Para que carrão se um fusca resolve.". E como diria o Seu Calisto de "O cravo e a rosa": os ossos dos pais da ficção cientifica e da distopia devem está batendo em seus túmulos a cada lançamento desses.

Será que todas são iguais?
Bem, talvez eu esteja sendo precipitada no meu julgamento, talvez deva experimentar mais o gênero, mas, aparte isso, cá está minha participação no "Desafio Calendário Literário de Janeiro, abordando "Um livro de um gênero nunca lido antes" proposto pelo blog "Aceita um leite?"



sábado, 11 de janeiro de 2014

Fazendo turismo na própria cidade.

Existe uma lenda urbana que diz: "Todo recifense é bairrista!". Particularmente eu não sei se essa lenda é verdadeira ou falsa, mas sei de uma coisa: eu sou bairrista. Então, desfrutando das minhas férias não podia deixar de separar um dia para fazer turismo nos espaços disponíveis aos turistas no Marco Zero da minha querida "Veneza Pernambucana".

Então junto ao Alexandre, embarquei na aventura de ir ver a exposição "Marianne Peretti - 60 anos de arte" na Caixa Cultural Recife. Nessa exposição a gente pode ver pequenas obras da autora e inúmeras fotos, tiradas originalmente para o livro da artista com destaque para a sequência de imagens da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, conhecida como a Catedral de Brasilia, porque a Marianne foi uma das pessoas que se envolveram no projeto da capital do Brasil junto com o Oscar Niemeyer.

Sei lá, se um dia eu poderei ir a Brasilia, na dúvida ao menos queria conhecer algo sobre a cidade sem ir a cidade e não me arrependi nem um pouco.





Eu não sou bem uma especialista em arte, mas adorei as curvas que existem em tudo que a Marianne Peretti criou e estavam expostas ali.




Além da exposição da "Marianne Peretti", estava exposto a videoinstação "Insustentável Leveza" da Giovana Dantas e claro que algo feito tendo como referencia o meu muito amado Milan Kundera não poderia deixar de ser lindamente visitado por minha pessoa. A videoinstalação é composta por sete trabalhos que fazem uma metáfora da relação peso e leveza coexistindo na vida cotidiana. A Giovana tentou explorar os movimentos produzidos pelo vento e água em objetos e me encantou. De alguma forma ela enxerga o mundo através de um filtro com o qual me identifiquei.

Até meu amado Van Gogh estava lá, só para da uma ideia do nível de identificação.

Van Gogh e o vento, animação da obra "Le Moulin de la Galette" de Vicente Van Gogh
Tem um vídeo mostrando o balançado de um tecido que cobre um prédio em construção. Quantas vezes em minha vida não me peguei parada observando esse tipo de coisa solitária no meio do caos do Recife... Essas pedras evoluídas construídas com a força de pedreiros suicidas pesam com o peso do mundo, mas o véu que as cobre é leve e flutua com vento de um dia nublado. #Amei

Insustentável Leveza II
E o que dizer de um vídeo com as sombras do rodar das elicies de um catavento no qual um jogo de luz mistura a nossa própria sombra?

DESIGUAL-EM-SI: ALGO SOBRE O TEMPO
Enfim,  adorei como a Giovana brincou com a "Insustentável Leveza" que há nas coisas pesadas. Ela conseguiu provocou inúmeras reflexões.

E para completar o passei, eu o Alexandre aproveitamos a beleza da Praça do Marco Zero de Recife.



Fachada do Caixa Cultural Recife
 

Meu querido Ascenso Ferreira


Está escrito: "Deste Marco Partem as distancias para todas as terras de Pernambuco", mas deveria está "do mundo".
Aproveitando demos uma passada "Centro de Artesanato de Pernambuco no Recife", um espaço no qual o artesanato tem um preço salgadinho, mas tem a vantagem de ser climatizado, organizado e oferecer peças "realmente artesanais" se é que vocês me entendem. Inclusive todas as peças vem com o nome do artesão ou artesã, telefone e derivados e isso compensa o preço nada camarada.


Ah, o que comprei no Centro de Artesanato foi para presente e já foi embrulhado, mas deixo a fotinho das coisitas que eu e o Alexandre acabamos resgatando na livraria e o catalogo da exposição da Giovana Dantas.