sábado, 21 de setembro de 2013

Literatura de Cordel, Conan Doyle e questões de bairrismo.


Uma das coisas mais características da cultura nordestina é a tal da literatura de cordel, ou seja, os benditos textos escritos em versos, sextilhas, impressos em papel comum, cuja capa quase sempre é uma xilogravura - figura feita na madeira - e vendidos nos mercados públicos pendurados em uma cordão. Reza a lenda que o nome cordel deriva justamente do fato deles serem vendidos pendurados em cordões.

Ainda "segundo a lenda" os cordéis podem ser considerados sobreviventes, pois surgiram no século XVI quando relatos orais passaram a ser transpostos para a o terreno da escrita. Eles existiram com nomes diferentes e características semelhantes em vários lugares da Europa - Holanda, Itália, França, Portugal e Espanha - e quando os europeus atravessaram o Atlântico vieram com eles e cá estão até hoje, firmes e fortes como uma forma de contar todo tipo de história no Nordeste do Brasil.

Como boa nordestina, tenho minha coleção de cordéis abordando desde "As ignorâncias de Seu Lunga" até a "Revolução Francesa", o "Mito da Caverna" entre outros. Considero esse tipo de narrativa um mega-plus-ultra sobrevivente. Houve um tempo no qual as pessoas ditas eruditas pensavam que existia uma cultura popular inferior a cultura erudita e constantemente em crise e correndo o perigo de sumir. O cordel é uma prova de que a cultura popular não é inferior e é mega resistente, ele sobreviveu a passagem dos europeus pelo Atlântico, a rígida política de censura as letras característica da administração colonial portuguesa, a industrialização e ao raio que o parta.

Pois é, mas levando em conta o titulo do texto, vocês podem me perguntar: "O que raios isso tem  haver com o autor de Sherlock Holmes?".


Bem, não é segredo para as pessoas com as quais compartilho experiencias de leitura o meu desagrado para com os romances policiais e derivativos. Então, no ultimo sábado quando estava na Livraria Cultura na companhia da Michele e da Aleska me deparei com uma edição mega especial do livro "Um estudo em vermelho"  no qual Conan Doyle apresentou ao mundo lá pelas voltas de 1887 o seu brilhante Sherlock Holmes. Eu, com toda a minha chatice, olhei para o livro e ignorando tudo o que há de especial nele disparei:


"Hum... Romance policial tem uma formula tão batida!".

E a Dona Prefeita Michele respondeu com um golpe mortal:


"Então Dona Jaci o cordel é um sobrevivente e o romance policial uma formula batida... Quanto bairrismo!!!"

Juro que não me aguentei!!! Na hora eu ri, lembrando agora to rindo novamente! Realmente eu sou uma criatura muito bairrista e como tal, parcial em minhas analises! #ProntoConfessei #MeJulguem Não a toa, depois dessa pisa verbal da Michele peguei a edição do "Um estudo em vermelho" e resolvi trazer para a minha estante. Não tinha como não comprar, apenas a visão dele já me leva a recordar a situação e repensar minha visão de mundo. E sim, apesar de não acreditar em signos, sou geminiana demais para resistir a uma possibilidade de repensar qualquer coisa.

E falando em bairrismo, impossível não citar o último podcast das Meninas dos Livros, o tema foi "Personagens com os quais nos identificamos", eu escolhi falar da Elizabeth Bennet do livro "Orgulho e Preconceito"; mas também falamos sobre a Lou Calabrese personagem do “Ela foi até o fim” da Meg Cabot; da Daenerys Targaryen do “As Crônicas do gelo e fogo” e do Floriano Cambará personagem do livro “O Arquipélago” de  Érico Veríssimo. Nesse cast eu não resistir a tentação de alfinetar o bairrismo gaúcho e tal alfinetada rendeu um debate quase sem fim no face. No final das contas, entre mortos e feridos salvaram-se todos e eu aproveito o ensejo para deixar o link do cast por aqui caso alguém queira ouvir a nossa tagarelação.



6 comentários:

  1. Lembro de um professor falando de panfletos revolucionarios feito de cordel na França. Ele chamou de literatura azul tb. Acho que vc fez um post muito curto. Dava pra aprofundar a questão kkkk brincadeira, mais fundo q isso e teriamos nova discussão.

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  2. Oi flor!

    Que delícia seu post!

    Sou pernambucana e tenho um orgulho danado das raízes nordestinas e também confesso que vez outra o bairrismo encosta aqui em casa, hahaha.

    Lembro de um professor de literatura que colecionava a Literatura de cordel. Morria de rir com alguns textos, principalmente o personagem de seu Lunga : )

    Beijos!

    Selma

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  3. Oi, Pandora!
    Não sou nordestina, mas sempre admirei a cultura nordestina e dela, a literatura de cordel (aprendi aqui sobre a origem nos cordões).
    Adorei saber da conversa na livraria:'literatura de cordel X romance policial' rsrsrsrs
    Adorei o post!

    Abração
    Jan

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  4. Velho, quando li "bairrismo" no título do post, eu já quis rir. Lembro do "furdunço" que deu sobre o seu comentário no podcast do Meninas, afinal o MEU comentário foi o grande causador de todos os males. Mas enfim...
    Que post massa sobre cordel! Adorei!
    O cordel nordestino é tão rico, a linguagem é tão única, tão nossa. Eu acho-o encantador.

    E Conan Doyle? Adoooooro ♥! "Um estudo em vermelho" é o primeiro livro no qual Holmes aparece. A estória é sensacional. Eu fiquei li o livro rápido, tanto porque era um romance policial, mas sobretudo porque era Conan Doyle, era o primeiro livro em que Holmes aparece etc e tal. E é um ótimo romance policial, no qual Holmes começa a mostrar as suas genialidades.
    Conan é genial. Sou fã!

    Sacudindo Palavras

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  5. Você fez uma salada de frutas, do tipo tudo junto e misturado. O resultado? Um texto delicioso, que a gente saboreia com prazer.

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  6. Nunca deixem de apimentar bastante os debates literários de vcs, porque confessando o maior interesse, a gente é que ganha com isso através de posts como este, cheio de narrativas envolventes e dicas maravilhosas;delas só li O Arquipélago, mas vou atrás do "Um estudo em Vermelho".
    Bjkas,
    Calu

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