sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sobre "O pequeno Príncipe", o ato de cativar e a Responsabilidade!


"O Pequeno Príncipe" é um livro lindo, daqueles que a gente nunca esquece, e eu me apaixonei por ele, como quase todo mundo que já leu essa velha história.

Essa semana uma prima minha me mandou essa imagem com essa frase pelo orkut, é aquela coisa: a mensagem é linda, poética e tudo e tal, mas... de repente, não mais que de repente me ocorreu um pensamento estranho. Me peguei pensando que esses dois, Raposa e Príncipe são um bom par de gente "sem noção".

Vê só:

"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o Príncipe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho."

O Príncipe não só conversa com uma perfeita desconhecida como convida ela para brincar com ele. Não, ele não tem noção do perigo! Obviamente a mãe dessa criança nunca disse a ela que não se pode falar com desconhecidos. Isso para não falar que ele leva um belo fora e ainda pede desculpas.

Mas, não, não é apenas o Príncipe que é dado a atitudes "sem noção" nessa história! A raposa é uma tola em potencial. Francamente se deixar cativar por pessoas que a gente convive e conhece já não é uma coisa muito segura, visto que pessoas tendem a ser traiçoeiras, malvadas, egoístas e cruéis inclusive com seus entes queridos, imagina o nível de insegurança que existe em se deixar cativar por uma pessoa vinda sabe Deus de onde? Eu ia dizer que ela é temerária, mas temerária pra ela é pouco.

Olha o dialogo:

"- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia: 

- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...

A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:

- Por favor, cativa-me! disse ela."

Outra coisa que me ocorreu é essa coisa de responsabilidade. Sempre digo que quem me ensinou sobre RESPONSABILIDADE foi minha avó materna, Mãe. Com Mãe aprendi que ser responsável pelo outro não é uma tarefa fácil, pois isso tem haver com está presente, com amparar, cuidar, vez ou outra custear.

Responsabilidade é algo que as pessoas não gostam de ter em relação ao outro, porque isso enfada. Desconfio que ninguém consegue ser responsável o tempo todo, acho que nem mesmo as mães podem ser constantemente responsáveis por seus filhos.

Refletindo sobre esses trechos do Pequeno Príncipe e a forma arriscada através da qual a Raposa e ele constroem seu vinculo de amizade percebo que no mundo de hoje, no qual a virtualidade se tornou uma forma de relacionamento, todos nós desenvolvemos a tendencia de nos portarmos como esses dois.

De repente nós esbarramos em um desconhecido pelos mares de facebooks, orkuts, blogs, yahoo perguntas e respostas, olhamo-nos sem nos ver ou nos vemos sem nos olhar, e decidimos nos tornar amigos daquela pessoa que nós nunca vimos tão gordas ou tão magras em nossas vidas. A despeito do nosso total desconhecimento sobre essas pessoas, nós nos envolvemos com elas, abrimos nossa intimidade sem medir as consequências e não paramos para perceber que a história do Pequeno Príncipe pode ser muito lirica, mas a realidade por vezes não tem lirismo nenhum.

E brincando de pensar começo a ponderar que talvez seja uma boa ideia exercitar a prudência e deixar de sair por ai dando uma de Raposa em um mundo no qual faltam Pequenos Príncipes.

E sim, a proposito de toda essa reflexão tortuosa, especialmente para alguém como eu dada a abraçar calorosamente qualquer um que me abrace, sempre considero valida a observação do bom e velho Saint Exupery, só consigo conhecer o que cativo e o preço de uma amizade é sempre a perpetua responsabilidade.

"- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade. - Disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. 'Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.'."
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P.S. 1: Enquanto estava terminando de escrever esse texto em Agosto de 2011 comentei com mainha essas ideias e ela disse que eu "só falo, penso e faço besteiras" kkk... É verdade.

P.S.2: Resolvi tirar esse texto da gaveta e acrescentei a ele outras reflexões depois de um pequeno debate com o Christian V. Louis, um de meus companheiros de virtualidade, a cerca de prudencia em relação as amizades construídas a partir dos mares da virtualidade.

P.S. 3: Hoje Mainha não diz mais que "só falo, penso e faço besteira". Ela se sente menos desconcertada com minhas opiniões sobre a vida e eu também sou mais generosa comigo mesma... O tempo ajusta muita coisa.

15 comentários:

  1. Creio que poucas pessoas tiveram a mesma percepção que a sua e a maioria deixou passar batido.
    Os pais que incentivam seus filhos a leitura usam esta obra, que não deve ser desmerecida, é interessante, com a intenção de passar certos valores, porém, como nem tudo é perfeito, alguns valores passados neste livro são abertos a questionamentos.
    Sendo ou não ficção, é preciso cuidado com alguns detalhes principalmente quando se escreve ao público infanto-juvenil (embora tal obra seja admirada por todas as idades, a direção é para este público) e realmente, eu admito que não tive este seu senso crítico sobre este importante detalhe da criança falar livremente com alguém completamente desconhecido.
    Outra coisa que você observou sobre a atitude dele foi de ele levar um fora e ainda pedir desculpas. Isto serve para todos, sem distinção de idade, nunca se deixar permitir que lhe joguem alguma culpa e você desculpar-se por algo que não tem que ser desculpado.
    Quanto a raposa, minha opinião se divide entre ser alguém carente, visto que ela afirma que sua vida é uma monotonia e isto vem de encontro com o que debatemos sempre sobre como as pessoas atuam no mundo virtual, expondo a si e aos seus, por carência de holofotes, (como comentou uma parceira em meu blogue) e vem de encontro com meu último post.
    Mas também, minha opinião se divide se, por viver nesta monotonia, olhando pelo prisma do comportamento das pessoas no geral, a raposa não seria uma grande manipuladora.
    Eu enxergo nesta frase destacada em vermelho, tão idolatrada por muitos, uma forma de manipulação.
    Eu não acredito nesta responsabilidade Pandora, nem mesmo com amizades. Eu limito o me tornar "eternamente" responsável por aquilo que cativo quando o ser que cativei seja alguém sem defesa, como um animal (se eu adoto, serei responsável eternamente pela vida dele, isto sim, acredito ser minha obrigação) ou uma criança, pois tenho consciência que é na infância que muitos princípios se aprendem e certos traumas custam a se superar e até mesmo não se superam.
    Eis aqui o meu limite.
    Canso de ver marmanjo postando esta frase seja para amigos, seja em seus blogues para seus parceiros como se nós tivéssemos que ter alguma responsabilidades por eles.
    Uma pessoa adulta já sabe muito bem o que faz e se deixa cativar se quiser. Se for uma sem noção, não é responsabilidade de ninguém! Nem do psicólogo, pois ele não é um amigo, é um profissional que cobra (e caro!).
    Pessoas precisam deixar esta mania de dar ênfase a esta frase para lançar a responsabilidade que só cabe a si, aos outros, fazendo uso dela. Pois depois de crescidos, somos os únicos responsáveis por nós mesmos e não vejo esta frase sendo proferida por um adulto sem os olhos da manipulação.
    Somos responsáveis pelo que fazemos, não devemos prejudicar ninguém, como mencionei em meu post, contanto, "tornar eternamente responsável" pela vida de uma pessoa já criada e com noção de certo e errado acredito ser um pouco demais. E, se esta pessoa não tem noção do que seja certo ou errado, tampouco. Não é um problema meu. Eu procuro não permitir que as pessoas se cativem, se elas consideram-se cativadas por mim, não é minha culpa. Nunca dou esperanças de amizade a ninguém (principalmente no meio virtual, sempre deixei isto muito claro!) e não sinto que seja justo alguém se tornar responsável por uma eternidade pela vida de outra pessoa, quando mal nos damos conta da nossa própria. É pedir demais, é manipular, eu não encontro outro termo para esta afirmação.
    E o próprio autor deixa o alerta: "A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar". Eu acrescentaria que, como debatemos aqui principalmente a virtualidade, corre o risco de chorar muito e até mesmo ter sua imagem arruinada pro resto da vida.
    Cautela e coragem de assumir o que faz, o que se deixou levar sem jogar nas costas de alguém o que você idealizou, creio que sejam os focos principais deste post tão bem escrito.
    Meus parabéns Pandora, que o mesmo leve muitos a reflexão.

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  2. Li o Pequeno Príncipe já adulto, e foi uma das melhores leituras que já fiz. O livro é doce, terno, ao mesmo tempo que nos ensino muito sobre a vida e o mundo lá fora, e sim, chorei. Seus questionamentos fazem todo sentido, o mundo virtual vem substituindo o real de um jeito assustador, às vezes vejo mais meus amigos de infância, que moram a um quarteirão daqui, pela internet que cara a cara. lembrando agora, nem sei quando foi a última vez que fui até a casa dele. são mesmo tempos estranhos.

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  3. Não canso de ler as coisas que vc escreve, é sério.
    Eu amo esse livro e a pesar de ele já ter me feito refletir muito sobre muitas coisas, eu nunca tinha pensado nesse ponto, muito interessante.
    Realmente amei esse post.
    Beijo

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  4. Pois Jaci, vc é responsável por ter me cativado! Agora asssume a sua responsabilidade!!! rsrsrsrs

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  5. Uma ótima análise e um belo assunto para reflexão...
    Realmente conhecemos nossos conhecidos e pessoas mais íntimas?
    Geralmente eu confio muito mais em quem não conheço para contar as coisas que sinto e é claro conto apenas o que quero que seja contado.
    E o texto do Christian está belíssimo e tão profundo quanto essa análise que está fazendo.

    Vi o presente do texto anterior, mas como tá difícil de comentar pelo celular daqui deixo aqui meus parabéns pelo Banner...

    Beijos!

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  6. Olá Jaci!

    Este mundo virtual nos fascina, nos envolve a ponto de mesmo sabendo que é uma amizade virtual, consideramos os que por aqui encontramos como sendo estes moradores da mesma rua em que moramos desde os nossos tempos de infância e ali construímos a nossa amizade.

    Abraços Jota.

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  7. Eu não fui nada prudente com vc rss já sai te dando meu endereço pra vc me mandar os dvds da jane rsss. Agora eu vou discordar de vc em um aspecto. EU odeio essa citação do Saint Exupéry: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Uma amiga vivia repetindo isso pra mim e acabei enjoando dessa ideia, mas tb discordo dela. às vezes cativamos pessoas sem nenhuma intenção, apenas por sermos nós mesmos. Seria minha responsabilidade as merdas que ela fizesse através do meu exemplo? Acho que não. Se assim fosse teriamos que considerar que as pessoas são estúpidas a ponto de não discernir entre o certo e o errado. Sem falar que não é culpa da pessoa que termina um namoro(por exemplo) se o parceiro resolveu q seu mundo acabaria se a outra e por isso resolveu se matar. Fala sério. Acredito que só somos responsáveis com a influência que exercemos sobre as crianças, ou se agimos de má fé querendo nos aproveitar de pessoas fragilizadas.

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  8. Menina, como eu admiro esse teu olhar atento. A cada dia mais te identifico com aquele poema do Affonso Romano de Sant'anna:
    "Erguer a cabeça acima do rebanho
    é um risco
    que alguns insolentes correm.

    Mais fácil e costumeiro
    seria olhar para as gramíneas
    como a habitudinária manada.

    Mas alguns erguem a cabeça
    olham em torno
    e percebem de onde vem o lobo.

    O rebanho depende de um olhar."

    Muito bons os pontos de vista levantados por ti, pelo Christian...
    E me identifiquei com a Iza... também prefiro falar as coisas com pessoas que não conheço tanto.

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  9. Adoro o Pequeno Príncipe. Elas tão percepções muito doces sobre a amizade. Realmente se debruçar sobre ele com um olhar crítico há de se encontrar alguns deslizes, como esse da criança ter falado com um desconhecido. Mas mesmo assim a obra é maravilhosa e gostosa de se ler.
    bjus,

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  10. Ola Pandora,
    Que bela reflexão fez em cima de um clássico, contextualizando para o nosso cotidiano atual. Seria muito bom pais e educadores prestarem mais atenção em situações similares, pois o tempo pode deturpar uma obra já conceituada, e o que era pura inocência se torna perigoso e extremamente irresponsável, afinal que mãe aprovaria uma amizade com a descrita no livro?

    Adorei.

    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Crítica <--

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  11. Jaci, se formos analisar tudo ao pé da letra, nem leríamos nada, né? Uma grande brincadeira vc fêz, com muito brilho.
    Bj

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  12. Jaci o Príncipe é pequeno uma criança, vai crescer e aprender a caçar raposas...rsrsr
    Abçs

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  13. Sua mãe disse que vc só fala, pensa e faz besteira? Bem, se eu tivesse sua idade, minha saudosa mãe diria o mesmo a meu respeito.

    Amizades virtuais... bem mais perigosas que amizades reais. Todo cuidado é pouco.rs

    Eu tenho um amigo oculto, tão oculto, que ainda não o conheci e, tenho certeza, que nunca o conhecerei. rs

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  14. kkkk... Já que vc sempre gostou do "Pequeno Príncipe" essa sua reflexão me surpreendeu e me fez refletir tbm. Vc não deixa de ter razão se levarmos o "Pequeno Príncipe" ao pé da letra. Mas devemos ver como o livro "Pollyana" que tbm me marcou muito, mas não dá de tirar coisas boas de tudo como ensina o livro. Muitos acontecimentos temos q deixar nas mãos de Deus e confiar. Esses livros são contos infanto/juvenis para nos dar uma noção de direção apenas, como uma parábola. Devemos ser responsáveis pelo que cativamos, mas na medida q essa pessoa está dependente de nós na real. Tbm mostra como é cruel conquistarmos a estima de alguém e depois a deixarmos de lado por pecuinhas. E assim vai, mas creio q vc sabe disso, né?
    Muito legal esse post. Nunca havia refletido tudo q vc expôs nesse texto.
    Beijinho e muita paz...

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