segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Imaginemos uma fabulazinha onde o herói seja um certo urbanóide pós-moderno: você.


Ao acordá-lo o rádio-relógio digital dispara informações sobre o tempo e o trânsito. Ligando a FM, lá está o U-2. O vibromassageador amacia-lhe a nuca, enquanto o forno microondas descongela um sanduíche natural. No seu micro Apple II, sua agenda indica:

”REUNIÃO AGÊNCIA 10h
TÊNIS CLUBE 12h
ALMOÇO
TROCAR CARTÃO MAGNÉTICO BANCO
TRABALHAR 15h
PSICOTERAPIA 18h
SHOPPING
OPÇÕES: INDIANA JONES – BLADE RUNNER, VIDEOCASSETE ROSE, SE LIGAR
SE NÃO LIGAR, OPÇÕES: LER O NOME DA ROSA (ECO) – DALLAS NA TV – DORMIR COM SONÍFEROS VITAMINADOS”.

Seu programa rolou fácil. Na rua divertiu-se paca com a manifestação feminista pró-aborto que contava com um bloco só de freiras e, a metros dali, com a escultura que refazia a Pietá (aquela do Miguelangelo) com baconzitos e cartões perfurados. Rose ligou. Você embarcou no filme Indiana Jones sentado numa poltrona estilo Menphis – uma pirâmide laranja em vinil – desfiando piadas sobre a tese dela em filosofia: Em Cena, a Decadência. A câmara adaptada ao vídeo filmou vocês enquanto faziam amor. Será o pornô que animará a próxima vez.

Ao trazê-lo de carro para casa, Rose, que esticaria até uma festa, veio tipo impacto: maquiagem teatral, brincos enormes e uma gravata prateada sobre o camisão lilás. Na cama, um sentimento de vazio e irrealidade se instala em você. Sua vida se fragmenta desordenadamente em imagens, dígitos, signos – tudo leve e sem substância como um fantasma. Nenhuma revolta. Entre a apatia e a satisfação, você dorme.

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P.S.: Peguei esse texto a um tempo atrás, não me lembro mais de onde e achei bastante interessante, na época estava fazendo um trabalho sobre pós-modernidade e arquitetura, estou postando agora... engraçado, passei mais de um ano sem colocar nada nesse blog... acho até que havia esquecido que ele existe e agora em um dia coloco duas postagens, não sei se isso é um bom ou um mal sinal, só sei que decididamente não quero ser como a Rose dessa história, mas confesso que cada dia que passa temo por está me assemelhando ao rapaz em alguns aspectos... Bem, ao menos já li "O nome da rosa", assistir Blade Runner e conservo a crença Moderna em um único Deus... por hora isso me livra de alguns dos males da pós-modernidade!!!!

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